Ela chegou acompanhada do marido. Tinha ido buscar um lanche. Ele não pode deixar de nota-lá. Ela fora a sua grande paixão da juventude. Ele pensava consigo: - Nossa, eu amei tanto essa mulher. E hoje não sinto nada. Como pode? Estranho, não?! E então, ele começou a lembrar da sua juventude – de quando encontrar com ela era a melhor parte do dia. Mas aquelas lembranças não o faziam sofrer. Pelo contrário, era engraçado lembrar daquele amor da adolescência – um tanto exagerado – indo na contra mão do seu perfil discreto – conservador.
Eles se conheciam há algum tempo, mas foi no Colegial que se tornaram mais íntimos. Ela que não era muito sociável acabou encontrando nele uma das poucas pessoas naquela escola por quem se simpatizasse e conversava. E foi a partir daí que de uma hora para outra ele se viu perdidamente apaixonado por ela.
Ir para escola tornou-se a melhor parte do dia, pois era quando se encontravam. Ele podia está de mau humor, era só vê-la, trocar uma ideia com ela que o seu sorriso abria. Ela igualmente. Quando chegava sexta-feira era uma tristeza só, pois significava que só iriam se encontrar novamente na segunda-feira. E ficar dois dias sem vê-la, sem falar com ela, era uma tortura. No último ano do Colegial, quando chegou então o mês de férias, ele achou que enlouqueceria.
Era perceptível que ela gostava dele. Mas será se era o mesmo sentimento que ele tinha por ela? Ou era só amizade? Os amigos deles acreditavam que havia algo entre os dois. Mas a verdade que eles nunca conversaram sobre coisas nesse sentido. Se ela nutria algum sentimento por ele, além de amizade, nunca lhe disse. Ele por sua vez nunca teve coragem de se declarar.
Quando retornaram das férias escolares, uma guria que acabara de chegar na cidade se aproximou dele e acabaram ficando. E aquela paixão que ele sentia por ela foi se extinguindo.
Chegou ao final o ensino médio. E cada um seguiu o seu rumo. Ela se casou, formou uma família, teve filhos. Já ele decidiu focar nos estudos, não casou e nem teve filhos. Nunca mais haviam se visto, até aquele dia. E depois de tanto tempo ele percebeu que não sentia mais nada por ela. E da forma indiferente que ela o olhou, o sentimento era recíproco.
Ele pensava consigo: - as vezes a gente alimenta a ilusão de encontrar um amor do passado e reviver agora o que não foi possível lá atrás. Que besteira?! Isso é reflexo do tanto de romance de novela que você engoliu a vida inteira. A vida real é diferente meu caro.
Enquanto isso sua amiga continuava falando. Ele mostrava todo interesse naquela conversa. E assim nem percebeu quando ela foi embora. Pensava consigo: - tenho que escrever sobre essa experiência. É muito estranho esse negócio de sentimento – é estranho ver que alguém que já fora tão importante para gente já não é mais. Mas como diz a canção: “Quem um dia irá dizer que não existe razão/Nas coisas feitas pelo coração/E quem me irá dizer que não existe razão...”.
Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.