quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Fim da equipe multiprofissional das unidades escolares de pequeno e médio porte é retrocesso na Rede Pública Estadual de Educação do Tocantins

Quando achamos que estamos avançando na esfera educacional, acontecem decisões que nos fazem retroceder. Esse é o caso da medida que retirou das unidades escolares (da Rede Pública Estadual do Tocantins) de pequeno e médio porte dois profissionais fundamentais: Psicólogo e Assistente Social. A presença desses profissionais nos últimos anos trouxe um enorme ganho, sobretudo na política de permanência estudantil. De modo que tal medida terá certamente um impacto negativo para a comunidade escolar.

Numa sociedade que tem funcionado a cada dia como uma máquina de adoecer gente, seria ingenuidade esperar que tal fenômeno não afetaria a sala de aula. De modo que a realidade que encontramos na escola é bem diferente de outrora. Exigindo portanto a presença de diferentes profissionais que possam contribuir para o enfrentamento às expressões da questão social que afeta o aprendizado e a formação integral dos sujeitos.

O filósofo Vladimir Safatle defende que vivemos uma era de crise psíquica como consequência de um modo de produção que impõe determinadas condições sociais. Ele salienta que hoje há tanta categoria clínica que é impossível o indivíduo sair de uma clínica sem o diagnóstico de algum transtorno.

Safatle (2024) nos diz:

“Sabemos que não há sujeito sem sintoma, ou seja, não há sujeito sem marcas de uma socialização que se confunde com formas de alienação. Mas há algo a mais hoje que dá ao processo de formação social do Eu um caráter ainda mais insuportável. As exigências de iniciativa, de responsabilização individual, de “fazer seu corre”, que a precarização social absoluta e a implosão de relações elementares de solidariedade produziram no neoliberalismo, geraram, na verdade, aprofundamento da desagregação psíquica.”

Esse fenômeno é vivenciado por nós no chão da escola. E como não temos força para mudar essa realidade, acabamos tentando minimizar as consequências. É nessa linha que podemos considerar a presença de assistentes sociais e psicólogos nas unidades escolares.

A chegada desses profissionais nas escolas públicas, sobretudo nas regiões periféricas, trouxe um enorme ganho para comunidade escolar. Tirando das costas de outros profissionais que atuam nesse ambiente, sobretudo dos professores, a obrigação de lhe dar com um trabalho que não foram formado para tanto. Além do fato de que, por mais sensíveis que sejam. Estudar, planejar, organizar e ministrar uma aula, bem como fazer os devidos registros, toma tempo suficiente. Além do desamparo diante dos seus próprios problemas psicológicos.

Juntamente com o pedagogo (no cargo de orientador educacional), os assistentes sociais e psicólogos formaram a equipe tríade - responsável pela execução da política de permanência estudantil, sobretudo a partir da busca ativa escolar, onde o acolhimento é parte fundamental.

Nós que estamos na escola sabemos o quanto foi positivo a presença desses profissionais, e mais ainda dessa equipe. A queda nos índices da evasão escolar e uma melhor acolhida dos estudantes, sobretudo aqueles que estão passando por uma crise psíquica corrobora com essa tese.

Certamente houve casos de atenção. Afinal de contas é uma experiência recente. Mas creio que no geral as comunidades escolares são favoráveis a continuidade da equipe multiprofissional.

No entanto, surpreendentemente ficamos sabendo que a normativa de modulação para o ano letivo de 2025 não prevê a presença desses profissionais nas escolas de pequeno e médio porte. Essas escolas serão atendidas por profissionais lotados nas superintendências regionais de ensino. Ora, não precisa de muito raciocínio para saber que não será a mesma coisa. O que será um grande retrocesso.

Pedro Ferreira Nunes - É Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins. Graduado em Filosofia (UFT). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos (Unifaveni). E Mestre em Filosofia (UFT).

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