Pedro Ferreira Nunes
Graduando de Filosofia da UFT
O Filme “E o seu nome é Jonas” é da década de 1970, lançado nos Estados Unidos da América – de Autoria de Michael Bortman e dirigido por Richard Michaels. Passado mais de 30 anos do seu lançamento às questões que ele nos trás são bastante atuais. Sobretudo por que majoritariamente o que ocorre no cotidiano é a reprodução de preconceitos que vemos no filme, como por exemplo, para citar apenas um mais leve, que o surdo é um deficiente. No decorrer dos anos várias lutas do povo surdo ocorreram e várias conquistas foram obtidas. O fato de num curso de licenciatura estar tendo uma disciplina de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é um bom exemplo.
No entanto é preciso avançar muito mais, sobretudo no campo educacional. E o filme “e seu nome é Jonas” nos faz ter um olhar sensível para condição do surdo na nossa sociedade. E aqui o termo “nossa” é bem aplicado, pois a sociedade que vivemos (hegemonicamente) é feita para os ouvintes. Para Strobel (2008) para comunidade ouvinte, o nascimento de uma criança surda é uma catástrofe porque estão acostumados com padrão “normalizador” para integrar à vida social e também desconhecem o “mundo dos surdos”.
O filme conta uma história comovente de uma família diante dos desafios para que o filho Jonas (surdo) possa ter uma vida “normal” em sociedade. Mas o que é ter uma vida “normal”? O que é ser “normal”? É se curvar diante do que a cultura hegemônica nos impõe? Aqui é importante chamar atenção para o que afirma Strobel (2008) sobre os riscos de uma cultura unitária: “a ideia unitária de uma cultura está relacionada na sociedade com as ideologias hegemônicas, de padronização, de normalização, onde todos devem se identificar com essa cultura única em um determinado espaço”. (2008; 16). É essa visão que coloca o surdo como um deficiente. Como um incapaz. Como um anormal. Sendo que a ciências muitas vezes é utilizada para justificar absurdos dessa natureza. No filme, Jonas é uma vitima desse processo, sobretudo quando é diagnosticado erroneamente como um deficiente mental, sendo obrigado á passar três anos internado numa escola para deficientes mentais, o que contribui para que o seu processo de ensino-aprendizagem seja afetado negativamente.
Os pais ao descobrirem o erro tentam recuperar o tempo perdido, mas tanto eles como a sociedade em geral não estão preparados para enfrentar essa situação. De modo que antes de educar o filho surdo, eles devem ser educados para poder dar conta de criar as condições para que Jonas se eduque. Para tanto é preciso compreender que a cultura não é unitária ou é algo estagnado. A esse respeito Strobel (2008) afirma que “a cultura não vem pronta, daí por que ela sempre se modifica e se atualiza, expressando claramente que não surge com o homem sozinho e sim das produções coletivas que decorrem do desenvolvimento cultural experimentado por suas gerações passadas”. E ao longo do filme vemos esse processo de transformação dos personagens.
Mas não é um processo fácil. E o filme também mostra os percalços dessa caminhada. Por exemplo, quando o pai de Jonas decide abandonar a família por não conseguir lhe dar com a situação. Sobretudo pela pressão da comunidade que os cercam, que cada vez mais os leva para o isolamento. Desse modo é a mãe que assume toda a responsabilidade pela educação do filho. Não sem crise – não sem muitas vezes pensar em desistir, por não perceber nem uma “evolução” de Jonas diante dos seus esforços. Jonas por sua vez constrói uma relação de muito afeto com o seu avô, o único que o trata de maneira humanizada. Aliás, a morte do avô de Jonas será um marco importante na estória. Por ser um exemplo de tomada de consciência da realidade do garoto. A esse respeito Petrilli (2011) afirma que “a nossa consciência da “realidade” é uma consciência mediada por procedimentos signicos. Enquanto tal, é condicionada pelas nossas experiências pregressas individuais e coletivas...”.
