Uma
das características das eleições no interior é o disse me disse,
isto é, a fofoca, o mexerico, os boatos, o falatório. Utilizando-se
da falta de informação da maioria da população. Implanta-se
noticias com o objetivo de atingir o adversário e espalhar um clima
de incerteza. Essa tática é velha e tem um nome – mal politica ou
politicagem. Diante disso se percebe que a regra das eleições no
interior é não ter regra. A palavra de ordem é vale tudo – tudo
para se ganhar a disputa. E nesse sentido o disse me disse é uma
arma fundamental. Sobretudo no interior onde o boca a boca ainda é
mais forte que qualquer rede social.
É
incrível como diariamente surge um novo boato – é a candidatura
de fulano de tal que foi impugnada pela justiça, é uma pesquisa
(fictícia) que dá conta da liderança de um determinado candidato,
são ameaças de retirada de direitos, são promessas mirabolantes de
modernização da cidade e por ai vai. E o disse me disse rola solto.
– Hum,
fulano de tal falou isso e aquilo.
– É.
Sicrano disse poucas e boas.
Tais
boatos não surgem do nada. É fato que nosso povo é bastante
criativo, mais daí inventar essas estorinhas do nada, sem nenhum
objetivo, eles não fazem. O disse me disse é implantado e tem um
objetivo claro – atingir o adversário de uma das formas mais vil
possível. Isto é – mentindo, caluniando, difamando. Ora, quem se
utiliza desse tipo de tática mostra se não fraqueza. Incapacidade
de combater com ideias e projetos o adversário.
E
não são poucos os candidatos que se utilizam dessa prática.
Implanta-se no seio do povo um boatinho de nada e logo, logo o disse
me disse irá transforma-lo em um fato verdadeiro. E através do boca
a boca que é muito eficaz no interior, mais eficaz que watsapp, que
facebook, que qualquer rede social – a cidade toda ficará sabendo
em poucas horas da novidade. E depois que o disse me disse se espalha
é difícil reverter o estrago que ele faz por onde passa. O que se
faz geralmente é criar outro boato para tentar desmentir o anterior.
E a eleição se transforma então numa guerra de disse me disse –
quem for mais eficaz na criação e na propagação desses boatos com
certeza levará a eleição. Mas essa realidade pode mudar, sobretudo
a partir do momento que a população tomar consciência que esta
sendo usada nessa correia de transmissão de boatos.
Que
candidatos e seus correligionários se utilizem desse tipo de
artificio para ganhar uma eleição é até compreensível. Ora, não
se pode esperar de políticos medíocres se não mediocridade. Agora
a população se deixar levar por esse disse me disse ai é
inaceitável. Sobretudo por que hoje em dia qualquer informação a
cerca das eleições e de candidaturas pode ser facilmente acessada
no site do tribunal superior eleitoral – perfil dos candidatos,
programa de governo, financiamento, situação junto à justiça. São
informações que podem ser acessadas por qualquer pessoa. Até mesmo
de um celular que tenha acesso a internet. É fato que boa parte da
população ainda não tem clareza a esse respeito. E mesmo aqueles
que têm acesso à internet não a utilizam como deveriam –
buscando informações na fonte e não reproduzindo boatos. Que essas
breves linhas possam contribuir minimamente para que comecemos a
superar o disse me disse da politica interiorana. E com isso os maus
políticos que se utilizam dessas táticas.
Pedro Ferreira Nunes - é Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio
Nenhum comentário:
Postar um comentário