sexta-feira, 31 de maio de 2024

Marcuse: Novas formas de controle

Com o avanço da técnica e a benesses que ela nos trás era de se esperar que vivêssemos numa sociedade mais livre - que tivéssemos mais tempo para desenvolver toda a nossa potencialidade criativa. Mas não é isso que acontece na prática. Quanto mais avança a técnica menos liberdade temos - a não ser para nos autoexplorar em busca de metas inalcançáveis.

Marcuse chama atenção para essa questão ao analisar a ideologia da sociedade industrial e a formação do indivíduo unidimensional - que acredita ser livre quando na verdade está submisso ao sistema que o transforma em máquina - agindo a partir de uma racionalidade tecnológica. O indivíduo unidimensional perde a sua capacidade de crítica e consequentemente de mudar uma determinada realidade. Pois a crítica é fundamental para vislumbrarmos perspectivas de mudanças qualitativas. 

Bastos (2014) afirma que:

“o homem unidimensional, para Marcuse (1982), refere-se principalmente a um modo de vida condizente com o capitalismo vigente e também se expande de forma consensual e com grande tendência totalizante pelo tecido social: de um lado, esse "homem" faz avançar os pressupostos do mercado pelo território econômico, social, político, cultural, científico, tecnológico etc. De outro, avança ainda pelo território subjetivo, notadamente pela produção do desejo inconsciente. Daí que essa "unidimensionalidade" está atualmente pelos quatro cantos do planeta: ela está praticamente em todos os lugares e em lugar algum.”

Ou seja, o homem unidimensional é produto do capitalismo - e do seu projeto totalizante de domínio por meio de uma racionalidade tecnológica que avança para todos os âmbitos da vida social. Essa racionalidade tecnológica substitui a racionalidade humana através da introjeção de valores que leva o indivíduo a se comportar de determinadas formas. Isso acontece sem o uso da força, por isso nosso filósofo (1973) chama atenção para novas formas de controle.

Ao tratar sobre as novas formas de controle, o primeiro ponto para o qual Marcuse chama atenção (1973) é para falta de liberdade nas ditas sociedades desenvolvidas industrialmente. Ou seja, onde há um alto desenvolvimento tecnológico. E consequentemente mais possibilidade para melhoria das condições de vida. Essa falta de liberdade é aceita sem questionamentos. Nessa linha ele (1973) nos diz que “os direitos e liberdades que foram assaz vitais nas origens e fases iniciais da sociedade industrial… estão perdendo seu sentido lógico.” Ao se tornar dominante, esses direitos e liberdades são deixados de lado em troca do atendimento das necessidades dos indivíduos. Com isso, “independência de pensamento, autonomia e direito a oposição política estão perdendo sua função crítica básica”.

De acordo com Marcuse (1973) na sociedade industrial o poder político é afirmado a partir do domínio sobre o processo mecânico. É importante salientar que a máquina não está acima do indivíduo. Pois o seu poder nada mais é do que o poder do homem armazenado e projetado (aqui abrimos um parêntese para questionar a ideia de inteligência artificial).

Marcuse (1973) salienta que “o mundo do trabalho se torna a base potencial de uma nova liberdade para o homem no quanto seja concebido como uma máquina e, por conseguinte, mecanizado”. Ou seja, liberdade de se autoexplorar e alienar-se. Nesse linha, não é possível compreender a sociedade industrial e sua ideologia a partir do sentido tradicional dado aos termos liberdade econômica, política e etc. Mas sim a partir da compreensão de que (1973. p. 25-26), quando se fala em:

“liberdade econômica significaria liberdade de economia - de ser controlado pelas forças e relações econômicas; liberdade de luta cotidiana pela existência, de ganhar a vida. Liberdade política significaria a libertação do indivíduo da política sobre a qual ele não tem controle eficaz algum. Do mesmo modo, liberdade intelectual significaria a restauração do pensamento individual, ora absolvida pela comunicação e doutrinação em massa, abolição da “opinião pública” juntamente com os seus forjadores.

O que para o nosso filósofo é irrealizável, não pelo aspecto utópico dessas proposições. Mas pelas forças que impedem essa realização. Entre elas o processo de introjeção de valores. Daí que ele dirá que (1973) “a mais eficaz e resistente forma de guerra contra a libertação é a implantação das necessidades materiais e intelectuais”. A partir daí, nosso filósofo aprofundará como se dá a criação de falsas necessidades, transformando o indivíduo num sujeito submisso, sem perspectiva crítica e por conseguinte de mudanças.

“Tais necessidades têm um conteúdo e uma função sociais determinados por forças externas sobre as quais o indivíduo não tem controle algum" (MARCUSE, 1973, p. 26).

