domingo, 30 de outubro de 2022

Poema: Um Rio


Há um rio dentro de mim
Lajeado
Tocantins
Há um rio dentro de mim.

Prestes a transbordar
Nenhuma barragem
Irá segurar.

Prestes a transbordar
E o mundo todo
Inundar.

Há um rio dentro de mim
Lajeado
Tocantins
Há um rio dentro de mim.

Eles tentam me destruir
Mas continuo 
aqui.
Eles tentam me destruir
Mas eu vou
Resistir.

Pois há um rio dentro de mim
Lajeado
Tocantins
Há um rio dentro de mim.

Pedro Ferreira Nunes - Poeta, Escritor e Educador Popular. 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Mulheres na Filosofia: Um relato de experiência da disciplina Tópicos Especiais em Filosofia e seu Ensino

Nós que temos uma formação em Filosofia sabemos o quanto a presença das mulheres, enquanto filósofas é negligenciada. É verdade que isso tem mudado nos últimos anos. Sobretudo diante do espaço que as mulheres têm ocupado em cargos de docência. Mas o fato é que ainda estamos falando de exceção. Durante minha experiência enquanto graduando em Filosofia não fui apresentado a importantes contribuições das mulheres no campo filosófico. Lembro-me apenas de ter estudado alguma coisa de Hannah Arendt, Martha Nussbaum e Chantal Mouffe. Ora, se não somos introduzidos a história das mulheres na Filosofia, como iremos trabalhar o ensino de Filosofia a partir de uma perspectiva mais plural?

É diante desse contexto que ressaltamos a importância do tema Mulheres na Filosofia a partir de uma perspectiva de gênero trabalhado na disciplina de tópicos especiais em Filosofia e seu ensino – uma oportunidade de diminuir o déficit acerca dessa temática e a partir daí ter mais subsidio para desenvolver, nas aulas de Filosofia no contexto da educação básica, o pensamento de Mulheres filósofas sobre diversos temas, em especial a condição da mulher na nossa sociedade – uma condição de invisibilidade e violência. E ninguém melhor para ministrar essa disciplina de que uma filosofa - a Professora Solange Aparecida de Campos Costa – integrante do Grupo de Trabalho Filosofia e Gênero da Associação de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF) e que atua como docente na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), no Mestrado Profissional de Filosofia (PROFI-FILO) na Universidade Federal do Tocantins entre outros.


No plano de curso, disponibilizado pela Professora Solange, pudemos ver o objetivo da disciplina Tópicos especiais em Filosofia e seu ensino. Entre eles encontramos: “Analisar historicamente mobilizações em prol dos direitos das mulheres e a inserção dos debates de gênero; Analisar o gênero como construção sócio histórico e cultural; Pensar as relações de gênero como possibilidade de uma educação para equidade, prevenindo contra preconceitos e discriminação, com respeito a alteridade e as identidades culturais; Refletir criticamente sobre os estudos de gênero como subsídio para a construção de uma educação emancipatória.” O que seria desenvolvido a partir da apresentação e discussão acerca de diferentes pensadoras, algumas mais conhecidas (pelo menos para mim) como é o caso da Simone de Beauvoir, Silvia Frederici Ângela Davis e bell hooks e outras nem tanto como Gerda Lerner, Françoise Vergès e  Lélia Gonzalez. As aulas ocorriam na quarta-feira, dás 19h ás 21h, pelo Google Meet.


O que poderia ser um fator limitante para o debate, o fato de ocorrer de forma remota não trouxe grandes prejuízos para o desenvolvimento das aulas. Pelo contrário, o tempo parecia insuficiente pelos debates que eram suscitados durante a exposição da professora Solange. Confesso que minha posição era mais observar e absorver tudo que estava sendo passado, sem fazer grandes intervenções. Não que as aulas não instigassem questões, mas na maioria das vezes me sentia satisfeito com as discussões postas pelos colegas. As discussões fomentadas durante as aulas foram tantas que logo percebemos que o plano do curso não seria alcançado na sua totalidade, sobretudo em relação as autoras abordadas – uma aula era insuficiente para abordar a riqueza de pensamento das autoras selecionadas pela Professora Solange, por mais que o seu objetivo era introduzir a temática.


