quarta-feira, 31 de março de 2021

Para dizer que não escrevi sobre Esperança

Poema: A canção 

De repente tudo se fez em silêncio, 

um silêncio absoluto.

Não se ouvia som:

de vozes,

ou de automóveis. 

Do vento,

ou dos pássaros. 

Da criançada brincando na rua,

ou dos vizinhos conversando.

Do movimento nos bares,

ou no comércio em geral.

Era como se ele fosse,

a única alma viva,

naquele lugar.

Ele então se sentiu sozinho,

de uma maneira

como já mais havia se sentido.

Ele então teve medo. 

- Sozinho no mundo? 

O que farei? 

Serei o único sobrevivente desse desastre?

Pensou consigo.

Ele sentiu vontade 

de correr para a rua,

na esperança de encontrar 

com mais alguém. 

Mas sabia que não podia,

não podia sair.

Era preciso ficar em casa.

- Para quê ficar em casa?

Tudo está perdido.

Todos estão mortos.

Não há mais salvação. 

Dizia ele já é entrando em desespero.

E já entrando em desespero, 

lembrou de uma canção. 

Ele então pegou um violão, 

E começou a toca-lá.

“Don’t worry about a thing, 

cause every little thing,

gonna be all right.

Saying, don’t worry about a thing, 

cause every little thing,

gonna be all right...”.

De repente ele ouviu,

uma voz na casa ao lado,

cantarolar a canção. 

Na outra casa,

e na casa em frente também. 

Logo era toda a rua a cantar,

toda a cidade.

Ele então se encheu de alegria,

não se sentiu mais sozinho.

E teve a certeza de que,

tudo ficaria bem,

tudo ficaria bem.


Por Pedro Ferreira Nunes, in Antologia Literária Ruas Vazias - O CoronaVírus em Prosa e Verso. Editora Veloso, 2020.

Nenhum comentário:

Postar um comentário