Nos parece que com o avanço da técnica, sobretudo a popularização da internet, essa questão apontada por Marcuse tornou-se ainda mais evidente. Avançando inclusive para comunidades tradicionais, que em que pese não terem se desenvolvido do ponto de vista industrial, estão inseridos no mercado global por meio da rede mundial de computadores.

Esse ponto mostra o avanço da racionalidade tecnológica e a necessidade de pensarmos formas de resistência a esse processo autoritário de desumanização da sociedade, restituindo por meio da crítica, à racionalidade humana. Essa tarefa torna-se possível através de uma pedagogia radical, que utiliza diferentes estratégias didático-pedagógicas, opondo-se a uma pedagogia unidimensional, caracterizada pela imposição de uma positividade alienante.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.

sábado, 25 de maio de 2024

Projeto de Vida – um breve relato da aula campo na Agrotins

Foi numa quinta-feira  (16 de maio de 2024), pensa num calor! Só quem mora em Palmas sabe bem. Mas o sorriso no rosto dos estudantes mostravam que o sol de 50 graus (na sombra) não seria um problema. Da nossa parte o entusiasmo não era o mesmo. Mas como docente compreendiamos a importância daquela vivência para que aqueles estudantes pudessem conhecer e vislumbrar possibilidades relacionadas ao mundo do trabalho. 

Durante as escutas realizadas nas aulas do projeto de vida observamos que há uma quantidade considerável de estudantes que têm o “sonho” profissional ligado ao agro - que além de está na origem desses meninos e meninas, também estamos falando do motor propulsor da economia regional e nacional. E durante a aula-campo eles puderam vivenciar isso. Viram a grandeza desse setor através dos estandes de exposições. Das diferentes perspectivas profissionais que vão além da engenharia agronômica, o uso da tecnologia cada vez mais presente e a soluções sustentáveis tão necessárias no contexto de crise climática que vivemos. 

A Agrotins é considerada a maior feira de tecnologia agropecuária da região norte do país, e que nesse ano chegou na sua 24ª edição - tendo como tema: Bioeconomia. Ou seja, economia da vida. É um tema interessante sobretudo quando analisamos que o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, sobretudo a partir do setor ruralista, tem como legado um rastro de sangue e devastação. Ou seja, uma economia de morte. 

Acreditamos que essa mudança de paradigma é necessária, e a nossa crença nesse sentido está nas novas gerações que estão sendo formadas para atuar nesse setor. Mas já observamos algumas mudanças, por exemplo, durante nossa atividade foi possível ouvir na rádio Agrotins uma entrevista ao vivo com ninguém menos do que Narubia Werreria - Indigena, ambientalista e atualmente ocupando o cargo de Secretária dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins. 

A aula-campo ocorreu de forma tranquila, com os estudantes tendo autonomia de circular conforme seus interesses. Posteriormente foi solicitado que fizessem um relatório da atividade, e de forma unânime todos ressaltaram como excelente. Pontuando os aspectos que mais chamaram atenção deles como o uso de recursos tecnológicos de última geração. Da nossa parte coube problematizar o espaço  (ou a falta) da agricultura familiar e camponesa que é quem por exemplo garante uma alimentação escolar de qualidade.

Nossa avaliação da atividade também foi positiva. Creio termos alcançado o objetivo proposto. 

Nós temos consciência da importância de atividades como essa para que os nossos estudantes, sobretudo do componente curricular de Projeto de Vida, possam vivenciar experiências que contribuíram para sua formação. No entanto não é fácil tirar um estudante da sala de aula. E digo isso não só pela questão estrutural, como transporte. Ou pelo impacto na rotina escolar. Mas pelo fato de que muitos acham que é um “passeio” – uma fuga da escola, da sala de aula. Quando na realidade a aula campo proporciona ao estudante exercer a técnica da observação, coletando dados a partir de uma determinada realidade que lhe permitirá aprofundar os estudos desenvolvidos em sala de aula. Ou seja, articular teoria e prática. 

Outro aspecto não menos importante é notar que essas atividades também proporcionam a muitos estudantes acesso a lugares que nunca tiveram a oportunidade de conhecer (estamos falando de estudantes de escola pública localizada numa região periférica). Foi incrível ver nos rostos deles a alegria de estarem vivendo aquele momento. Imagino o quanto isso não marcará suas vidas. 

Retornamos para escola, e depois para casa, extremamente cansados, pois pensa num clima que castiga. O sol do mês de maio no Tocantins no periodo vespertino é cruel. Mas o sorriso de satisfação no rosto deles mostrava que valeu a pena.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Um poema para Palmas









No coração do cerrado,
as margens do  rio Tocantins.
Protegida pela serra do Lajeado
Capital do Estado do Tocantins.

