O debate acerca da produção filosófica no Brasil e suas consequências não é uma novidade. Já há algumas décadas alguns filósofos brasileiros vem chamando atenção para necessidade de se romper com a lógica dominante de imitação e reprodução do pensamento eurocentrico. Mas apesar das críticas, a produção filosófica no Brasil está marcada por essa visão. Como conseqüência, temos uma produção desligada da nossa realidade.
Um dos filósofos brasileiros que chamam atenção para esse problema é o Eduardo Ferreira Chagas (Professor de Filosofia na Universidade Federal do Ceará). Que numa mesa sobre “a produção de Filosofia no Brasil hoje” realizada no Encontro Nacional de Estudantes de Filosofia (ENEFIL), em Fortaleza-CE (2017). Trouxe uma importante contribuição que nos ajuda a refletir e debater essa questão. Na sua fala, Chagas (2017) criticou o modelo de produção filosófica no Brasil que segundo ele segue uma lógica taylorista. E por tanto autoritária. Que tem como conseqüência a produção de anões e não de grandes pensadores.
Para Chagas (2017) tomamos uma posição subalterna ao assumir um pensamento que não é nosso. E não sendo nosso, acabamos nos tornando repetidores e imitadores do que se produz na Europa ou nos Estados Unidos. Diante disso ele salienta a urgência de se assumir a tarefa de se romper com a lógica dominante de produção filosófica no Brasil fundamentada na imitação e no autoritarismo.
De acordo com nosso filósofo (2017) no Brasil o que se faz é antifilosofia – que se caracteriza pela ausência do debate e da discussão. Para antifilosofia é mais importante se ocupar em refletir sobre a essência, da essência, da essência – do que se ocupar com os problemas concretos que permeiam a nossa realidade. Diante disso o que fazer?
Para Chagas (2017) romper com esse modelo dominante de produção filosófica ou mantê-lo, é tarefa das novas gerações. Ainda de acordo com ele, a questão que se impõe nesse contexto é: ser Filósofo ou técnico em Filosofia? Se a opção é ser técnico em Filosofia o modelo de produção filosófica dominante está servindo muito bem, mas se a opção for outra se faz necessário um rompimento urgente.
Se a opção for pelo rompimento, creio que este não partirá do ambiente acadêmico, onde impera uma concepção de educação tecnicista muito forte. Os planos de cursos são voltados de fato para imitação e reprodução, não deixando brecha para que os estudantes ousem pensar por conta própria. Por tanto essa ruptura deve partir de fora para dentro. Como e onde? Não tenho essa resposta. A verdade é que não existe uma resposta, precisamos construi-la. A questão é saber se há disposição para tanto.
De certo não é uma tarefa fácil pois como ressalta um filósofo da magnitude de um Habermas – os filósofos contemporâneos (ele se inclui entre estes) não são mais que professores de Filosofia. Ao chamar atenção para essa questão creio que Habermas está enfatizando que ser professor de filosofia não faz de ti um filósofo. No máximo um técnico em Filosofia que com base em manuais ensina filosofia, ou melhor dizendo, história da filosofia.
Habermas faz tal afirmação a partir de uma realidade onde há uma tradição filosófica muito forte. Ao contrário do Brasil, como podemos perceber na crítica do filósofo Eduardo Ferreira Chagas, onde a Filosofia ainda é vista com bastante desdém – um desdém que busca esconder o medo da Filosofia, como salientou Valério Rodhen no texto “Quem tem medo da Filosofia?”.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.
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