Parto de casa ao som de uma versão recente da canção “Hey Hey My My” (Neil Young) feita pelos franceses do The Inspector Cluzo. Num ritmo leve deixo o asfalto para trás e entro no trecho da antiga rodovia. Matos, pedras, areias, buracos não é um trecho fácil. Enquanto isso está rolando “isolation” (John Lennon) numa versão recente gravada pelo Johny Depp e o Jeff Beck com sua banda. Quando “Hey Joe” do Jimmy Hendrix começa a tocar já estou na estrada que leva a praia do Segredo.
A melhor visão para mim é não ver ninguém a não ser os pássaros rasgando o céu. Especialmente os urubus que todos os dias no mesmo horário atravessam para a outra margem do Rio – onde o sol se põe. Nesse momento o meu sangue já está quente por demais até que Amy Winehouse começa a cantar “wake up alone” e dou uma segurada no ritmo. Quando chego na entrada da praia do Segredo quem está a cantar é o velho B.B King, a canção “Rock me baby”.
Faço o retorno e sigo até á margem da TO-010. Atravesso o Setor Entre Serras ainda pouco habitado. Enquanto isso ouço Bob Dylan cantando a sua novíssima False Prophet. Já estou retornando pelas ladeiras do Setor Entre Serras e quem está tocando é o The Doors, a canção “light my fire”. Ainda há um bom trecho de corrida por tanto não posso puxar tanto o ritmo.
Novamente retorno a praia do Segredo fazendo agora o caminho de volta para casa, e quem está tocando é The Beatles, duas na sequência “Penny Lane” e “Revolution”. O sol já se pôs, tudo escurece rapidamente, ainda tenho energia para dá uma acelerada. Enquanto isso The Rolling Stones tocam “Painted Black”. Na seqüência vem Janis Joplim com “Kosmic blues” que me leva a quase flutuar sobre o cascalho da estrada. É com essa canção que entro no trecho final.
Seria uma bela canção de chegada mas ainda tenho que atravessar o trecho de matos, pedras, areias e buracos. É o trecho da velha estrada onde na minha infância o povo dizia ver “visagens”. E é nesse momento que começa a tocar “people who died” (Jim Caroll) numa versão da Hollywood Vampires. Não é uma boa hora para ouvir uma canção que fala de pessoas que morreram. Mas tudo bem, já não sou a criança medrosa da infância. Sigo inclusive cantarolando o refrão: “Those are people who died, died. Those are people who died, died. Those are people who died, died. Those are people who died, died. They were all my friends, and they died”.
Supero o trecho mais sujo do percurso e chego enfim no asfalto. É só seguir mais duas quadras e estou em casa. Sangue fervendo e banhado de suor, mas como se tivesse tirado duzentas toneladas das costas.
Apesar do esforço, das dores e do cansaço é como se eu rejuvenescesse, como se eu descarregasse todas as energias negativas que acumulei ao longo do dia. E com uma trilha sonora dessas, tudo fica ainda melhor.
Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular Tocantinense.
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