Ainda tão jovem

mas já é uma realidade.

Personalidade forte

és uma bela cidade.


Cada dia atrai mais gente

em busca de uma  guarida.

Com o suor do trabalho

constroem uma nova vida.


E assim vai se desenvolvendo

a capital do Tocantins.

Mostrando muita pujança

problemas? também tem sim.


Sabe muito bem

quem mora do outro lado da ponte.

Que pega o eixão

que segue sem saber pra onde.


Especulação imobiliária

descaso com a saúde.

Violência em todo canto.

não há voz pra juventude.


Mas há sempre uma praia

pra gente relaxar.

Um bar em cada esquina

cerveja pra celebrar.


Para esquecer uma vida medíocre

também vamos beber.

Se a coisa complicar

há uma igreja perto de você.


Há outras tantas cidades

dentro dessa cidade.

Se há algo que a identifica

é a multiculturalidade.


As feiras são um caso à parte

e o são joão então.

Falam que é o melhor pôr do sol

essa é Palmas, meu irmão.


Pedro Ferreira Nunes - Um rapaz latino-americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Transporte Urbano de Palmas e a luta por Tarifa Zero

Esses dias voltando do Lajeado para Palmas tive que pegar um coletivo até a casa onde estou ficando no Aureny I. Assim que cheguei no ponto já me certifiquei de pegar o dinheiro da passagem. Só então quando o ônibus chegou é que me lembrei que aos finais de semana (e feriados) o transporte público é gratuito. Fiquei pensando comigo o quanto isso não é importante para quem mora na periferia e depende do transporte público. O transporte coletivo gratuito possibilita a essas pessoas terem acesso a equipamentos culturais que estão centralizados como cinemas. Ou visitar parentes e amigos que moram no outro extremo da cidade.

Me lembrei disso após a declaração do Carlos Amastha, pré-candidato a prefeito de Palmas, criticando o modelo de gestão atual do transporte público a cargo do executivo municipal. E defendendo o modelo de concessão. Ou seja, se caso for eleito, Carlos Amastha certamente irá rever o modelo atual. Passando para iniciativa privada a gestão do transporte público da capital. O discurso certamente será em torno da promessa de melhoria dos serviços.

Não sou um usuário frequente do transporte público da capital. De modo que não posso dizer se o serviço atual é de qualidade e atende as necessidades dos usuários. Mas posso afirmar que não é tão inferior em relação ao anterior (que utilizei quase diariamente nos tempos da graduação na UFT). E com planejamento e investimento pode melhorar.

Diante disso vejo como um retrocesso qualquer proposta de retorno ao modelo anterior. Devemos sim lutar para que o modelo atual seja melhorado. Inclusive ampliando a gratuidade para mais usuários, como por exemplo aqueles que estão desempregados e muitas vezes não tem condições de se deslocar em busca de serviços. O que não é possível num modelo de gestão dominado pelas empresas que visam exclusivamente o lucro.

De acordo com Santini (2019) “a adoção da tarifa zero está entre as soluções mais interessantes para cidades, com potencial para melhorar o trânsito, o bem-estar e a qualidade de vida não só de quem usa as redes abertas, mas de toda a população.” Essa compreensão é fundamental para que a população compreenda que defender um serviço de transporte coletivo urbano de qualidade é tarefa de todos os cidadãos independente se é ou não usuário desse serviço. Pois políticas como essa afetam a vida de todos.

Santini (2019), explica que “além da fonte de recursos, o formato das políticas de passe livre também variam. Elas podem ser universais ou parciais, considerando que a tarifa zero pode ser adotada para atender apenas parte do público, funcionar somente em parte da rede ou estar limitada a determinados horários”. 

Ainda estamos distantes para que a tarifa zero se torne uma política universal. Enquanto isso, não podemos deixar de reivindicar tarifas zeros parciais como a adotada pela Prefeitura de Palmas. E em outras partes do Brasil voltadas para determinados públicos como os idosos.

Sobre isso, Santini (2019) destaca que “essa é uma conquista considerável que deve ser valorizada. Garantir mobilidade para essa faixa etária é uma forma de incentivar quem não está mais no mercado de trabalho a sair de casa e seguir ativo.” Ele também salienta que há “outras políticas de passe livre parcial – como as que atendem estudantes, portadores de necessidades especiais, pessoas  de baixa renda e integrantes de determinadas categorias profissionais, como carteiros, policiais e bombeiros, entre outras. Ou ainda, como já indicado, as que incluem dias e horários específicos ou áreas limitadas.” Santini (2019) destaca que “as regras variam de região para região e, normalmente, os benefícios são conquistas relacionadas à pressão social”.

