segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Crônicas da UFT: Repórter calango e o agronegócio tocantinense.

Se há uma característica marcante na cobertura da grande mídia brasileira das questões da nossa sociedade poderíamos dizer que é a omissão. Logo podemos dizer que o problema não é a cerca do que se diz, mas o que não se diz. E ao ouvir o repórter calango – programa experimental dos estudantes do curso de comunicação da UFT, veiculado na UFT-FM sobre o agronegócio tocantinense percebi que a UFT não tem deixado nada a desejar na formação de profissionais que seguiram essa linha.

Quem ouviu o programa pôde perceber a força e pujança do agronegócio tocantinense que é tido como o motor propulsor da economia local. Até ai nenhuma novidade – o programa não disse nenhuma inverdade. Ora, não é segredo para ninguém a força econômica do agronegócio, que na “crise” atual foi o único setor que não foi atingido. O que mereceu inclusive uma campanha da rede Globo para o setor. Logo, portanto o nosso objetivo aqui não é falar sobre o que foi dito, mas o contrario, o que não foi dito, isto é, o que se omitiu. Faremos isso em dez questões e para tanto nos utilizaremos dá ultima frase dita pelos apresentadores – “o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo”. Será que de fato o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo?

1-      Se isso significa gerar riqueza para uma minoria através da espoliação dos povos campesinos então é verdade, está indo no caminho certo;
2-      Se isso significa priorizar o cultivo de monocultura para exportação em detrimento da produção diversificada de alimentos então é verdade, está indo no caminho certo;
3-      Se isso significa grilar terras públicas e de comunidades tradicionais para ampliação desse tipo de lavoura e criação de gado então é verdade, está indo no caminho certo;
4-      Se isso significa utilização de mão de obra escravizada, onde o Tocantins esta sempre ocupando as primeiras posições então é verdade, está indo no caminho certo;
5-      Se isso significa a utilização abusiva de agrotóxico contaminando o meio ambiente, a produção de alimentos e a saúde da população então é verdade, está indo no caminho certo;
6-      Se isso significa o aumento da violência contra os povos tradicionais – indígenas, quilombolas e camponeses pobres e a usurpação dos seus territórios então é verdade, está indo no caminho certo;
7-      Se isso significa a substituição das florestas nativas e do bioma natural do cerrado pela monocultura da soja então é verdade, está indo no caminho certo;
8-      Se isso significa a construção de usinas hidrelétricas destruindo os rios para gerar energia para o agronegócio então é verdade, está indo no caminho certo;
9-      Se isso significa a flexibilização de leis ambientais que permitam o avanço de projetos como o MATOPIBA então é verdade, está indo no caminho certo;
10-  E por fim, se isso significa a expulsão gradativa dos povos tradicionais do campo para periferia das grandes cidades, para dar lugar à monocultura gerando riquezas apenas para uma pequena elite agrária então é verdade, está indo no caminho certo.

Sim, é verdade que o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo. Mas caminho certo para quem? Isso infelizmente é omitido. Bem como todos os pontos que elencamos acima. O lamentável é que numa universidade onde se deveria primar pelo debate e a pluralidade de ideias – mostra-se apenas um lado. O lado daqueles que querem que as coisas continuem caminhando no caminho certo, certo para eles, não para a maioria da população – que no final das contas é quem paga a conta.

Pedro Ferreira Nunes – é Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

“...Então, na mesma fala dos relâmpagos, digo:
essa é uma nação de bois.
Aqui entre arame e arame,
nos corredores, empurrados pela força das cercas
e pelas armas da nação
formamos um ajuntamento de gente saqueada ...”
                                                                                     Poema de um posseiro do norte do Tocantins

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