segunda-feira, 15 de junho de 2020

Emanuela di Gropello e a crise silenciosa na educação da América Latina

A educação é um dos setores que mais tem sido afetado devido o distanciamento social e isolamento imposto pela pandemia de COVID-19. Com as escolas fechadas há vários meses milhares de crianças pelo mundo estão sem aula – as medidas tomadas até o momento pelos diferentes governos só aprofunda ainda mais a desigualdade no processo educacional, pois a maioria das famílias de alunos de escolas públicas não tem acesso as tecnologias necessárias para as aulas que estão sendo ofertada na modalidade à distância – mesmo os que tem acesso a essas tecnologias carecem de acompanhemento e orientação para que possam melhor compreender os conteúdos trabalhados. Nesse contexto, o que fazer?

Esse é o problema analisado por Emanuele di Gropello – Doutora em Economia pela Universidade Oxford e líder em práticas educacionais na América Latina e no Caribe pelo Banco Mundial.  Para di Gropello vivemos uma “crise silenciosa” na América Latina no âmbito educacional – uma “crise silenciosa” – que “será cada vez menos e menos silenciosa” até tornar-se estridente. Isso por que a tendência é que aja cada vez mais perdas no nível de aprendizagem e aumento da desigualdade no processo de aprendizagem. Pois além da dificuldade do sistema remoto de ensino soma-se também os impactos econômicos que certamente as escolas sofreram devido a concentração de recursos para combater os estragos com a pandemia do novo coronavírus.

Para di Gropello ocorreram perdas educativas em todo o planeta. Porém há dois elementos que tornam a situação na América Latina ainda mais grave. Primeiro, pelo fato de que por aqui, a crise que já vinha ocorrendo devido o alto nível de pobreza no processo de aprendizagem. E em segundo lugar o nível de conectividade que está a baixo da média em comparação com outras localidades.

Outro fator para o qual nossa autora chama atenção é a questão do abandono escolar que tende a aumentar nesse contexto. Primeiro pelo fato de que no contexto atual a relação entre educador e educando se torna mais débil. E assim se torna mais fácil perder alunos. Segundo por que com a queda no nível de aprendizagem muitos podem se sentir desestimulados e assim preferirem desistir. E em terceiro a crise econômica pode obrigar os pais a tirarem os filhos da escola para poderem trabalhar e ajudar no sustento do lar.

Diante disso o que fazer? di Gropello aponta um projeto com três fases sendo que a primeira já está sendo executada – que é ajudar os governos a montar sistemas efetivos de educação á distância. A segunda fase será (a partir da abertura das escolas) recuperar e manejar a continuidade da aprendizagem.  A partir dai “será importante desenhar e implementar protocolos para reabertura segura das escolas, assim como mitigar as perdas de aprendizagem com programas de recuperação educativa e outras medidas acadêmicas e pedagógicas”. E a terceira será a fase de melhoramento da educação o que passa por reformas que simplifique os currículos escolares e um melhor aproveitamento dos professores.

Por fim, di Gropello conclui afirmando que a América Latina deve aproveitar estas oportunidades e construir sistemas educativos melhores do que temos. 

Certamente precisamos construir sistemas educativos melhores do que temos. E crises como a que estamos vivendo – onde se explicitam as contradições, desigualdades e limites do sistema de ensino formal – é um ótimo momento para tanto. Inclusive para que não nos iludamos com projetos impostos de cima para baixo como esse que propõem o Banco Mundial através do discurso de Emanuela di Gropello – sem ouvir os principais atores do processo educacional que é os professores e estudantes.

A análise de di Gropello deixa de fora as raízes dos problemas educacionais na América Latina. Ao não ir as raízes o que propõem não é a superação das desigualdades no âmbito educacional (que está intrinsicamente ligada a desigualdade social imposta pelo modo de produção dominante) mas apenas o aprofundamento da lógica mercadológica na educação. 

Diante disso é importante relembrarmos o que disse Mészáros  (2008) sobre a necessidade de romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente – isso é fundamental para que não caiamos em engodos como o de di Gropello e do Banco Mundial. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

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