É nesse sentido que caminhamos para o encerramento dessas linhas. Chamando atenção para a necessidade da pressão social para que essa conquista da população palmense não seja perdida. Outro fator é usar esse como um dos critérios na hora de escolher em quem votar nas eleições municipais. As empresas certamente terão os seus representantes nessas eleições, pois certamente eles têm interesse em voltar a controlar o serviço. Tanto que tentaram sabotar o início da implantação  do modelo atual.

Enfim, concluímos com os questionamentos do Santini (2019), Transporte é um direito ou um serviço a ser oferecido? Queremos cidades que privilegiem o ganho coletivo ou cidades pensadas para tentar maximizar a liberdade individual acima de tudo, com prioridade de investimentos para o transporte individual motorizado?

Por Pedro Ferreira Nunes - Especialista em Filosofia e Direitos Humanos e Professor da Rede Estadual da Educação do Tocantins.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Os afetos que circulam entre os muros das escolas

Imaginem a cena. O professor começa a dar sua aula tranquilamente quando um estudante questiona sobre as notas que obteve no bimestre. O professor pergunta onde ele conseguira aquela informação já que as notas ainda não haviam sido divulgadas oficialmente. Mas nem espera pela resposta, logo deduz que tinham sido vazadas pelas duas representantes dos estudantes que tinham participado do conselho de classe. Outros estudantes também começam a questionar a postura dos professores durante o conselho de classe, sobretudo o modo como se referiam a alguns alunos, chegando-o a chamar um deles de limitado. Acuado o professor começa a questionar a postura das representantes dos estudantes no conselho, ao ponto de lhes compararem a vagabundas. A partir daí a discussão sai de controle e um estudante acaba tendo uma reação mais extremada e atinge fisicamente uma colega. Esse estudante que já vinha sendo bastante visado pelos professores devido a uma série de atos de indisciplina acaba sendo expulso da escola.

A cena descrita é do filme francês “entre les murs” (que no Brasil recebeu o título de “Entre os muros da escola”) de 2008, dirigido por Laurent Cantet. Baseado num livro (com o mesmo título) de autoria de François Bégadeau, que relata a experiência de um jovem Professor de Francês numa escola na periferia de Paris (França) marcada por muitos conflitos entre professores e estudantes. 

O caminho tomado pela direção escolar para superar ou apaziguar os conflitos é o autoritarismo. A questão é que num ambiente autoritário como aponta Freire (1987) não há diálogo, e onde não há diálogo a tendência é os indivíduos construírem muros em torno de si. O filme mostra muito bem essa realidade. E a cena que destacamos no início ainda mais ao mostrar um afeto que circula num ambiente marcado pelo autoritarismo e pela falta de diálogo, esse afeto é o ódio.

De acordo com Espinoza (2014, p. 44) “o ódio é uma tristeza concomitante à ideia de uma causa externa”. Trata-se, portanto, de um afeto que limita ou diminui a nossa potência de agir. Isto é, quando agimos dominado por esse afeto, não agimos racionalmente. Acabamos cometendo uma violência, seja verbal como no caso do Professor ao chamar as estudantes de vagabundas, ou como no caso do estudante que feriu uma colega fisicamente, ainda que de forma não intencional. Ou pior, quando analisamos acontecimentos trágicos como o massacre numa escola pública de Suzano (São Paulo) em março de 2019.

Numa perspectiva aristotélica diríamos que o problema tanto por parte dos professores como dos estudantes dessa escola é a falta de moderação dos afetos. Quando não há essa moderação ao invés de agirem de forma virtuosa, agem pelo vicio, ou da falta ou do excesso. De acordo com Aristóteles (1991, p. 36) a virtude é “uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania [...] um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria”. Nosso filósofo diria que expulsar o estudante não seria a solução. É uma tentativa equivocada de resolver o problema sem atacar as causas reais desse problema. Além de ser uma atitude que busca mobilizar um outro afeto no ambiente escolar, o medo. Dando a seguinte mensagem: - Ou você se enquadra ou nós lhes expulsamos.

Pedro Ferreira Nunes. In. OS AFETOS QUE CIRCULAM ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: A Importância da Ética para Promoção dos Direitos Humanos, 2021. Trecho do artigo apresentado como requisito para conclusão da Especialização em Filosofia e Direitos Humanos. 

domingo, 5 de maio de 2024

Poema: Confissões de Malthus

Eu acreditei ser um Santo, 
mas sucumbi diante 
da primeira tentação.
Ai de mim, Ai de mim
Não tenho mais salvação.
 