Desse modo ao longo das aulas, das 10 pensadoras previstas, conseguimos chegar na quarta. Dessas apenas a Michelle Perrot ainda não havia ouvido ou lido sobre. Já a Simone de Beauvoir, Silvia Federici e Ângela Davis, sim. E inclusive lido alguma coisa. No caso de Beauvoir e Davis, já havia até abordado em sala de aula – obvio, de forma bastante superficial, dado a minha falta de conhecimento sobre a temática e a obra dessas autoras. Lamento não ter tido tempo de termos estudados as demais pensadoras que estavam no plano de curso, no entanto o material disponibilizado na forma de texto dessas autoras, certamente será importante para que façamos esse estudo de forma individual e que isso possa refletir nas nossas aulas.


Do ponto de vista individual não tenho nenhum problema quanto a isso. Pelo contrário, acredito ser bastante sensível quanto a essa temática, como também a inserção do pensamento feminino no Ensino de Filosofia. No entanto, não posso dizer que eu tenha o domínio suficiente para desenvolver discussões nesse sentido de forma adequada. No entanto, é certamente uma limitação que pode ser superada. E disciplinas como essa desenvolvida no Mestrado Profissional de Filosofia, contribuem para tanto. No entanto, insuficientes. O que exige da nossa parte, uma busca constante para continuarmos nos aprofundando na discussão acerca da Filosofia e Gênero.


Durante as aulas da disciplina Tópicos Especiais em Filosofia e seu ensino. É difícil destacar uma única pensadora que tenha me chamado atenção. Na verdade, todas trouxeram questões importantes que nos ajuda a compreender a luta histórica das mulheres pelos seus direitos. Simone de Beauvoir, por todo o seu pioneirismo não poderíamos deixar de citar. O incomodo que o seu pensamento causa numa sociedade ainda demasiada machista, mostra a sua importância. Para além da frase emblemática: “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Há um grito em defesa da liberdade da mulher, um chamamento a sua organização e luta pelos seus direitos. O desafio que Beauvoir elenca no seu “Segundo Sexo” (1949), isto é, como encontrar a independência no seio da dependência, continua atual.


É importante reconhecer que muito se avançou nesse sentido, no entanto muito aquém do necessário. Quando abrimos o noticiário diariamente e vemos os casos de violência que as mulheres são submetidas percebemos o quanto ainda temos que avançar. E levando em consideração que a violência física é apenas a parte mais visível de uma condição de invisibilidade a qual a mulher foi e continua sendo submetida ao longo da história, nos faz questionar se houve avanço mesmo. E ainda mais, se é possível esse avanço nos marcos de uma sociedade capitalista. Nesse sentido a contribuição da Silvia Federici nos parece fundamental ao pontuar que o modo de produção capitalista em última análise, é mais prejudicial a mulher. Se há uma condição de exploração na sociedade capitalista, de uma classe sobre outra, como apontou Marx, a mulher é certamente quem dá uma conta maior de sacrifício para manutenção da ordem dominante. A ousadia da Michele Pirrot de escrever a história das mulheres a partir da perspectiva de uma mulher deve ser enfatizada. Pois certamente, não seria mesma coisa se essa história fosse escrita por um homem. Na verdade, a história, majoritariamente, é escrita a partir do ponto de vista masculino, e o que se vê é que a mulher, quando aparece, desempenha um papel de submissão. Por fim, não poderíamos deixar de destacar a contribuição da Ângela Davis, trazendo a perspectiva da mulher negra, pois quando olhamos para situação de violência a qual a mulher é submetida, a mulher negra e indígena certamente está numa situação ainda mais degradante. Daí toda a importância que a Ângela Davis trás sobre os direitos reprodutivos – num contexto em que se tem debatido a questão do aborto, com avanços em alguns lugares (Mexico) e retrocessos em outros (EUA), eis uma questão que não podemos deixar de fazer por medo de visões moralistas, influenciadas por dogmas religiosos. O fato é que vivemos numa sociedade extremamente desigual, onde as mulheres, sobretudo as negras, são colocadas numa situação que não vem alternativa senão abortar uma criança pela falta de perspectiva em garantir o mínimo de condições de sobrevivência a essa criatura.