Quando Jonas já havia aprendido a língua de sinais, e tinha a capacidade de entender os signos que traduzem os significados que se dá as coisas, ele tomou consciência do que havia acontecido com o seu avô, que ele tanto amava. O momento é mais marcante quando ele consegui passar isso para a sua avó. Que também nesse momento o reconhece não mais como um deficiente, mas como um sujeito consciente. A esse respeito é importante salientar o que afirma Geraldi (2010) “se a consciência tem sua materialidade própria nos signos, e se estes somente emergem do processo de interação entre uma e outra consciência, então a própria consciência é resultante de um processo de encarnação material do que lhe é exterior – os signos – que pertencem não ao individuo, mas ao grupo social organizado em que as interações – e a emergência dos signos – se concretizem”. (2010; 139). Outro momento do filme onde podemos perceber essa interação num grupo social onde os signos se manifestam concretamente é na cena onde Jonas começa a entender a língua de sinais.
Em “E seu nome é Jonas”. Aliás, um nome (do filme) bastante significativo, pois mostra o quanto vivemos numa cultura impositiva. Na qual aqueles que não se enquadram são visto como “retardados” ou “sem cultura”. Percebemos um processo de transformação tanto do personagem principal que dá nome ao filme bem como daqueles que estão a sua volta. Tal transformação se dá, sobretudo diante da sensibilidade da mãe de Jonas ao perceber que o método educativo no qual o seu filho está sendo submetido não está surtindo o efeito esperado. Ela então vai buscar alternativas. E ao se deparar com uma família de surdos buscará uma aproximação na esperança de que eles lhe apontem algum caminho. É a partir dessa aproximação que ela descobrirá a existência de uma cultura surda. Cultura surda? Isso mesmo. De acordo com Strobel (2008) “cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modifica-lo a fim de se torna-lo acessível e habitável ajustando-se com as sua percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo”. Foi justamente isso que a mãe de Jonas pode vivenciar quando foi com uma amiga numa festa da comunidade surda. Ali ela pode presenciar que os surdos não tem a apenas a língua de sinais, mas também ideias, crenças, hábitos e costumes.
A mãe de Jonas mergulha nesse universo e percebe a gama de possibilidades que o seu filho tem para ter uma vida feliz. Eis ai uma passagem nesse filme um tanto poética – “a metamorfose de mãe”. A sua transformação ao descobrir que os surdos tem sua cultura, isto é, língua, ideias, crenças, costumes e hábitos. E a sua grandeza é aceitar isso, e não fazer como se faz costumeiramente, impor a cultura dos ouvintes. “Segundo o discurso ouvintista, o sujeito surdo para estar bem integrado à sociedade deveria se adaptar à cultura ouvinte, porque somente assim poderia viver “normalmente”. Se não conseguir, é considerado “desviante””. (Strobel, 2008; 23). Ela sabia bem que esse discurso não condizia com a realidade que ela estava vivendo. Desse modo ela compreendeu que era preciso aceitar que não existe apenas uma forma de ver o mundo. Que não poderia privar o seu filho de conviver numa cultura que era diferente da sua. Quando ele tivesse consciência o suficiente poderia muito bem decidir se queria ou não pertencer àquela cultura. Aqui reafirmamos o que dissemos anteriormente, primeiro foi preciso à educação da mãe para que então ela pudesse saber como lhe dar com o filho surdo.
E o que caracteriza essa cultura surda defendida tão enfaticamente por autores como Strobel, Caldas, McCleary, Rodrigues, Kalatai entre outros? É a língua. A língua é um fator primordial. Nesse contexto estamos falando da língua de sinais. De acordo com Caldas (2012) “a identidade surda é uma alteridade que se constrói através de um sistema linguístico. Por isso é necessário que os surdos estejam em constante contato com a língua de sinais”. O filme mostra muito bem isso, o quanto foi importante à apropriação da língua de sinais pelo jovem Jonas. O quanto isso foi importante para o desenvolvimento do seu processo de ensino-aprendizagem. O quanto foi importante para se tornar um sujeito consciente, ainda que se tratasse de uma criança – mas que através da língua de sinais conseguia entender a realidade que estava inserida. Inclusive tendo consciência da morte.