Deus sabe o quanto sofri,
Deus sabe o quanto resisti.
Mas eu cai
Eu cai.

E cairia mil vezes 
diante daquele olhar,
Aquela boca,
Ah, aquela boca.
Como não querer beijar. 

Uma chama acendeu,
dentro do meu coração. 
Já não sou o mesmo,
não tenho mais salvação.

Desse amor,
não consigo escapar.
Como desejo essa mulher,
não sei explicar. 

Meu erro foi acreditar 
que eu era um Santo. 
Sou um pobre mortal,
que ama tanto.

Amo tanto essa mulher,
que só de pensar.
Meu corpo fica em chama,
não consigo me controlar.

Eu acreditei ser um Santo, 
mas sucumbi diante 
da primeira tentação.
Ai de mim, Ai de mim.
Não tenho mais salvação. 

Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Comentários sobre o ato do SINTET na semana em defesa e promoção da educação pública em Palmas

Quando vi o horário e o local da convocação do ato organizado pelo SINTET, realizado no dia 26 de abril, dentro da programação da 25° semana nacional em defesa e promoção da educação pública. Confesso que fiquei um pouco sem entender. Sobretudo por que eu esperava um outro tipo de manifestação. A minha verve subversiva de outros tempos vislumbrava uma marcha até um órgão público – quem sabe uma ocupaçãozinha simbólica ou pelo menos parar o trânsito – chamar atenção da opinião pública. 

O estranhamento não foi só meu. Numa conversa com um colega ele disse que também não tinha entendido. Mas já tínhamos nos articulado e conseguido aderir a paralização. Ou seja, independente de como seria estaríamos no ato. E Inclusive comentei com ele que o fato de conseguirmos nos articular para que não houvesse aula no dia já era de um grande simbolismo.

Talvez tenha sido daí que veio uma certa decepção nossa com o movimento. Os professores da nossa escola aderiram praticamente de forma unânime a paralisação. Garantindo a direção da escola que não haverá prejuízo a comunidade escolar quanto aos dias letivos determinados em lei. O problema é que temos a visão só da nossa escola. Já os camaradas que estão na direção do Sindicato conseguem ter um olhar abrangente. E a partir desse olhar fizeram uma leitura de que era o que podia ser feito no contexto atual.

O ato em si, dialogando com uma colega, foi voltado mais para dentro. – a ideia aqui é apresentar o sindicato. Foi a leitura dela com a qual concordei. Os discursos no microfone giraram em torno do óbvio. Ou seja, de falar o que todos sabem. Mas não condenamos a estratégia dos camaradas da direção do Sindicato. Pois eles tem razão de que é preciso fortalecer a base – fazendo trabalho de base – para que o sindicato tenha condições de fazer um enfrentamento maior. 

Não é uma tarefa fácil no contexto de polarização política que vivemos. Marcado pela persistência de uma narrativa de criminalização do movimento sindical e uma crença na utopia liberal.

Não tenhamos ilusão camaradas. Nenhuma conquista do povo trabalhador cai do céu. É necessário muita luta para que nossos direitos sejam garantidos. E essa luta é coletiva. E sendo uma luta coletiva precisamos de um instrumento que articula e organiza a categoria. E esse instrumento é o sindicato. No nosso caso, o SINTET. Por tanto precisamos fortalecer esse instrumento fazendo parte dele.

E fazer parte é inclusive lutar por mudanças na sua direção e linha política. Sobretudo no que se refere a direção estadual e algumas regionais. Por outro lado é preciso reconhecer o trabalho da regional de Palmas com um grupo bem combativo.

Um exemplo da linha combativa dessa regional é as conquistas para os profissionais da rede Municipal da educação de Palmas. Todo mundo fala da diferença salarial entre Estado e Município na Capital, mas esquecem de falar que essa conquista é fruto da luta coletiva dos trabalhadores da educação da rede municipal organizados e liderados pelo SINTET.

Enfim, de todo modo o ato aconteceu. Se não foi o que esperávamos, pelo menos foi um momento prazeroso de reencontrar velhos camaradas e enxergar possibilidades. Digo isso sobretudo pelo discurso de dois professores recém-empossados no concurso da rede estadual da educação – uma paraense e um pernambucano – que ressaltaram a necessidade da luta coletiva. E para melhorar, o diário oficial daquele dia trouxe o anúncio da banca do concurso da educação da rede municipal de Palmas e os respectivos números de vagas que serão ofertados.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins.