sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Outdoors, poluição visual, toxicidades e mediocridades

“The toxicity of our city, of our city”.

System of a Down

Nas ruas de Gurupi 
Nos aproximamos da querida capital do Tocantins, é um sábado, mais um sábado sob a ordem imposta pela pandemia do Novo Coranavírus. Eu deveria está em casa, e preferiria está em casa. Mas como a cidade que eu moro não me dá acesso a serviços básicos  (e as contas não esperam) é preciso ir até a capital. 

A viagem segue tranquila sob uma paisagem exuberante – pode soar suspeito de minha parte, mas para mim o trecho entre Palmas e Lajeado é um dos mais belos do mundo. Durante o trajeto uma coisa nos chama atenção: a quantidade de carro vindo em direção ao interior. Certamente não são pessoas indo trabalhar ou ter acesso há algum serviço (que não encontrariam na capital). É, não é de se admirar que dia após dia os casos de COVID-19 estejam aumentando no interior. 

Mas o que me chama atenção mesmo é a poluição na entrada de Palmas. E não estou falando das queimadas, comum por essas bandas, sobretudo nessa época. Mas sim dos outdoors – em especial os que se referem a figura do atual presidente da república. Esse tipo de outdoors (a favor e contra o presidente) tem ocupado cada vez mais a paisagem visual das cidades brasileiras. E olha que ainda estamos bem distante das eleições de 2022.

Olhando aquelas peças não pude deixar de pensar comigo – o ambiente tóxico das redes sociais está se proliferando. Reflexo da mediocridade que tomou conta da nossa vida política e social. E assim caminhamos para uma cidade cada vez mais tóxica de pessoas ressentidas – tanto á direita como á esquerda.

O teor dos outdoors revelam bem o nível do debate político atual, um debate político dominado pela mediocridade – que segundo o filósofo Alain Deneault “designa o que está na média, assim como superioridade e inferioridade designam o que está acima e por baixo”. Desse modo, “não existe a medidade”. 

Para Deneault vivemos numa espécie de “mediocracia” ou seja, num governo dos medíocres – “a mediocridade não faz referência à média como abstração, mas é o estado médio real, e a mediocracia, portanto, é o estado médio quando a autoridade está garantida”.  Nosso filósofo ressalta que “a mediocracia estabelece uma ordem na qual a média deixa de ser uma síntese abstrata que nos permite entender o estado das coisas e se torna o padrão imposto que somos obrigados a acatar”. Isto é, agir também de forma medíocre, ou utilizando uma frase enfatizada por Deneault – “entrar no jogo”.

Há algum tempo temos entrado no jogo dos medíocres – e o resultado até então tem sido desastroso. E continuará sendo pois em se tratando de mediocridade eles são insuperáveis. De modo que fiquei pensando comigo, essa guerra de outdoors no final das contas vai favorecer o presidente – que sabe como ninguém surfar em propagandas negativas.

Enfim, não fiquei muito tempo ali, em menos de 30 minutos já estava retornando para casa. Deixamos Palmas para trás com o seu calor infernal, seus outdoors poluindo a paisagem e deixando o nosso ar um pouco mais tóxico.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

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