A cena descrita é do filme francês “entre les murs” (que no Brasil recebeu o título de “Entre os muros da escola”) de 2008, dirigido por Laurent Cantet. Baseado num livro (com o mesmo título) de autoria de François Bégadeau, que relata a experiência de um jovem Professor de Francês numa escola na periferia de Paris (França) marcada por muitos conflitos entre professores e estudantes.
O caminho tomado pela direção escolar para superar ou apaziguar os conflitos é o autoritarismo. A questão é que num ambiente autoritário como aponta Freire (1987) não há diálogo, e onde não há diálogo a tendência é os indivíduos construírem muros em torno de si. O filme mostra muito bem essa realidade. E a cena que destacamos no início ainda mais ao mostrar um afeto que circula num ambiente marcado pelo autoritarismo e pela falta de diálogo, esse afeto é o ódio.
De acordo com Espinoza (2014, p. 44) “o ódio é uma tristeza concomitante à ideia de uma causa externa”. Trata-se, portanto, de um afeto que limita ou diminui a nossa potência de agir. Isto é, quando agimos dominado por esse afeto, não agimos racionalmente. Acabamos cometendo uma violência, seja verbal como no caso do Professor ao chamar as estudantes de vagabundas, ou como no caso do estudante que feriu uma colega fisicamente, ainda que de forma não intencional. Ou pior, quando analisamos acontecimentos trágicos como o massacre numa escola pública de Suzano (São Paulo) em março de 2019.
Numa perspectiva aristotélica diríamos que o problema tanto por parte dos professores como dos estudantes dessa escola é a falta de moderação dos afetos. Quando não há essa moderação ao invés de agirem de forma virtuosa, agem pelo vicio, ou da falta ou do excesso. De acordo com Aristóteles (1991, p. 36) a virtude é “uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania [...] um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria”. Nosso filósofo diria que expulsar o estudante não seria a solução. É uma tentativa equivocada de resolver o problema sem atacar as causas reais desse problema. Além de ser uma atitude que busca mobilizar um outro afeto no ambiente escolar, o medo. Dando a seguinte mensagem: - Ou você se enquadra ou nós lhes expulsamos.
Pedro Ferreira Nunes. In. OS AFETOS QUE CIRCULAM ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: A Importância da Ética para Promoção dos Direitos Humanos, 2021. Trecho do artigo apresentado como requisito para conclusão da Especialização em Filosofia e Direitos Humanos.
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ResponderExcluirGrato, querida.
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