Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um galo que apanhe esse grito que ele
E o lance a outro;
João Cabral de Melo Neto
Quando ingressei no curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins não estava nos meus planos militar no movimento estudantil e muito menos participar da gestão do Centro Acadêmico (C.A). No entanto ao me deparar com uma situação de aparelhamento político do CAFIL voltado para interesses particulares, não pude me omitir.
O primeiro passo então foi articular a derrubada da gestão comandada por uma figura bastante oportunista, gestão que já tinha terminado, mas a figura continuava se autointitulando presidente do C.A de Filosofia. Aliás, essa figura fez várias mudanças no Estatuto (sem a realização de uma assembleia geral) e articulou um processo eleitoral “á toque de caixa” para permanecer na gestão. Ele não contava que um grupo de estudantes começasse a questionar e a denunciar as fraudes. Obrigando-o a recuar.
Como resultado desse recuo foi realizado verdadeiramente uma Assembleia Geral que desfez todas as mudanças estatutárias que haviam sido feitas sem o devido processo legal e elegeu-se uma Comissão Eleitoral (da qual eu fazia parte) para conduzir um uma eleição legitima. Isso foi um marco importante por que deixou claro que os estudantes não aceitariam falcatruas na condução do seu Centro Acadêmico.
Com o processo eleitoral uma nova gestão foi eleita. Uma gestão que teve momentos interessantes como, por exemplo, na realização da festa “Dionisíacos” em parceria com o C.A de Teatro. Mas que não conseguiu manter uma dinâmica boa durante toda a gestão – acompanhando as reuniões do colegiado, do conselho diretor e mantendo um contato mais próximo com todos os estudantes do curso. Inclusive acabou deixando o CAFIL entrar em vacância mais uma vez. Porém há de se ressaltar, que se essa gestão não conseguiu um grande êxito. Pelo menos não usou o C.A para beneficio próprio como fez à gestão anterior.
Era o inicio de 2017 e o CAFIL mais uma vez estava em vacância. Uma situação que muito me incomodava, mas sozinho não poderia fazer muita coisa. Foi então que um grupo de estudantes mostrou-se interessado em assumir a direção do Centro Acadêmico de Filosofia. O que me animou a tomar a frente para viabilizar o processo eleitoral. Articulamos a realização de uma Assembleia Geral e elegemos uma Comissão Eleitoral para conduzir a eleição futura.
Essa Assembleia Geral foi muito importante também por que fizemos mudanças estatutárias fundamentais. Mudanças que culminariam num Estatuto que representasse a realidade das e dos estudantes do curso de Filosofia da UFT. Pois o anterior era simplesmente uma copia de outros estatutos de outros cursos. E dessas mudanças talvez a mais significativa foi ter organizado a Coordenação Geral numa perspectiva horizontal de gestão. E como símbolo disso, aboliu-se a figura do presidente e do vice-presidente.
Nessa Assembleia Geral começou um movimento de alguns estudantes querendo que eu encabeçasse uma chapa. Mas continuava sem querer participar diretamente. O fato é que durante o processo acabou acontecendo um racha entre os únicos estudantes interessados em compor o que seria uma chapa única e a partir dai o que se vislumbrava era que o CAFIL continuasse em vacância, já que ninguém queria assumir a sua coordenação.
E foi diante desse quadro que decidimos montar a chapa Despertar é preciso! Mesmo assumindo a tarefa de montar a chapa (composta por 5 mulheres e 3 homens) não queria encabeça-la. Mas no final das contas, coletivamente, decidimos que eu deveria assumir essa tarefa.
Não foi difícil sermos eleitos, erámos chapa única. De modo que as opções que os estudantes do curso tinham não eram muitas – nos eleger ou ficar sem representantes. Bom, às vezes é melhor ficar sem representantes do que eleger algumas figuras. Mas, cerca de 95% dos que votaram, decidiram que erámos a melhor opção. E em março daquele ano, assumimos. Assumimos com a dura missão de resgatarmos a credibilidade do CAFIL junto aos estudantes do curso. Partindo de uma organização numa perspectiva horizontal, fazendo uma gestão coletiva, submetendo nossas ações a avaliação dos nossos representados e atuando de forma autônoma. Em suma, uma gestão inspirada nas melhores tradições da esquerda revolucionária.
Gestão Desperta é preciso!
