Como o documento norteador da unidade escolar, o Projeto Político Pedagógico (PPP) não pode deixar de refletir a realidade da comunidade escolar. Para tanto ele deve ser construído por muitas mãos. E aqui está o desafio – envolver todos os membros da comunidade escolar na sua construção. Não é algo simples, pois si tem a ideia de que é uma coisa burocrática que não vai refletir na sala de aula e nas ações e projetos desenvolvidos pela escola.
Como o próprio nome diz, o PPP é o documento onde a comunidade escolar explícita a sua linha política e pedagógica. Essa deve ser precedida de um breve histórico da escola bem como do território que ela está inserida. Da construção do perfil da comunidade escolar e de uma análise dos dados da aprendizagem, incluindo o fluxo – aprovação, reprovação, evasão e abandono. Também é necessário descrever as condições estruturais, o quadro de pessoal bem como toda a rotina escolar. É a partir dessa estrutura que emergirá as opções políticas e pedagógicas da comunidade escolar – isso se o documento tiver a participação efetiva dessa no seu processo de construção.
Nesse contexto é importante ressaltar alguns aspectos. O primeiro é que se trata de um documento construído a partir de uma metodologia cientifica. Segundo, segue as orientações e normativas vigentes. Desse modo, não estamos falando de um documento elaborado de qualquer forma. Tal cuidado se dá sobretudo para que se evite ações e projetos que não estão em consonância com aquilo que o PPP aponta. Ou seja, fora da realidade da comunidade escolar.
É esse cuidado que devemos ter ao elaborar o plano de ação do PPP, que será executado anualmente. Esse plano de ação deve ser uma resposta aos desafios, apontados na análise feita no documento, e dos objetivos traçados a partir daí.
É aqui que geralmente, sobretudo quem está na sala de aula, sente a importância do PPP. Ou seja, no momento de transpor para prática o que está escrito no documento. Se o que está escrito no documento não reflete a realidade, esse processo se torna algo praticamente impossível.
Nesse momento surge reclamações de que as coisas são impostas de cima para baixo. No entanto, durante o processo de elaboração, grande parte desses não deu a importância devida.
Por outro lado há de se questionar também até que ponto a gestão da escola criou as condições para essa participação efetiva. Pois de nada adianta convocar a comunidade escolar para contribuir na construção e revisão do PPP (atendendo exigências burocráticas), sem criar as condições para tal.
Outro fator que interfere nesse processo é deixar de fora da sistematização do documento as contribuições do coletivo. Fazendo com que se perca o interesse nesse processo. Há também a falta de identidade de determinados servidores com a unidade escolar – estão ali apenas para dar suas aulas – cumprir a carga-horária.
Tomei conhecimento da existência de um projeto político pedagógico na escola durante a faculdade. Tendo como um dos exercícios do estágio estudar o PPP da unidade escolar onde estava estagiando (Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência). Foi uma atividade muito significativa que depois me ajudou na adaptação quando me tornei professor dessa mesma escola.
Desde então tenho contribuído na revisão anual do PPP e feito um esforço para que o mesmo seja um reflexo da comunidade escolar. Também temos buscado envolver o máximo de mãos possíveis nesse processo criando mecanismos de participação na sua elaboração. De modo que não tenho receio em afirma que o documento atual reflete a comunidade escolar.
Óbvio que ainda é necessário avançar bastante no que consiste uma maior apropriação do PPP por parte de toda comunidade escolar. E um envolvimento mais efetivo nas discussões e deliberações durante o processo de elaboração. No entanto, podemos dizer que hoje se trata de um documento acessível a toda a comunidade escolar (inclusive virtualmente). Além de está sempre em pauta nas reuniões de alinhamento pedagógico-administrativo e nas formações continuadas. Ou seja, conseguimos mudar a cultura de um PPP visto apenas como algo que diz respeito a Coordenação Pedagógica que depois de elaborado tem como destino o fundo de um armário ou uma pasta num computador.
Como isso foi possível? Por meio de ações contínuas que pauta o PPP. O desenvolvimento e aplicação de instrumentais que promova a escuta, o desenvolvimento de metodologias que permite uma apropriação maior do documento e, sobretudo, mostrando nas reuniões estratégicas a relação do cotidiano escolar com o que está no documento. Ou seja, se estamos avançando ou retrocedendo, se dá em grande medida pela capacidade de execução do que foi planejado.
Nesse sentido cabe destacar a contribuição do Professor Celso Vasconcellos acerca do planejamento. De acordo com este autor: “planejar é antecipar ações para atingir certos objetivos, que vêm de necessidades criadas por uma determinada realidade, e, sobretudo, agir de acordo com essas ideias antecipadas”. É justamente isso que fazemos com o PPP. Ou seja, o PPP é o nosso planejamento macro. Logo, se os objetivos estabelecido pela unidade escolar não está sendo atingido, há que se questionar como que se deu esse planejamento (a construção do PPP). Sob quais bases e daí por diante.
Enfim, esse é um desafio permanente – a construção de um Projeto Político Pedagógico pela comunidade escolar. Esse é inclusive um dos elementos de uma gestão verdadeiramente democrática. Eu diria, para polemizar, que até mais do que a eleição de um diretor ou diretora para comandar a gestão da unidade escolar. Quando a comunidade escolar se atentar para isso perceberam que tem mais poder na efetivação de uma educação consequente do que imaginam. Mas entendo que é mais fácil culpar o sistema de ensino por tudo. Assim, justificamos para nós mesmos a nossa mediocridade.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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