segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Conto: Martim pescador

Martim pescador preparou suas tralhas e mais uma vez desceu rumo ao rio para tentar buscar o pão de cada dia. Deu um beijo na esposa que estava no jirau lavando roupa, despediu-se dos três filhos que brincavam no terreiro e seguiu seu caminho.

Filho de pescador Martim seguiu os passos do pai, mas a verdade é que ele não teve muita alternativa. Não tinha estudo, se quer concluiu o ensino fundamental, trabalho por ali era difícil, por tanto se não quisesse morrer de fome tinha que apelar para o rio.

No dia que tinha sorte conseguia pegar quem sabe umas caranhas, jau, barbado, surubim - peixes que tinham bastante valor no mercado. Mas o sonho de todo pescador era pegar um filhote, como é conhecido a piraíba por essas bandas, peixe raro que tem um preço bastante elevado no mercado, para um pescador era a mesma coisa que achar ouro.

Mas nem sempre Martim tinha sorte, nesses dias se conseguisse pegar um cuiudo já estava no lucro. Não dava para vender, mas pelo menos teria o que dar para comer para sua mulher e filhos.

Logo Martim percebeu que aquele seria um dia difícil. Os peixes não estavam com muita vontade de comer, assim ele decidiu subir um pouco mais o rio, com certeza um pouco mais acima teria mais sorte. Martim crescera naquele rio conhecia muito bem o comportamento dos peixes que ali viviam. No entanto tinha um porém, a área onde Martim sabia que tinha peixe era proibido pescar. Mas para ele ou era se arriscar ou morrer de fome.

Então ele seguiu - sabia que estava se arriscando, mas valia o sacrifício ao lembrar-se do sorriso no rosto de sua mulher e filhos quando ele chegava em casa com um bom pescado.

Seu faro de bom pescador não havia lhe enganado, era de fato um pouco mais acima que os peixes estavam escondidos. Pegou três boas caranhas e dois surubins gigantes agora era hora de voltar para casa - mal podia esperar para ver a alegria de sua mulher e filhos.

Martim pescador já seguia com uma felicidade que não cabia dentro de si rumo a sua casa. Mas de repente ouve um grito.

- Ei, espera ai! Não corre não, não corre não!

- Que merda. São os home!

Martim não pensou duas vezes e correu, correu e correu sem parar, sem olhar para trás. Viu que se esperasse a policia ambiental perderia seu pescado. Além da humilhação que sofreria. Ele já havia sofrido outras vezes nas mãos daqueles ignorantes que tratavam os pobres pescadores daquele local como se fossem terríveis bandidos.

De repente um estampido. Martim sente a perna pesar, ele cai no chão, sente um gosto terrível de sangue na boca, uma ânsia indescritível percorre todo o seu corpo - esta com sede, olha para o rio, mas este esta tão longe. Sua vista escurece, tudo some, Martim esta morrendo na sua memoria ainda vem à lembrança de sua mulher, dos filhos e do rio.

Martim pescador acabara de morrer – O crime que cometera? Pescar para alimentar sua mulher e filhos. Os assassinos continuariam soltos aterrorizando os pescadores que por ali buscavam o pão de cada dia.

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.

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