E o passo importante para essa transformação foi à apropriação da língua de sinais, foi à convivência com outros surdos que se caracterizavam pelo orgulho de ser surdo, de pertencer à comunidade surda. McCleary chama atenção para isso: “o orgulho que os surdos sentem em relação à sua língua é apenas um aspecto – um reflexo – de uma coisa maior: seu orgulho de ser surdo... dizer que você tem orgulho de ser surdo é um ato político. É por que você começa a balançar o mundo do ouvinte. Ele começa a ter menos controle sobre você. E quando isso acontece, começa a abrir espaço para mudança”. (2003; 2, 3). E essa tem sido a luta do povo surdo, luta por mudanças no sentido que a comunidade dos ouvintes compreenda sua cultura e acima de tudo a respeite. O filme mostra muito bem como isso não é algo fácil. São séculos de luta e a invisibilidade em torno dessa problemática continua ainda de forma evidente. Sobretudo por que vivemos numa sociedade demasiado positivista que hegemonicamente cultiva o discurso de que “os diferentes” são problemas. Por fim, o filme mostra um fato que carece de muita atenção, que é a inoperância do Estado em garantir políticas públicas que atendam o povo surdo. De modo que se não fosse à perseverança da mãe de Jonas, ele não teria conseguido desenvolver sua aprendizagem, o máximo que conseguiria era uma espécie de adestramento.
Os surdos e a Questão Educacional
Outro fator importante que o filme “E o seu nome é Jonas” nos faz refletir é sobre a educação dos surdos – um debate relevante e bastante atual. O filme abordou algumas metodologias que são utilizadas no processo de desenvolvimento da aprendizagem dos sujeitos surdos. Além de mostrar de forma enfática as duas visões que historicamente olham para surdez. A visão a partir do modelo clínico-terapêutico e a visão a partir do modelo sócio antropológico. De acordo com Rodrigues (2008) “a adoção de uma dessas visões demonstra as concepções e conceitos de quem olha e, certamente, guiará a uma série de perspectivas e atitudes com relação aos surdos e ao seu processo de ensino-aprendizagem”.
Essa questão pode ser vista com muita evidencia no filme. Por exemplo, quando foi tomado consciência de que Jonas era surdo e não um deficiente mental, ele foi levado para uma instituição que justamente tinha essa visão clinico-terapêutico, tanto que a metodologia ali utilizada era o Oralismo.
De acordo com Kalatai (2012) “o principal objetivo da metodologia Oralista é desenvolver a fala do surdo, pois para os defensores deste método, a língua falada era considerada essencial para a comunicação e desenvolvimento integral das crianças surdas”. Esse método pode ser bem exemplificado em dois momentos no filme. Por exemplo, quando Jonas é submetido a um teste onde ele tem que apertar um botão sempre que ouvir um sinal que é disparado por um aparelho, como recompensa recebe um doce. Percebe-se ai também a utilização do método psicológico behaviorista. Isso mesmo, a surdez é tratada mais a partir de uma perspectiva clinica do que de uma perspectiva humanista.
Para Kalatai (2012) “diante da concepção clinica da surdez e do surdo, as escolas são transformadas em salas de tratamento. As estratégias pedagógicas passam a ser estratégias terapêuticas”. Ainda nessa perspectiva, citando Streiechen, Kalatai afirma (2012) “como consequência das práticas Oralistas, os surdos não aprendem a falar. Conseguiam pronunciar apenas algumas palavras que eram repetidas de forma mecânica sem saber o que elas realmente significam”. É o que percebemos no momento em que Jonas está sentado numa mesa com outras crianças, cada uma com uma placa com o seu nome escrito, pendurado no pescoço, e as crianças são estimuladas a falar seu nome. É justamente desse momento que surge o nome do filme – e seu nome é Jonas.
Diante dessa questão percebemos bem a lógica da visão clínico-terapêutico, que de acordo com Rodrigues (2008) “...trouxe uma visão estritamente relacionada à surdez com patologia, enfatizando o déficit biológico. Assim, aqueles que se alicerçam nesse modelo consideram a surdez como mera deficiência sensorial... Nesse modelo clínico, os surdos ou deficientes auditivos possuem uma deficiência que precisa ser tratada com o proposito de reabilitá-los à convivência social”.
Diante da percepção do fracasso desse método, a mãe de Jonas buscou outro caminho. E esse caminho passava pela utilização da língua de sinais para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem do garoto. Essa decisão da mãe de Jonas não agradou nem um pouco a escola na qual ele estava matriculado, que tinha uma visão clinico-terapêutico da surdez e utilizava o Oralismo como método de ensino para os surdos. A partir do contato da mãe de Jonas com o povo surdo ela descobre uma nova visão a cerca da surdez. Que é uma visão a partir do modelo sócio antropológico. De acordo com Rodrigues (2008) essa visão “compreende-se a surdez como uma experiência visual, ou seja, como uma maneira especifica de se construir a realidade histórica, politica, social e cultural”. Ao contrário do modelo clinico-terapêutico a surdez é considerada como uma diferença e não como uma deficiência. Desse modo, surdo é aquele que se reconhece como tal e “independentemente do grau da perda auditiva, reconhecem-se como surdos, na medida em que valorizam a experiência visual e se apropriam da LS como meio de comunicação e expressão... Nessa mesma perspectiva, as pessoas com deficiência auditiva seriam aquelas que rejeitam a condição da surdez na medida em que tentam resgatar a experiência auditiva por meio de próteses e implantes, desprezando a LS e estabelecendo seu único meio de comunicação através da LO”. (2008; 61).