Enfim, acredito que a disciplina Tópicos Especiais em Filosofia e seu ensino, me proporcionou, ainda que de forma introdutória, a discussão de Gênero a partir da perspectiva da Filosofia. Me proporcionou um contato mais aprofundado com autoras que eu já conhecia e temáticas importante quanto a condição da mulher na nossa sociedade. Acredito que mesmo não tendo conseguido abordar todas as pensadoras proposta no plano de curso, a professora Solange, alcançou os objetivos que haviam sido propostos. Entre eles, no meu caso destacaria, a reflexão crítica sobre os estudos de gênero como subsídio para construção de uma educação emancipatória. Ora, não podemos falar em educação emancipatória, inviabilizando a importante contribuição das mulheres na construção do conhecimento. 

 

Por Pedro Ferreira Nunes - Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.


*Trabalho apresentado a disciplina de Tópicos Especiais em Filosofia e seu ensino (sob a Orientação da Professora Solange Aparecida de Campos Costa), do Mestrado Profissional de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins – UFT. 



quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Lajeado: Junta Tribo 2022

Iniciado com o objetivo de celebrar a amizade entre os amantes do pedal de Lajeado, Tocantinia, Miracema e Miranorte. O Junta Tribo caminha para sua sétima edição agora em 2022 mobilizando um público cada vez maior – Ciclistas e amantes do cicloturismo de várias cidades tocantinenses e outros Estados. É sem dúvidas um dos eventos mais interessantes do calendário de eventos da cidade de Lajeado – além de promover o turismo sustentável, divulgar as belezas naturais, também promove qualidade de vida ao incentivar a prática do ciclismo.


Esse último ponto é bastante enfatizado por um dos idealizadores do evento, o Servidor Público Joatan, que tem uma bela história de superação do alcoolismo através do ciclismo como nos contou em uma entrevista que concedeu ao Projeto Educação Ambiental e Biossegurança do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência  (CENSP-Lajeado). O seu amor pelo ciclismo pode ser observado pelas inúmeras medalhas e troféus que ele coleciona dos eventos que participa. Além disso procura incentivar aqueles a sua volta a aderir a essa prática. Nesse sentido eventos como o Junta Tribo cumpre esse papel de estimular e atrair mais pessoas para prática do ciclismo. 


Joatan fala com muito orgulho como ao longo das edições o evento foi crescendo com a participação de pessoas de vários lugares. Ele relata que na primeira edição podia se contar nos dedos das mãos o número de participantes, hoje é um evento de referência com uma organização de primeira – que dá aos participantes todo o suporte para que venha se divertir e apreciar as belezas do local com toda segurança. 


Nessa edição de 2022, certamente teremos mais um evento bem organizado, de modo que os participantes podem se inscrever e participar sem receio. Esse ano teremos um percurso diferente da última edição. Serão 60 Km, de Lajeado a Comunidade Pedreira. As inscrições podem ser feitas no Site Tô na Corrida (http://www.tonacorrida.com.br/site/eventos/detalhes.xhtml?evento=100) E custa R$ 70,00 – o que lhe dá direito a kit composto por uma “camisa alusiva ao evento  (apenas para os primeiros 100 inscritos), café da manhã, almoço e hidratação no trajeto”. Para os 3 primeiros colocados haverá troféu. Como também para Penélope charmosa, ciclista mais jovem, ciclista mais velho, ciclista ou cidade mais distante, mamute, equipe com maior número de ciclista e troféu determinação. 


Mas o mais importante mesmo é poder apreciar a beleza natural ao longo do percurso, desafiar os seus limites, conhecer pessoas, fazer amizades e confraternizar com as tribos do pedal. Se você é de Lajeado não deixe de prestigiar esse evento que enriquece a nossa cidade. Se você é de fora é uma ótima oportunidade para visitar a cidade, caso ainda não tenha vindo aqui. E se já conhece é hora de retornar. Por tanto agenda aí – Domingo (23 de Outubro de 2022), as 07h da manhã, em Lajeado – as tribos do pedal vão se juntar. A organização é das equipes de pedal Miracema Pedaladas e Lajeado Pedalando. Vamos lá. Vida longa ao Junta Tribo. 


Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.


sábado, 15 de outubro de 2022

Matanza Inc: Demônios estão por aí!!!

