quarta-feira, 3 de junho de 2020

“O Rio não tá pra peixe” – intervenção artística na Ponte dos Imigrantes Nordestinos

As milhares de pessoas que trafegam pela Ponte dos Imigrantes Nordestinos (TO-010) com certeza notaram algo diferente na paisagem. O que seria? Quem colocou aqueles objetos ali? São perguntas que deve ter passado na cabeça de muita gente. Desses, poucos talvez, pensaram se tratar de uma intervenção artística. 

Se um dos objetivos da arte é provocar e chamar atenção para determinados problemas. A intervenção artística é uma das suas vertentes que leva esse objetivo a cabo. “A intervenção lança no espaço público questões que provocam discussões em toda a população. De uma maneira ou de outra, ela faz com que as pessoas parem sua rotina por alguns minutos, seja para questionar, criticar ou simplesmente contemplar a arte” (IMBROISI, 2016).

Ainda de acordo com essa autora (2016) a finalidade da intervenção artística “é provocar o público para questões políticas, sociais, ideológicas e estéticas”. Para tanto ela não pode se restrigir ao circuito oficial de arte – galerias e museus. Deve sim ocupar os espaços públicos onde estará ao alcance de um maior número de pessoas. 

No Tocantins não é muito comum intervenções artisticas em espaços públicos – ainda mais no interior. Diante disso é louvável a iniciativa do artista plástico Rogério Caldeira com sua intervenção intitulada de “O Rio não tá pra peixe”, na Ponte dos Imigrantes Nordestinos – que liga as cidades de Lajeado e Miracema. Rogério Caldeira tem no currículo vários trabalhos expostos em espaços públicos de Palmas. Mas no interior essa é uma das suas primeiras incursões. 

Seguindo a linha dos seus trabalhos anteriores, a matéria prima utilizada nesse trabalho é sucata. No caso, quadros de bicicletas – que a sua sensibilidade artística resignifica transformando em peixes. Peixes? Por que não. 

Caldeira segue a linha de artistas onde o mais importante não é o material mas a ideia que compõe o trabalho. 

Nessa linha a intervenção artística “O Rio não tá pra peixe” pode ser compreendida como uma crítica a projetos de Usinas Hidrelétricas  (UHE’s) – que desviam o curso natural do rio prejudicando a sua biodiversidade. Também uma crítica a pesca predatória e ao turismo irresponsável – que contribuem para uma destruição ainda maior do rio e suas espécies. 

Ao chamar atenção para esse problema o artista busca sensibilizar, através da arte, os milhares de usuários que passam todos os dias na Ponte dos Imigrantes Nordestinos – para necessidade de protegermos o rio Tocantins e a sua biodiversidade. E essa proteção passa pela luta contra projetos de UHE’s, a pesca predatória e o turismo irresponsável. 

De quebra ele também chama atenção para importância da arte na luta contra as expressões da questão social decorrente das agressões ao meio ambiente. Ou então, simplesmente como um meio de nos arrancar do comodismo da vida cotidiana apresentando novas possibilidades de olhares sobre a realidade.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

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