Desse modo podemos afirmar que a visão sócia antropológica requer novas metodologias educacionais que podem ser utilizadas na educação dos surdos. E o filme mostrou essas metodologias. Por exemplo, a metodologia utilizada para que Jonas aprendesse a língua de sinais foi a Pedagogia Surda – feita pelos surdos e para os surdos. Foi essa metodologia que possibilitou a transformação de Jonas. Nessa linha é importante ressaltar o que diz Kalatai (2012) sobre a Pedagogia Surda: “a metodologia realmente desejada pelo povo surdo é a Pedagogia Surda, visto que as lutas destas pessoas giram em torno da constituição da subjetividade do jeito surdo de ser, ou seja, da construção de sua verdadeira identidade e consagração de sua cultura, e que só poderá ocorrer no encontro com seus pares”. Foi justamente isso que ocorreu com Jonas quando ele começou a aprender a língua de sinais, com um jovem que demostrava ter muito orgulho de ser surdo. Um processo de ensino aprendizagem que se deu na informalidade, mas foi de extrema relevância para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem do garoto. E de fato, sobretudo na situação especifica de Jonas, nos parece que era a opção mais adequada. Se há 30 anos a Pedagogia Surda estava na informalidade, hoje não mudou muita coisa. Talvez o que tenha mudado é que hoje a Pedagogia Surda está pelo menos sendo pautada.
Outra metodologia educacional que pudemos perceber no filme “E seu nome é Jonas” foi à comunicação total. Essa metodologia não foi utilizada na educação do Jonas. Mas estava presente no filme, sobretudo na relação da família que apresentou à mãe de Jonas a comunidade dos surdos. Eles comunicavam com o filho através de sinais, mas ao mesmo tempo o filho estava matriculado numa instituição que utilizava o Oralismo. E que abominava a utilização da língua de sinais no processo de desenvolvimento da aprendizagem das crianças surdas. Talvez tal fato tenha se dado pela condição da mulher, que apesar de ser surda conseguia oralizar. Nessa linha a respeito da Comunicação Total, Kalatai (2012) alerta para o fato de que essa metodologia não traz resultados satisfatórios pelo fato de defender o uso simultâneo das duas línguas – “a fala e os sinais (biomodalismo)” trata-se de duas línguas distintas e com estruturas diferentes que dificulta a aprendizagem. Outro fator importante a se destacar em relação à Comunicação Total é que essa metodologia não se opõem ao Oralismo, no entanto é considerada um passo adiante no reconhecimento de que há alternativas para além da imposição do método oralista. No entanto como vimos anteriormente, não deixa de ser insuficiente nas palavras de Kalatai.
Por fim podemos perceber no filme a presença da metodologia Bilíngue De acordo com Kalatai (2012) “a metodologia Bilíngue destaca que os surdos adquirem conhecimentos por meio do canal visual e a mistura entre línguas, utilizadas na Comunicação Total, dificultava a aquisição do conhecimento pelos surdos, pois cada língua tem características próprias e independentes, tornando-se assim impossível falar ambas as línguas (sinalizada e oral) ao mesmo tempo no âmbito escolar”. E essa tem sido a luta do Povo Surdo.
Nós diagnosticamos em nosso campo a imperativa necessidade da Educação Bilíngue de Surdos. A partir desses lugar que falamos, contamos a história das lutas do Movimento Surdo Brasileiro em defesa das nossas Escolas Bilíngues. A história em defesa das nossas escolas especificas vem de tempos longínquos... Nós, os surdos, não queremos ser tutelados, queremos o exercício da liberdade pela forma e escolha linguística e cultural condizente com o nosso modo de viver e experienciar, de sermos surdos, diferentes dos ouvintes. Somente nós, surdos, que sabemos o que é melhor para nós, da forma como precisamos ser educador...” (Campello, 2014; 73).