Eis o titulo de uma das canções que compõem o segundo trabalho de estúdio (Retórica diabólica) da banda carioca Matanza Inc. É mais um álbum em que eles voltam sua artilharia de crítica ao moralismo religioso – que no contexto atua ganhou força através da figura que ocupa a cadeira da presidência da República. De modo que essa crítica acaba sendo a esse Governo que está aí. Como podemos conferir através de uma análise das Letras das canções “tudo destruído”, “sórdida agenda secreta” e “receita para fazer inimigos”. Além é claro da “demônios estão por aí”. Aqui, o que nos interessa é exatamente essa última, a qual acredito que mostra muito bem o uso da religião como instrumento de manipulação e dominação política operada tão bem pelo Governo Bolsonaro. 


A canção começa falando sobre manipulação dos afetos, sobretudo o medo. Isto é, como o medo é utilizado para alimentar o ódio na sociedade ao ponto de indivíduos defenderem a eliminação de quem pensa diferente de si. Durante toda a campanha eleitoral essa tática ficou muito evidente no discurso da propaganda bolsonarista como por exemplo a ideia de que caso Lula vença as eleições as igrejas seriam fechadas, o aborto seria permitido assim como a legalização da maconha. Agora no segundo turno o foco tem sido a segurança, onde se busca associar o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) a facções criminosas. 


A letra de “demônios estão por aí” começa com uma frase poderosa.


“O ódio surge do medo/

e o medo é fácil criar.

Elaborado o enredo/

manipula total em segredo”.


No trecho seguinte a canção chama atenção para o fato de que essa tática desprezível é infalível. Que o diga o resultado da eleição no primeiro turno em que pese estarmos vivendo o pior Governo da história não houve argumento racional capaz de nos livrarmos do Bolsonaro. Pelo contrário, a eleição de importantes aliados desse governo mostra que isso não será fácil. Ainda que ele seja derrotado no segundo turno.


“Dá dinheiro e é de quem chegar primeiro/

O desespero é como a goiva do artesão/

Afiado, é muito apropriado/

Se seu trabalho envolve dor e comoção

Desprezível, infalível”.


Na sequência temos o refrão,  e que refrão camaradas.


“vamos todos culpar o diabo se algo não for muito bem/

Vamos deixar evidência de lado, fatos que não nos convém/

Nisso você deve crer/

Em tudo que tem a perder/

Demônios estão por aí”


Nesse refrão temos alguns elementos importantes. Mas o fundamental é que fica evidente o uso do discurso religioso como forma de manipulação e dominação política. Nesse discurso, em primeiro lugar, eu nunca reconheço a minha culpa. Em segundo lugar, se os fatos estão contra nós deve-se contesta-los de todas as formas. Por fim, o líder, por mais contraditório que seja, não deve ser contestado de forma alguma. É preciso crer ou o castigo será cruel. Diante disso ao pobre alienado só resta o conformismo.


“tudo na vida tem preço/

E desde o começo não posso pagar/

A que nível terrível desço?

O inferno de certo mereço”.


Enquanto o pobre alienado fica se culpando por sua condição miserável, temos por outro lado os que usufruem desse estado de coisas.


“enquanto isso nesse grande hotel suíço/

Engravatados no salão de reuniões/

Decidido, disputando e rindo/

Sabem que a miséria com juros

Rende bilhões/

No Paraíso o pecado é o prejuízo.”


Um aspecto importante nesse trecho é o fato da religião ser transformada num negócio. E como todo o negócio o objetivo é o lucro. De modo que o verdadeiro lema dessa corja é: “lucro acima de tudo, mercado acima de todos”. Diante disso a mensagem final da canção é a de que é contra esses verdadeiros demônios que devemos lutar e não aqueles criados pela tradição religiosa com o objetivo de nos manipular e dominar. Nessa luta as próprias pessoas que honestamente praticam sua religião tem um papel fundamental. A elas cabem se libertar desses falsos profetas. E contribuir para construção de uma sociedade solidária e fraterna.


