Se há uma característica marcante na cobertura da
grande mídia brasileira das questões da nossa sociedade poderíamos dizer que é
a omissão. Logo podemos dizer que o problema não é a
cerca do que se diz, mas o que não se diz. E ao ouvir o repórter calango –
programa experimental dos estudantes do curso de comunicação da UFT, veiculado
na UFT-FM sobre o agronegócio tocantinense percebi que a UFT não tem deixado
nada a desejar na formação de profissionais que seguiram essa linha.
Quem ouviu o programa pôde perceber a força e
pujança do agronegócio tocantinense que é tido como o motor propulsor da
economia local. Até ai nenhuma novidade – o programa não disse nenhuma
inverdade. Ora, não é segredo para ninguém a força econômica do agronegócio,
que na “crise” atual foi o único setor que não foi atingido. O que mereceu
inclusive uma campanha da rede Globo para o setor. Logo, portanto o nosso
objetivo aqui não é falar sobre o que foi dito, mas o contrario, o que não foi
dito, isto é, o que se omitiu. Faremos isso em dez questões e para tanto nos
utilizaremos dá ultima frase dita pelos apresentadores – “o agronegócio
tocantinense esta indo no caminho certo”. Será que de fato o agronegócio tocantinense
esta indo no caminho certo?
1- Se
isso significa gerar riqueza para uma minoria através da espoliação dos povos
campesinos então é verdade, está indo no caminho certo;
2- Se
isso significa priorizar o cultivo de monocultura para exportação em detrimento
da produção diversificada de alimentos então é verdade, está indo no caminho
certo;
3- Se
isso significa grilar terras públicas e de comunidades tradicionais para
ampliação desse tipo de lavoura e criação de gado então é verdade, está indo no
caminho certo;
4- Se
isso significa utilização de mão de obra escravizada, onde o Tocantins esta
sempre ocupando as primeiras posições então é verdade, está indo no caminho
certo;
5- Se
isso significa a utilização abusiva de agrotóxico contaminando o meio ambiente,
a produção de alimentos e a saúde da população então é verdade, está indo no
caminho certo;
6- Se
isso significa o aumento da violência contra os povos tradicionais – indígenas,
quilombolas e camponeses pobres e a usurpação dos seus territórios então é
verdade, está indo no caminho certo;
7- Se
isso significa a substituição das florestas nativas e do bioma natural do
cerrado pela monocultura da soja então é verdade, está indo no caminho certo;
8- Se
isso significa a construção de usinas hidrelétricas destruindo os rios para gerar
energia para o agronegócio então é verdade, está indo no caminho certo;
9- Se
isso significa a flexibilização de leis ambientais que permitam o avanço de
projetos como o MATOPIBA então é verdade, está indo no caminho certo;
10- E
por fim, se isso significa a expulsão gradativa dos povos tradicionais do campo
para periferia das grandes cidades, para dar lugar à monocultura gerando
riquezas apenas para uma pequena elite agrária então é verdade, está indo no
caminho certo.
Sim, é verdade que o agronegócio tocantinense esta
indo no caminho certo. Mas caminho certo para quem? Isso infelizmente é
omitido. Bem como todos os pontos que elencamos acima. O lamentável é que numa
universidade onde se deveria primar pelo debate e a pluralidade de ideias –
mostra-se apenas um lado. O lado daqueles que querem que as coisas continuem
caminhando no caminho certo, certo para eles, não para a maioria da população –
que no final das contas é quem paga a conta.
Pedro
Ferreira Nunes – é Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.
“...Então, na
mesma fala dos relâmpagos, digo:
essa é uma nação
de bois.
Aqui entre arame
e arame,
nos corredores,
empurrados pela força das cercas
e pelas armas da
nação
formamos um
ajuntamento de gente saqueada ...”
Poema de um posseiro do norte do Tocantins
Nenhum comentário:
Postar um comentário