quarta-feira, 17 de março de 2021

A importância da sistematização na Educação Formal

“Se conseguimos fazer da sistematização uma prática constante, há mais possibilidades de realizarmos um trabalho adequado a realidade...”. 

Na perspectiva da educação popular a sistematização das experiências é um fator importante para que se tenha consciência dos avanços e limites no caminho formativo traçado. E a partir daí, corrigir a rota se necessário, ou aprofundar o caminho. Ora, sistematizar não se resume a fazer relatos de experiências ou preencher planilhas como ocorre na educação formal. Mas também de um momento importante de reflexão sobre a nossa prática enquanto educadores. 

Nesse sentido, afirmamos a importância da sistematização na práxis educativa. Porém na educação formal precisamos compreendê-la para além de uma simples exigência por parte da burocracia estatal. Sendo assim o nosso ponto de partida deve ser entender o que é sistematizar, pois, se não sabemos o que é, certamente não iremos compreender a sua importância. Logo, compreender a importância da sistematização passa por saber o que é sistematizar. E o que é sistematizar? 

De acordo com Antônio Fernando Gouvêa da Silva (2007), a partir do texto “Sistematização”, do Programa Popular, Instituto Cajamar, sistematizar é “realizar um processo coletivo de análise crítica das práticas desenvolvidas, a partir dos registros feitos ao longo da construção de tais práticas”. A partir dessa afirmação podemos destacar alguns pontos. Primeiro, a ênfase no coletivo, afinal de contas a nossa prática educativa se desenvolve no coletivo. O segundo é a análise crítica das práticas desenvolvidas para que consigamos ir até a raiz do problema. E terceiro a importância do registro acerca das nossas práticas. Geralmente na educação formal quando se fala em sistematização o foco é nesse terceiro ponto, já o segundo e o primeiro são negligenciados 

Ainda na linha de entendermos o que é sistematizar, Antônio Fernando Gouvêia da Silva (2007) nos chama atenção para alguns aspectos importantes como o fato de que a sistematização deve ser um processo permanente que vai nos possibilitar aprender e construir conhecimentos coletivos. Para o nosso autor (2007) “a sistematização possibilita chegar a uma maior consistência, tanto teórica, quanto metodológica, e, principalmente, a uma reorganização e ao redimensionamento da prática, enquanto ação transformadora da realidade”.  

Em suma, a sistematização nos possibilita um domínio sobre a nossa prática educativa, sobretudo se se tem como perspectiva uma ação transformadora. Como isso é possível na educação formal com todos os limites que o sistema de ensino impõe? Não tenho uma resposta para essa questão. Mas creio que o processo de sistematização numa perspectiva transformadora (que é essa que estamos defendendo aqui) nos possibilitará encontrar uma resposta. 

Bom, sabemos o que é sistematizar. A pergunta que vem agora na nossa cabeça é: para que sistematizar? Antônio Fernando Gouvêa da Silva (2007) nos diz o seguinte: “para identificar, reconhecer os diferentes momentos do processo, situar as características que definem cada um deles e explicar por que e como eles se relacionam e se articulam”. Em suma, para saber onde estamos e por que estamos em um determinado estágio e não em outro. Isto é, compreender melhor o contexto, ter consciência dos nossos limites, mas também da nossa capacidade de agir. 

Depois de sabermos o que e para que sistematizar. É hora de refletirmos sobre quando e como sistematizar. Para tanto continuemos com Antônio Gouvêia da Silva. Sobre a questão de quando sistematizar já vimos mais acima. Mas é importante reafirmarmos. De acordo com nosso autor (2007) é fundamental que seja “um exercício permanente, concomitante ao próprio desenrolar da prática. É o que chamamos de práxis (numa perspectiva Marxiana). Isto é, compreender a relação entre teoria e prática para que possamos ter uma ação transformadora. 

Já em relação a questão de como sistematizar. O nosso autor dirá que não existe uma fórmula de como fazê-lo. Porém destaca alguns pontos que devem ser levados em consideração, entre eles: 1- Registro das atividades desenvolvidas e a descrição dos fatos e processos significativos; 2- Interpretação e analise dos fatos; e 3- Instrumentalização para retorno à prática. Em suma, é a práxis freiriana fundamentada no tripé: Ação, Reflexão, Ação. 

Acredito que é possível e necessário o desenvolvimento dessa práxis no ensino formal. E o desenvolvimento dessa práxis passa necessariamente por um processo de sistematização numa perspectiva transformadora. E isso não será possível através de medidas de cima para baixo. Mas a partir da consciência dos próprios educadores. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Pós-Graduando em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente trabalha como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado. 

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REFERÊNCIA: SILVA, Antônio Gouvêia da. A busca do tema gerador na práxis da educação popular. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007. 

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