terça-feira, 10 de setembro de 2024

Breve análise das eleições em Lajeado

Quem há um ano diria que Dr° Tércio (Republicanos) teria o apoio do atual prefeito - Junior Bandeira (PL) na sua candidatura à prefeito de Lajeado no pleito de 2024? E o Nego Dilson (PSDB) estaria na coligação encabeçada pela Márcia (PSDB) e a Leidiane (PDT)? Ou que Dr° Tércio, lançado na política pelas mãos da Márcia. Teria esta como sua principal adversária nesse pleito?

A priori, para quem não compreende a política, pode achar uma falta de caráter, ou como se diz popularmente: “uma cachorrada”. Mas isso nada mais é do que o reflexo da dinâmica da sociedade que vivemos - uma sociedade que não é estática. E se a sociedade não é estática, a política muito menos. Tanto que isso não é uma realidade só de Lajeado. Se formos para Miracema encontraremos uma disputa entre duas figuras que estiveram juntas na chapa majoritária na eleição passada (Camila x Aprijo). Em Palmas o candidato Júnior Geo que enfrentou Cintia Ribeiro no último pleito, conta atualmente com o seu apoio. A nível nacional temos Lula e Alckmin, outrora adversários, agora ocupando o cargo de Presidente e Vice respectivamente.

Os exemplos são muitos, mas fiquemos apenas nesses. O que nos interessa a partir desses exemplos é mostrar o que na filosofia política determinamos de realismo político. E quando falamos em realismo político a grande referência é certamente Maquiavel.

De acordo com Guimarães ( 2015, pág. 15): “O  realismo  de  Maquiavel  considera  que  na  política  não  há  uma resposta  pronta,  definitiva  e  adequada  que  possa  dar  conta  de  todas  as situações em diferentes momentos. Como não há universais, cada momento é  um  momento  particular,  cada  momento  exige  resposta  adequada  a  partir das experiências modernas e o acúmulo das lições do passado, por isto é um conhecimento  empírico.  Neste  pensamento  destaca-se a  atenção  sobre  o conhecimento do homem e suas relações. É decisivo para o realismo, tentar captar  o  que  é  o  homem,  ou  no  dizer  de  Maquiavel,  “a  natureza  humana”, quais são seus desejos, seus anseios, suas mágoas, suas expectativas sobre si e os outros, seus limites e horizontes, sua vontade de poder.”

O trecho acima é bastante esclarecedor, e evidencia sobremaneira o que falamos anteriormente. Cada eleição é uma eleição diferente. E os grupos que visam chegar ao poder se organizam de acordo com as condições do momento. Desfazendo alianças e construindo outras que lhes deem maiores, e melhores, condições para vencer.

Voltando a eleição em Lajeado, é inegável o favoritismo do Dr° Tércio no pleito corrente. A campanha do candidato dos republicanos têm demonstrado mais força. Planejada há muito tempo, conseguiu mobilizar uma base de apoio que passa pelo Governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), o Senador Eduardo Gomes (PL) e vários parlamentares. Localmente possui o apoio da maioria dos vereadores com mandato e além do atual prefeito.

Essa força reflete na chapa de vereadores que certamente conseguirá a maioria dos votos. Elegendo entre 6 e 7 dos candidatos. Os candidatos que estão com Márcia terão que brigar pelas vagas restantes.

Aliás isso mostra que a eleição para ocupação das nove cadeiras no legislativo municipal lajeadense será disputadíssima. Há pelo menos 17 candidatos com condições de ser eleito entre os 44 na disputa.

Em relação à candidatura da Márcia não se pode subestimá-la. Ela é sem dúvida uma líder popular que tem uma grande estima por parte da população lajeadense. E mesmo que não tenha a seu favor uma grande estrutura pode surpreender. Até porque como manda a cartilha do realismo político, não podemos ver as coisas como dadas, prontas e acabadas.

Temos ainda a candidatura do Toninho da Brilho (PSB). Que é apenas para cumprir tabela. Não há nenhuma condição de se colocar como uma alternativa aos dois principais candidatos. Ainda que acontecesse algo que tirasse da disputa Tércio ou Márcia. Toninho continuaria sem nenhuma chance de ser eleito. Qual o sentido da sua candidatura então? O fundo eleitoral? Fazer um trabalho de base para as eleições futuras? Não sabemos.

Enfim, esse é o quadro das eleições em Lajeado. Referentes aos nomes e as forças políticas. Quanto a projetos não temos notado muitas propostas. De modo que a disputa parece estar mais relacionada a qual perfil de gestão o eleitor preferirá. Mas sabemos, sobretudo no interior, que não é só isso que define o voto.

Pedro Ferreira Nunes - É Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como professor na Rede Pública de Ensino do Tocantins.

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