John é um solitário – a
solidão é a sua companheira inseparável, sobretudo quando ele esta escrevendo
suas estórias. Ele escreve livros que não são publicados e muito menos lidos
por ninguém. Mas é a este oficio que dedica boa parte do seu tempo.De vez
enquanto resolve sair – na cidade onde vive não há muitas alternativas. Um
amante do punk rock tal como é tem que se contentar com o arrasta pé, que ele
frequenta não pela musica, mas para tomar cerveja e rir bastante das figuras impagáveis
que encontra que não muito raramente o espiram nas estórias que escreve.
John
é uma figura bastante conhecida e respeitada por ali, apesar do seu estilo bem
diferente e da vida um tanto quanto antissocial que leva. Ele nunca fora um
galã, um cara que fizesse sucesso com a mulherada – nem mesmo quando ainda não
era quem é. Ele sabe disso, sabe que não é bonito, também não é lá essas coisas
como amante, sabe que não faz o perfil das mulheres daquela cidade, no entanto
ele não se incomoda nem um pouco com isso, tem a personalidade forte mais do
que o suficiente para aceitar-se tal como é.
Como
sempre não se arrumou para sair – vestiu uma calça jeans desbotada que ele
comprara num camelô, vestiu uma camisa preta que de tão gastada já estava
ficando branca, calçou uma sandália de coro, não passou perfume e nem usou
nenhum acessório, colocou um maço de palheiros no bolso e seguiu a pé apreciando
o lindo céu estrelado do lugar.Para John seria mais uma noite como outras que
já tivera na cidade – encontraria uns conhecidos, tomaria muita cerveja, quem
sabe até não dançaria um arrasta pé com alguma conhecida, mas ao final voltaria
para os braços da solidão.
Ao
chegar ao bar ele se sentou numa mesa com um amigo num canto reservado. Pediu
uma cerveja, acendeu um palheiro e ficou olhando o movimento. E como de costume
o forró estava animado – o salão estava cheio de gente dançando alegremente. E
para variar mais homem do que mulher – o que tornava mais difícil a
possibilidade de John e seu amigo saírem dali com uma companhia. O que não era
nenhuma novidade para John. Mas para sua surpresa ele notou que estava sendo
observado por uma linda mulher. – Ora, o que essa mulher viu em mim? Logo eu,
um sujeito sem nenhum atrativo em especial. Ou será que estou vendo coisas?
Será que exagerei no álcool? A verdade é que não, a verdade é que aquela bela
mulher parecia estar interessada mesmo em John. – Seria falta de alternativa?
Não podia ser, pois o que não faltava por ali eram homens. Porém nenhum que
tivesse o estilo de John. Talvez essa fosse à questão. Mas não era a primeira
vez que John saia para curtir a noite da cidade e isso nunca havia acontecido.
Inclusive não era a primeira vez que ele trombava com aquela garota, que, no
entanto nunca demostrara nenhum interesse por ele. – Por que agora?
Questionava-se John.Ela era uma das mulheres mais desejada da cidade, podia ter
qualquer homem dali a seus pés. Mas por que o John? Um cara estranho e um tanto
esquisito. E se ela estava afim dele mesmo, teria que tomar a iniciativa, pois
se dependesse dele nada aconteceria. Todas as aventuras amorosas que ele teve
partiram delas e não dele a iniciativa. Naquela noite não seria diferente, nem
mesmo o consumo exagerado de álcool lhe dava coragem para uma atitude
diferente.
A festa já estava acabando, as pessoas já
estavam se retirando para suas casas. John também decidi ir. Mas de repente recebe
um recado. – A Luana esta ti esperando lá na esquina. Quer conversar contigo.
John tremeu todo por dentro. Ele sabia muito bem o que ela queria com ele. A
troca de olhares entre eles durante a festa não lhe enganava – ela estava afim
de ficar com ele. E ele não podia perder a oportunidade. – Mas ela não é
casada? Ou pelo menos era. Ah quer saber? foda-se! Ele foi até o bar pediu duas
cervejas e foi ao encontro de Luana. – Será que ela esta me esperando? Será que
esta querendo ficar comigo mesmo? Sim era verdade. Luana estava o esperando na
esquina onde ela disse que o esperaria. Assim que ela o vê dá um sorriso
receptivo, ele corresponde com outro. A cada passo mais próximo dela o seu
coração bate mais acelerado – tão acelerado como o punk rock que ele tanto
adora.
Agora diante dela a
timidez desaparece, ele a puxa para os braços e a beija. Mostrando uma atitude
que ela não imaginava que ele tivesse. A cada toque dele na sua pele, a cada
beijo ardente, ela se surpreendia positivamente. Luana não imaginava que John
fosse um amante tão vigoroso. Naquele clima caliente ela se entrega a ele, ali
mesmo, como dois animais no cio. Não se preocupando nem um pouco se seriam
vistos ou não. Aliás, naqueles momentos a única preocupação de John era dar
prazer aquela que estava nos seus braços. Fazer com que aquele momento já mais
fosse esquecido. John sabia fazer isso como poucos. Luana naquela noite
descobriu o grande amante que ele era. Nem parecia aquele cara tímido que se
quer tinha coragem de chamar uma mulher para dançar.
Era
por volta das 11h da manhã quando John levantou-se. Havia bebido bastante na
noite anterior, mesmo assim já estava pronto para outra. O consumo exagerado de
álcool não lhe fizera mal, mas os acontecimentos da noite anterior lhe deixaram
marcas profundas na alma.Agora John sentado na varanda de sua casa, ouvindo Los
Hermanos, tomando um conhaque e fumando um palheiro relembra desses
acontecimentos.John gostava da solidão, precisava da solidão para escrever,
ainda que nunca fosse publicar, ainda que ninguém se interessasse em ler o que
ele escrevia. Ele simplesmente escrevia, escrevia, pois precisava escrever. Mas
não queria acabar seus dias sozinho. Sonhava encontrar uma companheira para
dividir as ilusões e desilusões da vida cotidiana – casar, ter filhos, formar
uma família, quem sabe. No entanto a cada dia que se passava encontrar uma
companheira tornava-se um sonho distante. Estava, portanto condenado à solidão?
Não, não era aquele fim que John queria para si – viver eternamente sozinho. John
gostava da solidão, era na solidão que ele produzia suas crônicas, seus contos,
seus poemas. Mas viver eternamente na solidão não era o que queria. Ele queria
uma camaradinha para dividir as tristezas e alegrias dessa vida.
No entanto todos os
romances que tivera até então foram romances breves, aventuras na verdade. John
lembrou-se do que disse um certo escritor português numa entrevista que ele
assistira na televisão – nós escritores somos bons amantes, somos ótimos para
quem quer viver uma aventura, que não duram mais do que três meses, pois depois
disso nos tornamos chatos e insuportáveis. John sabia bem disso, pois havia passado
por experiências nesse sentido. Por tanto tinha que se conformar – ele não fora
feito para ter uma família, mas para ser um amante. Era assim que as mulheres o
viam, como um bom amante, alguém para se viver uma louca aventura. Nada mais do
que isso. Por tanto não podia criar ilusões quanto a noite que tivera com Luana.
Noite que talvez se repetisse, mas com o tempo eles se afastariam e ficariam
apenas as lembranças dos momentos especiais que viveriam juntos. Pois esta era
a sina daquele escritor fracassado – a solidão. Sempre que John vivia uma
aventura como tivera com Luana era certeza que no dia seguinte ele entraria numa
bad trip do caralho.
Pedro
Ferreira Nunes – É poeta e escritor popular tocantinense.
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