As
centenas de barragens espalhadas pelo território brasileiro são
responsáveis por aproximadamente 90% da energia consumida no Brasil.
O processo de construção dessas barragens impacta violentamente o
meio ambiente e as populações atingidas por essas barragens.
Roberto
Malvezzi (Gogó)
A
resistência popular contra o projeto de construção da Usina
Hidrelétrica Monte Santo (no rio do Sono) tem conseguido impor
importantes derrotas ao hidronégocio tocantinense. E tem nos dado um
grande exemplo de como a resistência popular é fundamental para
barrar projetos que contrariam o interesse coletivo.
Dois
fatores são fundamentais para compreendermos a força do movimento
contra a construção da UHE Monte Santo: O trabalho de base –
conscientizando a população dos impactos negativos que a região
sofrerá caso o projeto saia do papel e à organização do povo
através do Movimento
não á UHE Monte Santo.
O
trabalho de base começou, sobretudo quando o Naturatins convocou
audiências públicas para discutir o projeto “UHE Monte Santo”
com os moradores dos municípios que serão atingidos. Nas audiências
públicas e através de um abaixo-assinado ficou claro que a maior
parcela da população era contraria ao projeto. No entanto mesmo
assim o Naturatins concedeu a licença ambiental para que o projeto
fosse tocado em frente pela empresa ECBrasil. Eles pretendiam com as
audiências públicas convencer a população da importância
econômica do projeto para a região. Porém como não conseguiram,
não pensaram duas vezes em passar por cima da vontade popular e
atender aos interesses do hidronégocio.
Porém
ao invés de desmobilizar o povo, a concessão da licença ambiental
pelo órgão do Estado que deveria prezar pela proteção do meio
ambiente. Serviu como lição para que a população não se iluda
com esse governo. Logo era necessário que se organizassem e se
mobilizassem mais ainda. A partir dai o movimento ganhou força e fez
importantes mobilizações, inclusive barrando rodovias para dar
visibilidade a causa. E também recorreu a outros espaços
conseguindo importantes conquistas e impondo derrotas ao hidronégocio
tocantinense. Podemos destacar, por exemplo, a decisão judicial que
cassou a licença ambiental que o Naturatins havia concedido a
empresa ECBrasil para execução do projeto.
A
decisão judicial deixou claro que o Naturatins não levou em
consideração o próprio acordo que havia feito com a população
nas audiências públicas, tomando assim uma decisão “contraditória”
nas palavras da juíza Aline Iglesias. O que para nós fica evidente
que ao tomar à decisão de conceder à licença ambiental á empresa
responsável pelo projeto da UHE Monte Santo, o Naturatins estava
atendendo interesses políticos e econômicos dos senhores do
hidronégocio no Tocantins. Com a decisão judicial favorável o
Movimento Não á UHE
Monte Santo ganhou
mais força e obteve uma vitória histórica.
Lei
transforma o rio do Sono e Perdido em Patrimônio Histórico, Natural
e Turístico.
O
projeto de lei foi aprovado (por unanimidade) pela Câmara de
Vereadores de Pedro Afonso e sancionado pelo executivo. Além de
proteger o rio do Sono o projeto também se estende para proteção
do rio Perdido. O mesmo projeto está sendo apreciado no legislativo
de Novo Acordo com grande possibilidade de ser aprovado.
Com
isso, na prática fica proibido “a submersão, alargamento dos
canais ou instalação de qualquer estrutura que regule a vazão dos
rios e altere seu regime hidrológico natural”. Ao invés de disso
será incentivado “o turismo ecológico, a prática de esportes, a
pesca esportiva e a educação ambiental, protegendo o patrimônio
natural, preservar a diversidade ecológica e a beleza dos rios e
seus afluentes, além de promover o desenvolvimento sustentável e a
melhoria de vida das populações ribeirinhas, indígenas e dos
pescadores profissionais”.
É
sem dúvidas um marco histórico na luta pela preservação do nosso
bioma natural, um marco histórico na luta em defesa dos nossos rios.
E isso é fruto da mobilização, da resistência e da luta popular.
Foi à resistência popular através do Movimento Não á UHE Monte
Santo que sensibilizou o poder público municipal da necessidade da
criação de uma legislação que torna
rio do Sono e o rio Perdido um Patrimônio Histórico que
deve ser preservado.
Mas
a luta não está ganha, projetos assim contrariam interesses de
gente muito influente economicamente, e que não ficaram de braços
cruzados. Com certeza tentaram outros meios para que seus interesses
não sejam contrariados. Logo, é preciso continuar lutando e
resistindo. E essa luta não é apenas do povo de Novo Acordo e Pedro
Afonso. Essa é uma luta de todos nós que acreditamos ser possível
um modelo de desenvolvimento que não destrua os nossos rios e nem o
nosso bioma natural. Nós do Coletivo José Porfírio desde o
primeiro momento nos colocamos contrários a UHE Monte Santo, pois
sabemos muito bem (já que fomos impactados pela construção da UHE
Luiz Eduardo Magalhães) o quão nocivo para o meio ambiente e para
população tradicional é o barramento de um rio.
Por
fim, saudamos o Movimento
Não á UHE Monte Santo,
e conclamamos a população tocantinense a seguir esse exemplo.
Precisamos nos mobilizar em todo o Tocantins não para flexibilizar a
legislação ambiental como querem alguns deputados estaduais. Mas
sim por projetos que protejam os nossos rios e os nossos biomas
naturais, transformando-os em Patrimônios
Históricos, Naturais e Turísticos.
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