segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sobre as Mudanças na Educação Proposta pela Secretaria Estadual de Educação do Tocantins.

No bojo da medida provisória que reforma o ensino médio (MP-746/2016) do governo federal a serviço das instituições de ensino privada e da escola sem partido a Secretaria Estadual de Educação do Tocantins está propondo uma série de medidas que serão implantadas nas escolas públicas do Estado. As alterações propostas vão na lógica do que propõem o governo federal – isto é, mudar para continuar como está. Não iremos analisar aqui as propostas especificamente ou no que elas poderão contribuir ou não para melhorar a qualidade da educação pública no nosso Estado. Mas sim a lógica dessa mudança.Que pode ser percebida já de inicio na forma autoritária que estão sendo propostas – sem a participação dos principais protagonista desse processo que são os estudantes e professores.

Essa ausência fica latente na fala da assessora regional de supervisão, gestão e formação da delegacia regional de ensino de Guaraí – Ester de Paula Alves da Silva – “Quero compartilhar da melhor maneira, com professores e estudantes, esse trabalho que está sendo proposto e discutido, por acreditar no desenvolvimento da educação”. Isto é, as decisões tomadas, vão ser compartilhadas posteriormente, depois de já definidas. Ora, o processo deveria ser o contrario. Os estudantes e professores deveriam ser os primeiros a serem ouvidos e consultados e não apenas comunicados depois da decisão já tomada. Ainda nessa linha a atual secretária de educação –Wanessa Sechim afirma “Tem havido um esforço coletivo para que as intervenções pedagógicas ocorram na escola”. Que esforço coletivo é esse sem a participação dos principais protagonistas do processo educacional? Os professores só serão ouvidos – depois da proposta já elaborada. Já os estudantes nem se quer serão.

Tal fato ocorre por que ao contrario do discurso à preocupação do atual governo através da secretaria de educação não é de forma alguma a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrario, a preocupação é em melhorar os índices de avaliação como fica claro na fala da própria secretária de educação “...há a necessidade de melhoria nos índices educacionais do Tocantins”. O que não garante de forma alguma que a educação seja de qualidade pelo fato de alcançar índices estabelecidos por órgãos econômicos mundiais.

Outro fato a se destacar é que não se vê nenhuma pontuação por parte do governo estadual a cerca da questão estrutural das unidades escolares e nem da valorização profissional. Ora, as mudanças curriculares são de fato necessárias, mas não resolveram o problema da educação no Tocantins. As mudanças curriculares impostas de forma autoritária e sem a questão das estruturas físicas das unidades escolares e a valorização dos profissionais da educação não passa de um engodo. É mudar sem mudar. É mudar para continuar como está. Esperar uma mudança radical “as margens corretivas interesseiras do capital” como afirma Mészáros é um tanto de ingenuidade. Logo tanto a reforma do ensino médio do governo federal como as mudanças propostas pela secretaria estadual de educação do Tocantins estão mais para retrocessos do que para avanços. Pois caminham mais para uma logica tecnicista do que humanista – tanto é que basta ver quais são os conteúdos que terão mais espaço (Português, Matemática, Inglês e redação) e os que estão sendo descartados (Filosofia, Sociologia e Artes).

Para Mészáros (2008) “uma das funções da educação formal nas nossas sociedades é produzir tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados”. E é justamente nessa direção que avança as mudanças propostas tanto pelo governo Temer como pelo governo Marcelo Miranda – a afirmação de uma educação que produza conformidade, que esta mais voltada para produzir mão de obra para o mercado do que para a vida. Nessa linha reafirmamos o que aponta Mészáros (2008) “é necessário romper com a logica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”. E um primeiro passo nesse sentido é não nos iludir com esses discursos de mudanças por parte de governos e patrões – que na verdade não muda nada.

Referências

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. – 2º ed. – São Paulo: Boitempo, 2008.


Profissionais de educação estadual reúnem-se para discutir a proposta pedagógica para 2017. Disponível em: conexaoto.com.br. Acesso em: 14 de Janeiro de 2017.

Pedro Ferreira Nunes – é Educador Popular e Escritor. Militante do Coletivo de Educação Popular José Porfírio – cursou a faculdade de Serviço Social da UNOPAR e atualmente estuda Filosofia na UFT.

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