Não é uma tarefa fácil, sobretudo pela especificidade dessa luta, pois a violência contra os Surdos é uma espécie de violência simbólica, que inclusive não é visto como violência. E é uma luta que bate de frente com o Estado, que por sua vez é um instrumento de dominação e de imposição de uma cultura hegemônica. Mas o movimento Surdo não tem duvida que lutar pelos seus direitos é a única alternativa.
O filme “E seu nome é Jonas” termina com Jonas sendo matriculado numa Escola para crianças surdas – que tem uma visão sócio-antropológica da surdez e que utiliza o bilinguismo como metodologia. Ele então não se sentirá mais isolado no mundo, pois existem crianças que compartilham a mesma língua dele – a língua de sinais, e, por conseguinte a mesma cultura. Ele se sente bem ambientado e se reconhece naquele espaço. O que contribuirá para que o seu processo de ensino-aprendizagem ocorra satisfatoriamente.
O filme termina, mas a vida real continua e infelizmente nem sempre o final é feliz para muitos outros Jonas. Muitos outros Jonas que são rotineiramente violentados. Isso mesmo – violentados. Pois o que é tratar o diferente como um deficiente se não uma violência?! Violência tanto contra os Surdos como com suas famílias que são ludibriadas, que não encontram o apoio necessário por parte do Estado para que possam educar seus filhos de forma adequada. A visão clinico-terapêutica da Surdez não foi superada – ela está ai. E por que ainda está ai? Por que gera lucro. Por que alguns poucos se beneficiam da ignorância da grande maioria. Desse modo os desafios para que essa situação se modifique não são pequenos, pois é uma luta que vai contra um modelo hegemônico na sociedade.
No entanto o povo Surdo tem tomado consciência e lutado para modificar essa realidade. Sobretudo a partir da atuação em dois campos: No político e no educacional. No campo politico lutando por uma legislação que garanta direitos para o povo Surdo e no educacional lutando por metodologias como o Bilinguismo e a Pedagogia Surda. E a partir dessa luta conseguiu-se importantes conquistas. Dentre estas conquistas uma no meu modo de ver, que foi fundamental, foi dar visibilidade a essa causa. Por exemplo, quando hoje ligamos a televisão e vemos a presença de interpretes de LIBRAS em pronunciamento políticos ou mesmo em telejornais – o que evidencia o reconhecimento da existência de uma comunidade que utiliza essa língua. Outro fator é a presença da disciplina de LIBRAS nos cursos de licenciatura que tem por finalidade a formação de professores. E isso é muito importante por que por um lado possibilita uma maior produção acadêmica a respeito dessa questão, inclusive a partir da própria perspectiva dos Surdos. E por outro lado tem a responsabilidade de formar professores que poderão encontrar um Jonas pela frente e que diante dessa situação poderá ou não reproduzir o discurso hegemônico.
CALDAS, Ana Luiza Paganelli. Movimento Surdo: identidade, língua, cultura. Trad. Rev. Luiz Daniel Rodrigues. In: Um olhar sobre nós surdos: leituras contemporâneas. P. 58-147. – 1 Ed. – Curitiba, PR: CRV, 2012.
CAMPELLO, Ana Regina; Resende, Patrícia Luzia Ferreira. Em defesa da escola bilíngue para surdos: a história de lutas do movimento surdo brasileiro. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 71-92. Editora UFPR.
GERALDI, João Wanderley. Ancoragens: estudos bakhtinianos. São Paulo/SP: Pedro e João, 2010.
KALATAI, Patrícia; Streiechen, Eliziane Manosso. As principais Metodologias Utilizadas na Educação dos Surdos no Brasil. Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus Irati, 2012.
MCCLEARY, Leland. (2003) Orgulho de ser surdo. In: ENCONTRO PAULISTA ENTRE INTERPRETES E SURDOS, 1, (17 de maio) 2003, São Paulo: FENEIS-SP (Local: Faculdade Sant´Anna).
PETRILLI, Susan. Em outro lugar e de outro modo. São Paulo/SP: Pedro e João, 2017.
RODRIGUES, Carlos Henrique. Situações de Incompreensão Vivenciadas por Professor Ouvinte e Alunos Surdos na Sala de Aula. Faculdade de Educação da UFMG: Belo Horizonte, 2008.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a Cultura Surda. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008.
*Trabalho Apresentado á Disciplina de LIBRAS, do Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins -UFT.