– Sim, é verdade. Está marcada para o próximo domingo (03/06).
– Nossa, mais já?! E todo mundo tem que votar? Quem são mesmo os candidatos?
São algumas questões que escutei recentemente e que mostram o quanto parte significativa da população tocantinense está alheia ao processo eleitoral em curso no Tocantins para escolha do governo tampão que comandará o estado até o final de 2018. E isso deixa totalmente em aberto a disputa – só saberemos quem será eleito no domingo quando as urnas forem abertas.
Porém nos cabe questionar o porquê da população esta tão alheia a esse processo eleitoral? De acordo com Desidério Murcho (2010) para a generalidade das pessoas um interesse intenso pela vida política só faz sentido quando o conforto da sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada. O que é o reflexo de uma sociedade em que cada vez mais nos movemos por necessidades individuais e perdemos de vista o coletivo. O que para Murcho significa o fim da política, pelo menos no seu sentido clássico.
Se analisarmos a situação no Tocantins percebemos que a generalidade das pessoas não acredita que independente de quem seja eleito a sua qualidade de vida melhorará. Até por que os exemplos recentes não são animadores. E os que se engajaram na campanha são justamente aqueles que têm algum conforto através de um cargo comissionado e que buscam conservar. Diante disso podemos afirmar que um dos motivos que leva a população tocantinense a estar alheia a este processo eleitoral é o desencanto com a politica como um instrumento que sirva para melhorar suas vidas.
Outro fator é que as candidaturas postas ao governo estadual não conseguiram empolgar a população a ponto de fazê-la se envolver no processo. O que pode ser explicado pelo fato de que os candidatos não queiram jogar muito peso numa eleição para um mandato tampão. Ainda que o eleito agora largará em vantagem para as eleições de outubro. Veja o exemplo de Mauro Carlesse (PHS) se ele não houvesse assumido interinamente o governo do Tocantins e sem a máquina pública a sua candidatura se quer sobreviveria. Mas com a caneta na mão e o poder de nomear as coisas mudaram e o seu nome esta no páreo.
Diante disso, como já falamos em outro artigo, a disputa agora é mais para ter a máquina pública na mão para obter vantagens e apoio político na campanha regular das eleições de outubro do que propriamente para implementar as promessas mirabolantes que apresentam em suas propagandas. Ora se num mandato de quatro anos dificilmente fariam o que estão prometendo, imagine num mandato de 6 meses mais ou menos. E ai está outro fator que desencanta a população.
Além de Mauro Carlesse (PHS) outros nomes que também aparecem bem na disputa são dos Senadores Kátia Abreu (PDT) e Vicentinho Alves (PR) além do ex-prefeito da capital Carlos Amastha (PSB). E é entre esses quatro que será eleito o novo governador ou governadora do Tocantins. Já que os outros três candidatos – Marlon Reis (REDE) Mário Lucio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) não tem nenhuma condição de serem eleitos. Não por falta de competência, mas tanto pela questão estrutural que ainda pesa muito numa campanha eleitoral como também pelas raízes oligarcas que ainda dominam fortemente a política, sobretudo no interior do Tocantins. E é justamente essas raízes oligarcas que colocam Vicentinho Alves e Kátia Abreu em vantagem em relação aos demais.
A força do senador Vicentinho Alves (PR) vem da base herdada do governo Marcelo Miranda (PMDB), sobretudo depois que o principal partido politico do Estado – PMDB – decidiu não lançar candidato próprio. Além do fato de que o PR sob o comando do senador Vicentinho Alves foi um dos partidos que mais cresceu no Tocantins, tendo uma forte raiz interiorana. Ao contrário de Vicentinho, Kátia Abreu não tem uma estrutura partidária forte, mas apesar dos desgastes e da moderação no discurso, continua sendo a principal liderança ruralista do Tocantins – e num estado em que a força do agronegócio é decisiva não é de se admirar que ela tenha um bom desempenho nas urnas. Porém o que tem sido decisivo para que ela figure como uma das favoritas é a fragmentação dos votos em várias candidaturas.
Contra essas duas figuras tradicionais da política tocantinense surgem Amastha (PSB) e Carlesse (PHS) defensores da lógica empresarial no serviço público, mas sem romper com a política tradicional. Os outros três candidatos, Mario Lúcio Avelar (PSOL) está no campo da esquerda – que não tem tradição no Tocantins e nem uma militância orgânica. Já Marlon Reis (REDE) apresenta um discurso bem liberal na mesma linha do candidato do PRTB – Marcos Souza – com foco no combate à corrupção. Aliás, a principal bandeira de Marlon Reis é o combate à corrupção. Nessa linha ele não tem poupado em se utilizar do fato de ter sido o autor do projeto da “Ficha limpa”.
No entanto não é apenas Marlon Reis (REDE) que tem focado o seu discurso no combate à corrupção. Todos os sete candidatos, sem exceção, dizem que a corrupção é o principal entreva para o desenvolvimento do Tocantins, e que, portanto será combatida nos seus governos. Porém, esquecem-se de dizer que ajudaram a eleger governos corruptos ou que estão respondendo por corrupção junto a justiça. Mas isso são detalhes, não é mesmo?! O que importa numa campanha eleitoral é dizer o que a população quer ouvir.
Além do combate a corrução nenhuma candidatura tem tocado num ponto central que é o avanço de um modelo hegemônico de usurpação dos recursos naturais, destruição do meio ambiente, avanço da monocultura, do uso abusivo de agrotóxico, da utilização de mão de obra escravizada e da violência no campo. O que mostra que nenhum candidato, especialmente os quatros principais, tem a pretensão de fazer mudanças estruturais, se forem eleitos. Até por que os interesses que defendem são os mesmos – os interesses da burguesia agrária. Já os operários, camponeses pobres e os povos tradicionais que é a maioria da população tocantinense, que não esperem nada diferente do que temos hoje. Pois “Não vai mudar, vai ficar bem pior do que está. Mas é inútil dizer, se ninguém que saber...”
Pedro Ferreira Nunes - É Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.