Quando completamos 01 ano a frente do Centro Acadêmico, fizemos uma Assembleia Geral dando a possibilidade dos estudantes decidirem se nossa gestão continuaria ou não. Não há nada no nosso Estatuto que nos obrigasse a isso. Mas nós fizemos em respeito a essas tradições que nos guia. E por unanimidade a Assembleia Geral aprovou a nossa permanência a frente do CAFIL.
Não temos dúvida que isso se deu como reflexo da gestão que fizemos. E cabe aqui elencarmos algumas conquistas não para nos vangloriar, mas no sentido de mostrar a importância de um Centro Acadêmico com uma gestão atuante – pensando no bem comum.
Conseguimos a oferta de disciplinas de Verão no curso; Conseguimos que os estudantes ameaçados de ser jubilados permanecessem mais um semestre para se formarem; Conseguimos que os requerimentos dos estudantes fossem levados para o colegiado; Evitamos a vinda de um professor fascista para o curso; Conseguimos um ônibus para levar uma caravana ao ENEFIL (Encontro Nacional de Estudantes de Filosofia) em Fortaleza – CE; Participamos da recriação da Executiva Nacional de Estudantes de Filosofia (ENEF) e da Comissão Eleitoral do Diretório Central dos Estudantes da UFT.
Além disso, conseguimos uma maior interação entre todos os períodos do curso. Realizamos a recepção dos Calouros e Calouras, criamos blog, e-mail e demos uma nova dinâmica para os grupos do CAFIL nas redes sociais. Participamos ativamente das reuniões do Colegiado defendendo os interesses das e dos estudantes – publicizando as decisões que ali eram tomadas através de informes.
Contribuímos com a construção do Novo PPC do Curso. Participamos dentro das nossas possibilidades do Conselho Diretor do Campus e nos posicionamos contra o calendário atualmente em vigor. Ajudamos a organizar os eventos do curso e por fim acabamos assumindo a organização da jornada filosófica – outro marco importante diante do fato de que os estudantes nunca haviam assumido totalmente a organização de um evento acadêmico no curso. E a última edição mostrou um fortalecimento do evento e o aumento da sua credibilidade com a participação de acadêmicos de outras instituições de ensino, inclusive de fora do Tocantins.
Defendemos a aprovação da criação de uma Revista dos Graduandos de Filosofia da UFT e da criação de uma premiação para os melhores trabalhos de Conclusão de Curso – propostas que foram aprovadas no Colegiado de Filosofia. Também lutamos pelos laboratórios do curso que estão sendo instalados no bloco B, assim como uma sala para o CAFIL. É importante ressaltar também a realização de assembleias gerais periódicas, publicação de boletins no final dos períodos e a confecção das camisetas criando uma identidade maior entre nós e um sentimento de pertencimento ao curso.
Não ficamos alheios à conjuntura de ataques aos direitos dos trabalhadores e ao sucateamento da educação pública. E assim nos fizemos presente na construção do Comitê Reage UFT e na realização da Greve Geral contra a reforma da previdência e reforma trabalhista. Também participamos de uma manifestação nacional dos estudantes de filosofia – na capital Cearense – em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade.
Todas essas ações que fizemos nesses quase dois anos de gestão, faz com que deixemos o CAFIL UFT, que na nossa gestão passou a se chamar CAFIL Prof. José Manoel Miranda, em outro patamar de respeito e credibilidade tanto dentro como fora da UFT. Não foram poucos aqueles que cogitaram a nossa permanência. E entendo isso como um reconhecimento ao trabalho feito pela nossa gestão.
Mas vemos como bom a eleição de uma nova coordenação, com novos estudantes, que darão um novo gás ao CAFIL. E ficamos felizes em ver que duas chapas disputaram as eleições para coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia da UFT. Ainda mais quando recordamos que ninguém queria essa tarefa quando assumimos.
Por fim, não tenho dúvida que o êxito da nossa gestão foi ter si guiado pelas melhores práticas da esquerda revolucionária. Não que não tivemos derrotas, que não erramos, que algumas vezes nos questionávamos se valia a pena. E nesse meio tempo alguns ficaram pelo caminho – dos 08 membros da chapa – apenas cinco permaneceram até o fim. Mas os motivos para comemorar são maiores que as nossas frustrações. De modo que chegamos ao fim com o sentimento de missão cumprida. E o fundamental, plantamos uma sementinha que esperamos que dê frutos.
Pedro Ferreira Nunes – É Estudante do Curso de Licenciatura em Filosofia da UFT e Fez parte da Gestão Despertar é preciso! Á frente da Coordenação Geral do CAFIL Prof. José Manoel Miranda.