Na verdade, o vídeo do Evoney (Seu Osmar) me remeteu a banca de defesa da minha dissertação do Mestrado. Em que um dos arguidores, o Professor Dr° Roberto Rondon (Universidade Federal da Paraíba). Destacou que eu deveria ter explorado mais esse personagem citado no texto. Salientando se tratar de uma figura presente na cultura brasileira, tida como um bobo, mas que de bobo não tem nada. De fato eu havia citado esse personagem ao falar do objetivo para o desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (Onu) - ODS 08 - Trabalho decente e crescimento econômico. Apenas para ilustrar uma situação. Não esperava, porém, que isso seria apontado como algo que se melhor explorado, enriqueceria minha dissertação.
Depois fiquei imaginando comigo que o Professor Rondon tinha toda razão. Imagina o quanto teria sido rico trabalhar alguns desses vídeos na sala de aula. Não tenho dúvida que conhecendo a popularidade do personagem, teria um grande engajamento dos estudantes.
A situação que ilustrei na dissertação com um vídeo do Seu Osmar é a mentalidade, muito presente no interior, de que o empregado é dependente do patrão e portanto deve suportar qualquer condição de trabalho sem reclamar. Pelo contrário, deve agradecer ao seu empregador pois sem este não terá emprego.
Isso é resquício do regime oligárquico que por muito tempo prevaleceu no Brasil - que Paulo Freire pontua bem no seu Educação como Prática da Liberdade (1967):
“Mesmo quando as relações humanas se façam, em certo aspecto, macias, de senhores para escravo, de nobre para plebeu, no grande domínio não há diálogo. Há paternalismo…” (Freire, 2024).
Na situação retratada, Roberto (Hitalon Bastos) é contratado para fazer um serviço para o Seu Osmar (Evoney Fernandes). Quando termina o serviço vai cobrar o seu direito. Mas é enrolado por Seu Osmar que por meio de um discurso manipulador faz Roberto se sentir um ingrato - que sai com as mãos abanando. Há outras versões também dos dois personagens retratando essa situação, numa delas a descrição é: Recebi meu salário e ainda sai devendo.
Talvez não tenha sido a intenção do artista denunciar essa situação. Ainda que por sua origem não duvidamos que a inspiração para esses vídeos venha de situações vividas por ele ou observadas na realidade em que está inserida. E ao espelhar a realidade esses vídeos tornam-se poderosos instrumentos de reflexão. Quando isso é feito de forma cômica o seu alcance tende a ser maior. Ainda que para muitos fique apenas no aspecto cômico.
Já em relação ao vídeo em que Seu Osmar satiriza a declaração de Gusttavo Lima, temos o seguinte cenário: Ele aparece sem camisa, numa mesa de sinuca com um toca na mão e uma cerveja barata. Começa sua fala fazendo alusão ao Governo Bolsonaro (tempo das armas) e ao Governo Lula (tempo da picanha). Sem tomar partido de um e de outro declara que agora é a vez do povo dos botecos. E então diz ter sido convidado pelo Gusttavo Lima para ser seu vice-presidente. Ele diz que sua intenção era ser presidente, mas aceitará a vice -presidência.
Achei essa resposta magistral. Porque trata a situação como deveria ser tratada. Como uma piada. E diante de uma piada a melhor reação é o riso (a não ser que não a compreendemos). Evoney Fernandes compreendeu e por meio do Seu Osmar deu uma ótima resposta.
Enquanto isso, um montão de gente que se diz de esquerda fica perdendo energia discutindo se Gusttavo Lima é qualificado ou não para disputar a presidência. Quando na verdade deveria estar preocupado com o que fazer para barrar o retorno da extrema direita ao poder e aos ataques aos direitos da classe trabalhadora. Inclusive por parte de um governo que se diz progressista (Governo Lula).
Mas a esquerda parece não ter aprendido nada nos últimos anos. É incrível. Há uma onda de ressentimento que nos faz comportar como moralistas e punitivistas (Movimento Bolsonaro na Cadeia). Ou seja, nos tornamos aquilo que dizíamos combater. E ainda tem quem fique indignado quando o Safatle diz que a esquerda morreu - por não compreender que um dos motivos para essa morte é o afastamento do povo - representado bem na figura do seu Osmar - que tem por isso, muito a ensinar a esquerda.
Pedro Ferreira Nunes - É Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins. Graduado em Filosofia (UFT). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos (Unifaveni). E Mestre em Filosofia (UFT).
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