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 


Ouça o álbum no link:https://www.youtube.com/watch?v=9UuGmBn9-Ew&list=OLAK5uy_mRs1VA_rSjyEGHkaCrXILvOVdhdr-EHoc



segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Resultado das eleições estaduais e as perspectivas para as eleições municipais de 2024 em Lajeado

A dinâmica eleitoral no Brasil faz com que haja uma articulação entre as eleições que ocorrem de dois em dois anos para escolha dos representantes políticos nos legislativos e executivos. De modo que quando termina um processo eleitoral já se está pensando no próximo. Ou melhor, cada campanha é feita pensando na próxima. Pois como a política no Brasil (a bem verdade, não só aqui) é feita a partir de uma perspectiva profissional, isto é, como um emprego. Quem está ocupando um cargo busca de todas as formas se manter e aqueles que não estão tentam ocupar. De modo que atuam mais numa perspectiva de se servirem do que servir a comunidade.


Enfim, toda essa reflexão introdutória é para dizer que o resultado das eleições estaduais nos dá alguns apontamentos para as eleições municipais. Diante disso o nosso objetivo aqui é buscar analisar o que podemos vislumbrar a partir desses resultados no município de Lajeado. Nesse sentido um primeiro aspecto que chama atenção é para um fato de que a eleição estadual pode ser vista como um termômetro de como a população está avaliando o grupo político que está no poder. Por outro lado, nos possibilita também ver a capacidade de articulação e força da oposição. Por sua vez, esses grupos políticos tem a oportunidade de avaliar suas táticas e rever as estratégias se se quiserem manter ou tomar o poder. Pois até as eleições municipais serão 2 anos onde tudo ou nada pode mudar.


Em Lajeado, na campanha eleitoral de 2022, vimos vários indivíduos ou grupos se colocando como força política. Nesse contexto três se destacaram: O prefeito Júnior Bandeira pela situação, naturalmente. E pela oposição, de um lado o ex-prefeito Tércio Neto e de outro Leidiane Mota.


Numa primeira análise podemos dizer que não houve um derrotado, já que tanto a situação como a oposição conseguiu eleger 01 ou mais dos nomes que estavam apoiando. No entanto ao aprofundarmos a análise, o grupo situacionista é o que tem menos a comemorar. Por exemplo, na disputa para deputado Estadual, o principal candidato (Cleiton Cardoso) apoiado pela gestão obteve 12,74% dos votos válidos no município. Ficando atrás de um dos candidatos apoiado pela oposição (Ivory de Lira), que obteve 17,56%. Se somado os votos obtidos por outro candidato apoiado pela oposição, a deputada Vanda Monteiro, que teve 12,28%, essa derrota aumenta mais ainda.


Além da votação dos três candidatos com maior votação no município – que eram aqueles que tinham a maior estrutura e investiram pesado para ter essa votação. É importante destacar outros nomes que não tiveram o mesmo apoio mas conseguiram votações expressivas como foi o caso da Janad Vacari, Cirilo Douglas e Cláudia Lelis.


Na disputa para deputado Federal o quadro anterior se repete. O deputado mais votado no município foi o Toninho Andrade (27,05% dos votos válidos) apoiado pela oposição. Enquanto que o Gaguim apoiado pela situação teve 14,71%.  Um ponto interessante nesse resultado é que ao contrário da disputa para deputado Estadual, os dois principais nomes da oposição (o Ex-prefeito Tércio e a Vereadora Lediane) defenderam o mesmo nome – o do Toninho Andrade. Na disputa para Assembléia Legislativa o primeiro apoiou o Ivory e a segunda a Vanda. 


Ainda sobre a disputa para a Câmara dos Deputados, é importante destacar a votação do Filipe Martins e do Eli Borges – ambos ligados as igrejas protestantes. Merece menção também a votação do Rubens Uchôa e dos petistas Celio Moura e Zé Roberto. 


Na disputa para o Palácio Araguaia a derrota da situação foi ainda maior. O candidato apoiado pela gestão (Ronaldo Dimas) obteve apenas 18,22% dos votos válidos. Enquanto Wanderlei Barbosa, apoiado pelos principais nomes da oposição, teve 71,57%. Sem falar na votação expressiva do Paulo Mourão (6,49%), que de longe, não teve a mesma estrutura que os dois principais candidatos tiveram. Mesmo assim teve uma boa votação. 


A disputa para o senado foi a única que a oposição não conseguiu triunfar sobre a situação. A candidata da oposição era Kátia Abreu que obteve 27,07% dos votos válidos. Mas a mais votada foi Dorinha que teve 57,59%. Essa votação no entanto foi mais o mérito da articulação das candidaturas de Wanderlei e Dorinha do que de um trabalho da situação como podemos ver a partir dos demais resultados.


