segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um retrato do fazer profissional do assistente social em Lajeado

Esses dias observando o trabalho de um assistente social na secretaria de assistência social em Lajeado me veio na lembrança às conversas com estudantes do serviço social a cerca do fazer profissional do assistente social. Especialmente por parte daqueles que já estão no campo de estagio – sobretudo no serviço público e se deparavam com um fosso muito grande entre aquilo que eles aprendiam na graduação e o que eles viam na prática.

Enquanto os estudantes recebem uma formação numa perspectiva progressista, especialmente nas universidades públicas, quando vão exercer a profissão acabam se tornando “operacionalizadores de politicas terminais” como diz o professor Dr. José Paulo Netto. Atitude que é tão criticada na formação, mas que, é a realidade da estrutura burocrática do estado brasileiro. Vejamos esse exemplo, que mostra bem o retrato do fazer profissional do assistente social em Lajeado.

A secretaria de assistência social de Lajeado estava fazendo um recadastramento e o cadastramento de famílias que estão solicitando do poder público uma área para construção de casas no projeto de expansão urbana do município que tem sido promovido pela prefeita Márcia Reis (PSD). Até ai tudo bem. De fato cabe ao serviço social do município fazer esse cadastro para verificar a realidade socioeconômica das famílias, e assim contemplar aquelas que de fato necessitam. No entanto, não é bem assim que as coisas funcionam. Não no serviço social no interior do interior do Brasil. A verdade é que o assistente social estava ali apenas para homologar uma decisão de cima para baixo, apenas executar o que já estava decidido. As pessoas que iam ali fazer o cadastro já havia ganhado seus lotes, independente da sua situação socioeconômica, elas apenas repassavam o numero do lote e a quadra e o assistente social fazia o cadastro que não passava de mera formalidade – Uma prova caso surja algum processo questionando a doação de áreas públicas em Lajeado em troca de apoio politico.

Qual deveria ser a postura do assistente social nesse processo? De duas uma – Ou ele se rebela contra essa farsa – denunciando ao ministério público e buscando apoio junto ao conselho regional de Serviço Social – e com isso atraindo alguns inimigos e correndo o risco de ser demitido. Ou aceita o papel de operacionalizador de politicas terminais – de um simples profissional fadado a preencher e assinar fichas homologando decisões de cima para baixo. Esta que, aliás, parece ter sido a decisão do assistente social de Lajeado. Mas não nos aprecemos em condenar o pobre assistente social da secretaria de assistência social de Lajeado. Sozinho, o que ele poderia fazer?

Ao contrario da maioria dos estudantes de serviço social – essas questões sobre o fosso que existe entre a formação e o fazer profissional do assistente social nunca me incomodaram durante o período em que estava cursando a faculdade de serviço social. Sobretudo por que para mim sempre esteve muito claro os limites do assistente social no serviço público. Dai que a minha opção foi militar junto ao movimento popular onde poderia atuar numa perspectiva libertadora. Já que é obvio que o serviço social no espaço institucional serve unicamente para manter a ordem estabelecida – o assistente social não fará mais do que executar politicas terminais,pois esta é a logica de funcionamento da assistência social institucionalizada.

Certa vez um camarada do curso de Serviço Social da Unifesp em Santos que acabava de chegar de um encontro de profissionais e estudantes questionava o fato de que nesses espaços e durante a formação não se retratava a realidade do fazer profissional tal como era na prática. Que tal fato contribuía para que muitos estudantes se desiludissem com a profissão. Pois quando iam para o exercício profissional percebiam que nada daquilo que haviam aprendido durante o curso lhes serviria ali. Isso mostra a necessidade de uma ampla discussão no seio do serviço social a cerca de como diminuir o enorme fosso entre a formação e a prática, pois é fato que esse fosso existe. E a saída desse fosso tem que ser de forma coletiva.


Pedro Ferreira Nunes – cursou a faculdade de Serviço Social. É educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

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