quinta-feira, 30 de março de 2023

Na sala de aula: Oficina de criação com o tema mulheres na sociedade

Quando chegamos com a proposta da atividade na sala de aula a primeira reação da turma foi de negação. Nada que me surpreendece e me fizesse desistir do exercício. Ao perceberem isso não tiveram alternativa se não tentar fazer. A ideia era que fizessem um rascunho de um projeto a partir da temática estabelecida. Nesse rascunho deveriam criar um sub tema e a partir daí elaborar um objetivo, uma justificativa, estabelecer uma metodologia de pesquisa, com um público-alvo e uma periodicidade. E por fim, uma ação que deveria ser realizada dentro da periodicidade estabelecida.

– Não damos conta. – isso é muito difícil. – é mais complicado do que matemática. – faz a gente pensar de mais. – eu desisto. Foram algumas das frases que me disseram. Expus um modelo no quadro e disse: – Não quero saber. Vocês tem tantos minutos para me apresentar o rascunho. E então começaram a trabalhar mais seriamente. Vinham até mim para tentar entender melhor e ver se o que tinham produzido estava bom. – Não. Esse sub tema tá amplo de mais. Faz um recorte. Não. Esse objetivo tá mais para uma justificativa. Objetivo é uma coisa, justificativa é outra. Tá bom, mas se colocasse assim ficaria melhor. Mas e a ação?  O que você vai fazer e quando? – Precisa mesmo? – Claro. – Vou fazer uma entrevista. – Ok. Com quem? Cadê as perguntas? – Precisa? – Quero ver as perguntas.

E assim com muito diálogo e exercício prático eles foram conseguindo construir o rascunho e pensar as ações a serem executadas. Um iria fazer uma exposição oral sobre a violência contra a mulher. Outro escrever um texto sobre os salários das mulheres no futebol. Outro uma entrevista escrita com uma servidora da escola sobre mercado de trabalho. Outro uma entrevista gravada com uma professora da escola sobre a mulher na sociedade atual. Outro uma exposição de novas escritoras brasileiras. E assim por diante.


A alegria no rosto deles ao final da aula mostrava a felicidade diante da superação do desafio que eu havia lhes imposto. A minha alegria era ainda maior por ter lhes tirado de uma zona de conforto e mostrado que eles eram capazes. Foi uma experiência transformadora onde eles conseguiram superar suas limitações e fazer coisas significativas que irá contribuir nas suas formações, como também (em alguns casos) chamar atenção da comunidade escolar para o problema trabalhado. 

Essa foi uma das ações que fez parte do projeto libertárias – as mulheres na luta contra as opressões desenvolvido junto os estudantes do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência (CENSP Lajeado) no contexto do mês em que se celebra o dia Internacional das Mulheres. Tendo como objetivo  “compreender a importância das mulheres na construção de uma sociedade mais humana. Sobretudo através da luta por reconhecimento. E refletir sobre os desafios para superação da desigualdade entre homens e mulheres.”

Nessa ação específica a ideia foi fazê-los buscar uma resposta para um determinado problema a partir de uma perspectiva científica. Daí a exigência para que seguissem um método de pesquisa. Com isso eles puderam vivenciar um pouco como é a construção de uma pesquisa científica. 

Compreendemos que as dificuldades encontradas durante o exercício é reflexo de uma educação que ensina mais a reproduzir do que criar. O nosso estudante está acomodado em copiar aquilo que passamos – e que ao final do bimestre será descartado. E quando propomos a ele pensar por sua conta. A resistência é enorme. 

Nesse contexto, atividade como essa são fundamentais para que consigamos mudar essa cultura. Sabemos que não é um processo fácil. É mais cômodo buscar algo pronto do que se aventurar por conta própria. E assim, lembrando o que disse Kant – por preguiça, medo ou covardia, permanecemos na menoridade. Ora, se quisermos vislumbrar que nosso estudante alcance a maioridade é necessário instiga-lo a pensar por si mesmo. Nessa perspetiva fazer da sala de aula uma oficina de criação é um ótimo caminho.


Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP Lajeado.


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