terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Debate sobre Cuba

Por Pedro Ferreira Nunes

Quando comecei a me aproximar das ideias socialistas as primeiras leituras e fontes de inspiração que tive foram à revolução cubana. O exemplo de luta e resistência do povo cubano tendo o exército rebelde comandado por Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Raul Castro, Ramiro Valdez entre outros é uma inspiração não só para mim, mas para milhares de jovens no mundo que lutam contra o capitalismo rumo à construção do socialismo.

Mesmo com todas as transformações por que passou, e todas as contradições existentes em Cuba. É inegável a importância dessa experiência para os trabalhadores que se organizam e resistem na luta anticapitalista. Tanto que uma das maiores preocupações da esquerda mundial é saber os rumos que a revolução cubana tem tomado, sobretudo após o anuncio das reformas por parte do governo cubano agora chefiado por Raul Castro.

Uma coisa sempre me incomodou a cerca do debate sobre Cuba. – As posições extremistas (isto é, a logica dos 08 ou 80) de diversas organizações de esquerda. Aliás, não só sobre Cuba, mas também outros diversos debates.

Alguns setores da esquerda dizem que há muito tempo Cuba deixou de ser socialista, que é um capitalismo de estado. Outros afirmam que Cuba é um país socialista e não tecem nenhuma critica ao regime. Essas posições extremas levam a um sectarismo exagerado e que pouco consegue dialogar.

Eu prefiro um meio termo. É fato que Cuba não é um país capitalista, é não querer ver os importantes avanços conquistados pela revolução, sobretudo relativo à saúde, educação, cultura, esporte que resistem até hoje. Mas por outro lado dizer que Cuba é um país totalmente socialista é também não querer ver as contradições do regime cubano, como a falta de democracia e liberdade.

Fala-se muito sobre Cuba, mas sempre como fosse uma disputa de torcida. De um lado os que são contra, do outro, os que são a favor. No entanto essas posições simplistas não dão conta da complexidade que são as revoluções sociais.

Recentemente tive o privilegio de participar da Escola Latino Americana em São Paulo (06 a 12 de janeiro de 2014) que teve a presença do camarada Isbel de Cuba. – Que fez uma belíssima apresentação sobre ‘Os socialistas revolucionários e as reformas do governo cubano’.

Isbel conseguiu apresentar um quadro interessante da atual situação em Cuba. O perigoso caminho que o governo cubano tem tomado colocando em risco as importantes conquistas da revolução.

Reformas antipopulares

- Ampliação da lei tributaria
- Aumento de anos para aposentadoria
- Redução da caderneta de abastecimento
- Cortes na educação, saúde, cultura e esportes
- Expansão da pequena propriedade privada
- Demissão massiva de servidores públicos
- Militarização
- Código do trabalho anti-trabalhador

Reformas elitistas

- Nova lei migratória
- Outorgamento de terras em usufruto
- Livre comercialização de casas e carros
- Profissionalização do esporte
- Acesso a internet

Essas reformas que poderiam significar uma maior abertura em Cuba na verdade aumenta a desigualdade na ilha, já que nem todos têm condições financeiras de ter acesso a esses serviços.

Alguns direitos trabalhistas têm sido perdidos, e o movimento sindical que deveria cumprir o papel de defender o direito dos trabalhadores acaba atuando como agentes do estado. Por outro lado o movimento social em Cuba tem se mobilizado, sobretudo contra o racismo, as agressões ambientais e o movimento LGBTs e têm conseguido importantes avanços.

O quadro apresentado em Cuba não é animador, mas nem tudo esta perdido. É preciso lutar e fortalecer a lutadores valorosos tal como Isbel como também suas organizações que estão em Cuba lutando para preservar as conquistas da revolução, mas que também buscam superar os limites do atual regime cubano. E que possamos avançar para construir o socialismo verdadeiramente em Cuba, na América latina em todo o mundo.


Hasta la victoria siempre!

Pedro Ferreira Nunes

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