quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Juvenal Savian Filho: Somos ou estamos na Natureza?

O modo como nos relacionamos com a Natureza tem a ver com a nossa visão acerca dela. É a reflexão que nos propõe o filósofo Juvenal Savian Filho ao abordar essa questão no seu livro “Filosofia e filosofias – existências e sentindos”. Nessa obra ele nos aponta duas visões que foi se formando ao longo da história: uma que parte da ideia da Natureza como uma máquina e a outra como um organismo vivo. Nas linhas a seguir vamos conhecer melhor essas visões e refletir sobre as suas consequências. 

O primeiro aspecto para o qual Savian Filho (2018) chama atenção é a de que ao mesmo tempo  que nos colocamos entre os demais animais, nos destacamos do seu conjunto. Isto é, “tomamos o ser humano como parte da Natureza e marcamos sua diferença em meio ao conjunto”. Somos um animal, mas um animal que tem sentimento e pensa. Nosso autor ressalta porém que “há um risco em descolar os seres humanos do grupo dos outros seres, o risco de encararmos a Natureza como uma casa que é nossa, mas da qual não nos sentimos realmente membros” (2018, p. 230). 

Por outro lado há aqueles que defendem uma integração total a natureza, voltando a um estado primitivo. Para Savian Filho (2018) é preciso buscar uma síntese entre essas duas posições. Levando em consideração a crise ambiental e suas consequências para o planeta terra e aos que aqui vivem.

Na contemporaneidade, a questão ambiental vem sensibilizando e mobilizando parte significativa da população, sobretudo a juventude. Mas ainda é muito forte a visão da Natureza como uma máquina.  Isto é,  como algo que está a nosso serviço, que quando sofre algum problema pode ser consertado. 

Savian Filho (2018) salienta que a ideia da Natureza como máquina surgiu do seu funcionamento mecânico e independente. A partir daí filósofos e cientistas passaram a pensar que as próprias leis da Natureza eram matemáticas, utilizando inclusive como metáfora a dinâmica de um relógio. Entre os pensadores que consagraram essa metáfora destacam-se: Galileu Galilei, Johannes Kepler e René Descartes.

Com a revolução industrial, no século XVIII, temos uma imposição dessa visão mecanicista acerca da Natureza. Podemos então afirmar que ela caminha em consonância com o modo de produção capitalista. 

Savian Filho (2018) salienta que a perspectiva mecanicista gerou importantes avanços, proporcionando uma melhor qualidade de vida para população, por outro lado os problemas ecológicos decorrente desse modelo não podem ser negados, levando a uma crise climática que tem se agravado cada vez mais diante da inércia dos Governos.

Em contra partida a visão mecanicista temos a ideia da Natureza como um organismo vivo. Desse modo, quando destruímos a Natureza, estamos destruindo a nós mesmos. Pensadores como Leonardo da Vinci, Friedrich Schelling e Alfred North Whintead, são alguns dos que defendem essa visão que tem ganhado bastante força na contemporaneidade, sobretudo a partir do movimento ambientalista e da luta dos povos originários. 

Porém o modelo mecaniscita permanece como hegemônico, sobretudo por que de acordo com o nosso autor (2018) há interesses comerciais que o sustenta. Isto é, há toda uma economia que opera a partir dessa lógica de desenvolvimento que enxerga a Natureza como um objeto que nos fornece recursos ilimitadamente.

Savian Filho (2018) salienta que do ponto de vista da Filosofia, não cabe a defesa de uma ou de outra visão acerca da Natureza. Mas analisar as razões que as fundamentam. Porém, na minha perspectiva, ao fazermos essa análise certamente não ficaremos numa postura neutra.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário