Nesse cenário qual seria a melhor escolha? A grande maioria daqueles que se insere no campo progressista estão fazendo a escolha pela candidatura do Eduardo Siqueira Campos. O que é compreensível diante do fato de que a outra alternativa é uma candidata que veste a camisa do bolsonarismo. Ou seja, a escolha é pela direita tradicional (maquiada de moderninha) ao invés da extrema direita (maquiada de liberal). A diferença entre uma e outra é que com a primeira há um diálogo possível, sobretudo o respeito ao Estado democrático de direito. Já a segunda não.
Outro fator a ser levado em consideração é que pensando num projeto nacional de manutenção do bolsonarismo fora do poder. Não é nada interessante ter no comando da capital alguém que irá dar palco para a extrema direita. Não que Eduardo não faça isso. Pois ideologicamente ele está mais próximo do bolsonarismo do que da esquerda. No entanto com Janad isso será automático. Só vermos quem já passou pelo seu palanque (Bolsonaro, Michele, Nicolas, Damares entre outros).
Foi justamente o apoio dessa gente que é bastante popular em Palmas, sobretudo na periferia, que catapultou Janad ao lugar que ela chegou.
Apesar de ver toda a sua força durante o primeiro turno da campanha, ao contrário do que algumas pesquisas apontavam, sempre disse que haveria segundo turno. Ainda que não percebesse um movimento que pudesse impedir a sua vitória.
O fato é que esse movimento ocorreu. As votações expressivas tanto do Professor Júnior Geo como do Eduardo mostraram uma resistência do eleitorado palmense ao bolsonarismo representado por Janad. Mostraram também que o que parecia ser uma terceira via tornou-se uma alternativa real - a candidatura do Eduardo Siqueira Campos que conseguiu ficar à frente do Júnior Geo (que contava com o apoio da prefeita Cintia).
Não acredito que ninguém que tenha minimamente uma formação progressista tem alguma ilusão quanto a uma gestão do Eduardo Siqueira Campos que não seja para atender os interesses do mercado. Tanto é que um dos pontos do seu programa de governo é o estabelecimento de parceria público-privada (privatização). Entre eles na educação e no transporte público. No transporte público, por exemplo, sua proposta é adquirir 200 novos veículos e entregar para uma empresa privada fazer a gestão, óbvio que isso não será em troca de nada, mas da tarifa que os usuários pagam diariamente.
O mote do seu programa é a livre iniciativa com justiça social. É praticamente o mesmo lema do Governo Siqueira Campos à frente do Estado do Tocantins (o Estado da livre iniciativa e da justiça social). Em primeiro lugar o interesse do mercado e alguma migalha para o social (compreendido como caridade).
Diante desse cenário, votar nulo seria uma opção? Já que independente de quem for eleito as perspectivas não são boas para a classe trabalhadora, sobretudo quem vive na periferia. Para alguns sim.
Minha posição, não sem incômodo, é defender a necessidade de não ficarmos neutros num cenário em que uma candidata que reivindica o bolsonarismo pode chegar ao poder. Seguindo a análise do filósofo e professor Paulo Arantes sobre Bolsonaro de que este seria uma ruptura para o pior, que deve ser portanto estancado e contido. Aqueles que o seguem também o são. E por tanto devem ser combatidos igualmente.
Também devemos nos perguntar se esse é o horizonte que queremos. Nos acomodar com a incômoda posição de ter que escolher entre direita e direita. Esperando em troca ganhar algum cargo comissionado. Ora, quando vamos pensar e trabalhar seriamente para nos colocar como uma força relevante na política tocantinense?
Pedro Ferreira Nunes - É Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins. Graduado em Filosofia (UFT). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos (Unifaveni). E Mestre em Filosofia (UFT).
Nenhum comentário:
Postar um comentário