quarta-feira, 5 de abril de 2023

6° Coletânea de Poemas – Projeto Apparere

Mesmo com um público leitor escasso, falta de apoio e de reconhecimento muitos resistem produzindo literatura – em especial poesias. Uma amostra nesse sentido é a coletânea de Poemas organizada pelo Projeto Apparere – que chega na sua sexta edição – e uma edição de peso com 182 produções de autoras e autores de todo o Brasil. Para quem aprecia poesia não irá se decepcionar, encontrará nessa obra verdadeiros tesouros. Já os leitores novatos terá uma ótima introdução no mundo da poesia. 

A obra é fruto de um projeto que busca dá visibilidade a novos escritores. Uma iniciativa louvável sobretudo diante do que salientamos no início – a falta de apoio para que quem produz literatura possa publicar, divulgar e comercializar sua obra. O projeto Apparere dá a oportunidade para que o escritor e a escritora possa ter um trabalho publicado num livro impresso. Além da coletânea de poemas, o projeto promove periodicamente seleções de trabalhos a partir de determinados temas, sem cobrar pela participação. E posteriormente a obra é comercializada. Com isso possibilitando ao público leitor acesso a trabalhos que dificilmente encontrariam por aí (talvez no meio digital). E ao escritor a oportunidade de está numa publicação impressa com distribuição nacional – e assim ter uma amostra do seu trabalho reconhecido.

Os 182 trabalhos que encontramos na sexta coletânea de Poemas, foram selecionados num universo de 306 inscritos. A maioria segue o estilo livre e perpassam por diversas temáticas – reflexões filosóficas sobre a vida, sobre o amor, paixões, a condição feminina e questões sociais. Sobre a edição/diagramação ressaltamos a ótima qualidade do livro impresso – que contém 264 páginas. Cabe destacar a bela capa produzida pelo M. A. Thompson. A organização do livro segue a ordem alfabética do nome das autoras e autores. Antes há uma breve apresentação. E nas páginas finais encontramos uma breve biografia dos autores participantes – onde percebemos que muitos deles já tem várias obras publicadas, participam de coletâneas, tiveram seus trabalhos reconhecidos em concursos literários e inclusive fazem parte de academias de letras. Outros ainda estão no início, mas já demonstram talento.

Fazendo um exercício de crítica aos trabalhos ouso afirmar que há poemas muitos bons, outros nem tanto. Alguns percebemos uma maturidade na escrita, outros ainda carente de uma lapidação melhor. De todo modo acredito que o resultado final é uma coletânea de muita qualidade. Para evidenciar a minha afirmação destaco alguns trechos dos poemas. Por exemplo, o intitulado de Lembrança, do Adriano Vox – que reflete sobre memória.


“enquanto a neblina esconde metade da cidade

essa paisagem

daqui a pouco será passagem

como coisas da vida que não voltam,

mas eternizam um momento

(feliz)”


O poema desencontro, da Amanda Castro, fala sobre um relacionamento que está chegando ao fim pela falta de sintonia entre o casal:


“Quando preciso ir

Você volta.

Quando passou da hora de partir

Ainda estou na porta

Prolongando o fim...”


O duelo entre o Lápis e a borracha, é um cordel do Antonio Joel Marinho Sousa, muito bem elaborado. Escrito com simplicidade mais propondo uma reflexão profunda sobre a responsabilidade do que escrevemos, pois, a escrita pode alimentar o amor mas também o ódio:


“Então quando leio coisas

Que percebo ser bobagem

Eu vou lá pessoalmente

Com muita força e coragem

Apago tuas besteiras

Sucumbo suas maldades”.


“O Viajante”, do Janilson Barros do Amaral, traz diversos questionamentos, como por exemplo acerca da morte:


“Estou agora ao lado de um cemitério,

Com a beleza das suas árvores e dos seus túmulos,

E das Almas que viveram e hoje são eternas.

Por que as pessoas morrem?”


De autoria do Lano Andrado temos Julieta e Romeu, que fala de uma aventura romântica numa cidade interiorana:


“O que dizer daquele rio?

Daquela rua?

De você seminua,

Querendo sempre mais?


A lembrança de um romance de outrora é o tema do poema Adeus, meu amor elegíaco, de M.A Thompson:


“Não é fácil dizer adeus

A um amor que um dia foi

Não é fácil ver que se vai

O sorriso que um dia me iluminou”.


Mais um cordel que merece destaque, esse do Manoel Ramos intitulado de O poeta pescador:


“Eu sou um bom pescador

Que chamam de Manoel

Aprendi traçar meu mundo

Com a caneta e o papel

Faço a métrica e escansão

Das sílabas da oração 

Sou escritor de cordel”.


Os cães sem dono e os desafortunados, do Nelson Dias Silva também merece destaque. É um poema que fala sobre a verdadeira amizade – que tem o seu valor em si e não no que pode proporcionar, sobretudo do ponto de vista material:


“Os desafortunados 

São enxotados e humilhados

Na mesma proporção 

Que os cães sem dono

Aonde vão ou estejam

Não importa

Por todos os lugares.

Por isso não é raro constatar

A amizade desinteresseira

Entre cães sem dono

E desafortunados”.


Tenho o privilégio de participar dessa coletânea com o poema “Pouso das Araras”. Quem acompanha minhas atividades no Blog Das Barrancas do Rio Tocantins certamente já o conhece. Trata-se de um poema que fala sobre a dádiva que é a vida para ficarmos perdendo tempo com pequenez:


“Baby, se tu soubesses

Como a vida é cara. 

Não perderia tempo

Remoendo mágoas”.


Enfim, esses pequenos trechos não representa nem 10% do que encontramos na 6° coletânea de Poemas do Projeto Apparere. Mas a partir deles creio que se pode ter uma ideia do que o público leitor vai encontrar.


Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 

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