Poema: A canção
De repente tudo se fez em silêncio,
um silêncio absoluto.
Não se ouvia som:
de vozes,
ou de automóveis.
Do vento,
ou dos pássaros.
Da criançada brincando na rua,
ou dos vizinhos conversando.
Do movimento nos bares,
ou no comércio em geral.
Era como se ele fosse,
a única alma viva,
naquele lugar.
Ele então se sentiu sozinho,
de uma maneira
como já mais havia se sentido.
Ele então teve medo.
- Sozinho no mundo?
O que farei?
Serei o único sobrevivente desse desastre?
Pensou consigo.
Ele sentiu vontade
de correr para a rua,
na esperança de encontrar
com mais alguém.
Mas sabia que não podia,
não podia sair.
Era preciso ficar em casa.
- Para quê ficar em casa?
Tudo está perdido.
Todos estão mortos.
Não há mais salvação.
Dizia ele já é entrando em desespero.
E já entrando em desespero,
lembrou de uma canção.
Ele então pegou um violão,
E começou a toca-lá.
“Don’t worry about a thing,
cause every little thing,
gonna be all right.
Saying, don’t worry about a thing,
cause every little thing,
gonna be all right...”.
De repente ele ouviu,
uma voz na casa ao lado,
cantarolar a canção.
Na outra casa,
e na casa em frente também.
Logo era toda a rua a cantar,
toda a cidade.
Ele então se encheu de alegria,
não se sentiu mais sozinho.
E teve a certeza de que,
tudo ficaria bem,
tudo ficaria bem.
Por Pedro Ferreira Nunes, in Antologia Literária Ruas Vazias - O CoronaVírus em Prosa e Verso. Editora Veloso, 2020.
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