Eu tinha consciência que a qualidade dessas pós-graduações deixam bastante a desejar. E pude perceber isso na prática. De modo que durante o curso busquei não me ater apenas as apostilas e videoaulas disponibilizadas pela instituição. Com isso não tive muita dificuldade na realização das tarefas e avaliações. E no final consegui produzir um artigo que muito me orgulha - não por ter obtido a nota máxima sem o auxílio de nenhum orientador, mas sobretudo por ter me direcionado ao Mestrado em Filosofia, como também por ter deixado uma contribuição importante, pelo menos na minha avaliação, para discussão da temática.
Trata-se de um trabalho teórico. Mas, que surgiu de um problema que me incomoda no cotidiano - o discurso contrário aos direitos humanos. Discurso esse reproduzido entre os muros das escolas. E que se evidencia em relações autoritárias. Tentando responder o problema, me pareceu uma boa estratégia utilizar a arte, mais especificamente o cinema, para mostrar essa realidade (corroborando com a tese de que a arte imita a vida, em especial o cinema). O título do artigo foi justamente inspirado num filme (Entre os muros da escola) e dos filósofos nos quais fundamentaria a minha argumentação (Aristóteles, Espinosa e Vladimir Safatle).
O nosso ponto de partida seria a compreensão do que são os afetos e a sua relação com o comportamento humano. O ponto seguinte seria mostrar como isso se dá no cotidiano a partir de nossas ações - ações que nem sempre condizem com o que estabelece os direitos humanos. Depois buscamos entender o que são esses tais direitos humanos que tanto se fala, mas que poucos sabem de fato o que são. Para finalizar mostramos a relação intrínseca entre ética e direitos humanos. Enfatizando que a promoção desses direitos passa necessariamente por uma formação ética, que tanto no contexto clássico, passando pela modernidade, ou na contemporaneidade salienta a necessidade de agirmos de forma racional diante dos afetos que circulam na sociedade.
Quem navega por esse blog já deve ter visto alguns trechos que disponibilizei deste artigo. De modo que não se trata de algo totalmente inédito. No entanto, agora segue o texto na íntegra (que pode ser baixado pelo link: https://drive.google.com/file/d/1SlfqZDWmMQbsWoTUmBhgOcQjkm_WxwCy/view?usp=sharing). Não há nenhuma modificação em relação à escrita que foi submetida à avaliação como requisito para conclusão da especialização. Apesar de já terem passado três anos desde que escrevi esse artigo, vejo que ele está envelhecendo bem. Tanto pelo problema que persiste - e que não vislumbramos a sua superação a curto ou médio prazo. Como também por termos nos apoiado em clássicos. No entanto dei uma modificada no formato, dando uma cara mais de revista - inserindo algumas imagens, não só dos filmes utilizados na análise, como outras que acredito que podem contribuir para quem queira trabalhar a temática em sala de aula (e fora dela) a partir dessas obras.
Recentemente durante uma formação fiquei observando uma discussão acerca do comportamento dos estudantes de uma escola cívico-militar. Durante a discussão um colega pontuava a diferença do comportamento desses estudantes na presença dos militares e na sala de aula apenas com os professores. Enquanto num espaço demonstram respeito às normas, no outro a postura é diferente. Não quis polemizar, mas pensei comigo. Ora, de onde vem esse comportamento se não dá sociedade que vivemos - sociedade esta onde a aparência importa mais do que a essência - o ter mais do que o ser. Como cobrar desses jovens uma postura diferente daquilo que eles veem em casa e nos espaços que frequentam?
Trago esse exemplo para mostrar mais ainda a importância dessa temática. Para a necessidade de olharmos para aquilo menos evidente - as violações que não deixam marcas visíveis. Não deixam marcas visíveis mas estão aí e todos nós de certa forma contribuímos para sua normalização.
Pedro Ferreira Nunes - É Professor de Filosofia na Rede Pública de Ensino do Tocantins. Possui Graduação em Filosofia (UFT). Especialização em Filosofia e Direitos Humanos (Unifaveni). E Mestrado em Filosofia (UFT).
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