No caso da disputa presidencial, tanto a situação como a oposição buscaram manter uma posição de certa neutralidade diante do embate entre Lula e Bolsonaro. De modo que tanto a derrota como a vitória de qualquer um dos candidatos, no caso do primeiro turno foi do petista que conquistou 52,55% dos votos válidos, não terá uma grande influência na disputa de poder local. Ou talvez não – uma vitória de Lula no 2° turno pode, num futuro governo petista, dar a Kátia Abreu  (que apoia o ex-presidente) uma posição no primeiro escalão – e isso certamente é positivo para oposição em Lajeado que a apoiou. 


Enfim, se o resultado das eleições estaduais pode nos dizer alguma coisa do contexto político local. É que para o grupo da situação o sinal de alerta foi ligado. Se o atual grupo no poder pretende continuar a frente da gestão municipal precisa rever a sua estratégia. Já a oposição por sua vez precisa analisar sua força num cenário de divisão e num cenário de unidade – num cenário de divisão a vantagem para situação diminui, já de unidade essa vantagem aumenta. De todo modo os dados estão lançados. Vejamos quem saberá fazer as melhores análises e por conseguinte as melhores jogadas para se apresentar com chances reais na disputa de 2024, tanto para o legislativo como para o executivo municipal. 


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

História do Tocantins: Uma conversa sobre a origem e formação do antigo Norte Goiano

Estávamos viajando há várias horas quando resolvemos parar um pouco para descansar á sombra de um pé de gameleira.  O sol estava de rachar – como se diz naquela região – bem que um tereré cairia bem, mas sem água gelada não rolaria. O jeito era esperar chegarmos ao próximo município para conseguir a água. Por enquanto, nos contentaria com um palheiro. Durante a nossa passagem por aquele território nos chamava atenção os imensos deserto verde constratando com a pobreza dos municípios. 

– Herança dos bandeirantes, meus filhos. Herança dos bandeirantes. Nos disse um velho Krahô – um ancião lúcido e sábio, que nos acolheu na sobra daquela gameleira.


O velho Krahô nos contou que antes das bandeiras chegar naquele território por volta do século XVII, seu povo vivia livre, dividindo o espaço com outros povos. Então aquele povo estranho, liderado por um anhanguera (Diabo Velho), o famoso Bartolemeu Bueno da Silva, invadiram o território matando e aprisionando indígenas e se apossando das minas de pedras preciosas. Nos livros de história Bartolemeu é celebrado como o fundador de Goiás. Ele partiu em 1682 de São Paulo (as bandeiras eram sobretudo de origem Paulista) em busca da famosa mina dos Goyazes e decidiu fixar moradia ali. Os Bandeirantes são celebrados por terem sido importante na expansão e interiorização do território brasileiro. Mas lembrando de uma canção do Belchior: - quanto aos índios que mataram, ninguém pode contar... E continuam matando, nos lembra o velho Krahô.


No século XVIII, nos conta o velho Krahô, esse território era visto pelos não-indígenas apenas como uma região dentro das minas dos Goyazes – uma visão que mudou com a descoberta de minas por aquelas bandas. Com isso o território passou a ser cobiçado e veremos o surgimento dos primeiros arraiais. Sobretudo entre a década de 1730 a 1740, por exemplo, Natividade e Almas (1734), Arraias e Chapada (1736), Pontal e Porto Real (1738) entre outros. Temos assim o povoamento do território por não-indígenas, sendo esses na sua grande maioria de negros, utilizados como mão de obra escrava. E por brancos, formados pelos mineiros, mas também de pobres em busca de riquezas. De modo que a população daqueles arraiais era heterogênea.


No auge da exploração das minas de pedras preciosas temos uma presença maior do poder Imperial. Mas não se engane, não era com políticas para o desenvolvimento da região, mas de controle, para evitar o desvio do ouro e outras pedras preciosas extraídas das minas. Entre essas medidas estava a proibição de abertura de novas entradas e o fechamento dos rios para navegação. Outra medida também foi a criação de casas de fundição. Ainda nessa linha, foi criado a superintendência das Minas de Goiás, tendo como seu primeiro superintendente Bartolomeu Bueno da Silva. Então a cobiça leva ao declínio do garimpo e a pobreza é o que resta. Situação que não mudou desde então, a não ser para alguns privilegiados, nos lembra o velho Krahô.


