quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Os afetos que circulam entre os muros das escolas IV

Após uma tentativa frustrada de realizar um protesto para criação de uma associação estudantil, Leon pergunta aos seus colegas o que impedia os demais estudantes de lutarem pelos seus direitos, se tédio ou apatia? Uma colega responde imediatamente que seria tédio. Já o outro quis saber qual seria a diferença. Leon então responde: - Tédio é um sono do qual se pode acordar. Já apatia é a condição de não se importar. Então os demais afirmam que a resposta à pergunta do Leon seria tédio e não apatia. A pergunta do Leon veio de uma conversa que ele tivera com o diretor da escola, que lhe alertou que teria problemas se tentasse ir contra o regimento escolar, disse que nenhum estudante atenderia o seu chamado para organizarem-se e lutar por direitos, pois estavam dominados pela apatia.

A cena descrita é do filme canadense The Trotsky (que no Brasil recebeu o título de “Trotsky: A revolução começa na escola”), de 2010, dirigido por Jacob Tierney. Que conta a história de um jovem que acredita ser a reencarnação do Leon Trotsky – um dos líderes da Revolução Russa de 1917 – e, portanto, deve reconstituir a sua vida. Após liderar uma greve fracassada na empresa do seu pai, ele é mandado para escola pública. Ali se depara com uma direção autoritária. Percebendo isso, o jovem vê um terreno fértil para que possa colocar seus planos em prática - o que ele não contava era com a apatia dos seus colegas. Ou seria tédio?

De acordo com Espinoza (2014) o tédio é um desejo que torna uma coisa apetecida em odiosa. Trata-se, portanto, de um afeto que limita ou diminuem a nossa potência de agir. Já a apatia é uma condição de indiferença, isto é, viver sem se afetar pelos afetos. Dito isso, fica claro a importância de Leon saber se o que limita os seus colegas de buscarem seus direitos é o tédio ou a apatia. Sendo o tédio há uma saída, é possível circular outros afetos, tal como defende o filósofo Vladimir Safatle (2015). Sendo a apatia o jeito é se conformar e aceitar as coisas tal como estão. Diante disso circular afetos que se oponham ao tédio é fundamental para que não nos tornemos apáticos.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.

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