Com o declínio dos minérios os arraiais entram em decadência. A partir daí, por uma questão de sobrevivência, a agropecuária surge como uma alternativa necessária. Sua expansão, por um lado permitiu a sobrevivência econômica da região, sobretudo com a navegação dos rios, permitindo a circulação de mercadorias e o desenvolvimento de um comércio local. Por outro, levou a um domínio ainda maior dos territórios indígenas. Legando a nós, lembra o velho Krahô, pequenos territórios onde fomos aldeados. E vivemos na miséria, sitiados por todos os lados pelo agronegócio.


Natividade se consolidou como município, com seu povoamento por não-indígenas datando de 1734. No mesmo ano é datado o povoamento de Almas. Depois em 1738 tivemos o surgimento de Porto Nacional e Monte do Carmo. Ainda no período da mineração tivemos Arraias (1740), Paranã e Dianópolis (1750). No século XIX, influenciado pela agropecuária e pelo comércio as margens do Rio Tocantins vemos o surgimento de Pedro Afonso (1845), Tocantinópolis (1852), Ponte Alta do Bom Jesus (1850), Araguatins (1868) e Taguatinga (1855). Já no século XX, a construção da BR-153 (Belém-Brasília) propiciou o surgimento de cidades como Araguaína, Gurupi, Guaraí, Paraíso e Miranorte.


O Velho Krahô nos conta que a história desse território é marcada por conflitos. Mas nos livros estão registrados apenas aqueles que se refere a criação do Tocantins. Como por exemplo, ainda no século XVII (1761) o surgimento da ideia de criação de duas comarcas para facilitar a administração do imenso território. Dois momentos importante nesse sentido se deu em 1804 com criação da comarca de São João das Duas Barras tendo como ouvidor D. Francisco de Assis Mascarenhas. E cinco anos depois, 18 de Março de 1809, a criação da Comarca do Norte, tendo Joaquim Teotônio Segurado como ouvidor. A partir daí ocorreu vários conflitos para que a comarca tivesse cada vez mais autonomia em relação a capitania de Goiás – conflitos que se intensificaram com a luta pelo fim do Império e instalação da República. Mas sem êxito.


Só no Século XX, sobretudo na sua segunda metade, é que esse movimento vai ganhar força novamente. E embalado pelo espírito de mudança que marcava a politica nacional com o Movimento das Diretas Já – culminando com o fim da Ditadura Cívil-Militar e a elaboração de uma Nova Constituinte, é concretizado a divisão do Estado do Goiás e a criação do Estado do Tocantins. José Wilson Siqueira Campos, então Deputado Federal, apresentou o projeto de criação do novo Estado (alicerçado num movimento da sociedade civil organizada, sobretudo de uma elite local e dos estudantes universitários) na Câmara dos deputados. O projeto foi aprovado no mesmo dia na subcomissão dos Estados na Assembléia Nacional Constituinte. E assim, no artigo 13 do ato das disposições constitucionais transitórias da Constituição, em 05 de outubro de 1988, nascia o Estado do Tocantins. Em 15 de novembro é realizada a eleição dos primeiros representantes Tocantinenses. Em 1989, na cidade de Miracema (capital provisória) foi instalado o governo com a posse do governador José Wilson Siqueira Campos e seu Vice Darci Martins Coelho.


E aqui chegamos, diz o velho Krahô. Eles nunca nos enganaram com a promessa de progresso. Nossos territórios foram surrupiados, muitos dos nossos parentes foram assassinados, mas continuaremos resistindo até o último de nós. Não tínhamos dúvida do que dizia aquele ancião. Depois daquela verdadeira aula, jogamos as mochilas nas costas, montamos na moto e seguimos viagem. Com a bênção daquele velho Krahô. Ainda tínhamos alguns bons quilômetros para percorrer até Porto Nacional onde participariamos de uma famosa Feira Literária. Depois seguiriamos viagem conhecendo as serras gerais e alguns sítios rupestres na região. Daí então retornariamos para nossas casas em outro Estado. 


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador, Poeta e Escritor Popular.