Uma resposta para tais questionamentos seria o fato de que temos um sindicato atuante proporcionando diversas conquistas para a categoria. Que tem na figura do seu presidente um militante combativo que conduz a entidade com muito brio não havendo portanto questionamentos por parte da base. Ou talvez seja pelo fato de que a oposição que existe na categoria não seja suficientemente competente para se constituir como uma força real que faça frente ao grupo hegemônico. Ou ainda a categoria, salvo exceções, não ver o sindicato como algo relevante pelo qual vale a pena dedicar um pouco da sua energia.
Em relação ao primeiro ponto devemos reconhecer que trata-se de uma entidade sindical atuante. E que ao longo dos anos vem proporcionando conquistas significativas para a categoria. Ainda que nessa dinâmica é preciso diferenciar a diretoria estadual das diretorias regionais. E a partir daí pontuar que há uma maior combatividade por parte de algumas regionais do que de outras. Mas no final das contas o que aparece é o nome do SINTET.
Quanto à figura do presidente estadual (José Roque) também não podemos deixar de reconhecer sua história e importância na luta. Por outro lado, ninguém que fica tanto tempo à frente de uma entidade como o SINTET fica ileso. Há um desgaste natural assim como uma acomodação a um cargo - que se torna mais importante que a causa. E é essa a situação do José Roque. É cada vez mais evidente que o seu tempo passou. Que a sua contribuição como presidente estadual do SINTET já deu. E que o seu maior gesto de grandeza agora seria dar espaço para outro nome. Mas esperar esse gesto de alguém que foi formado numa cultura de esquerda de culto ao personalismo é iludir-se.
José Roque e o grupo que lhe dá sustentação (isso é um fator importante a se destacar. Pois sem uma base de sustentação ele não sobreviveria por tantos mandatos consecutivos). Fazem parte do que o Vladimir Safatle denomina de populismo de esquerda que consiste na visão de que é preciso “um modelo de construção de hegemonia baseado na emergência política do povo contra as oligarquias tradicionais detentoras do poder”. Esse povo é constituído a partir de demandas reprimidas que “todas elas devem convergir em uma figura que seja capaz de representar e vocalizar esta emergência de um novo sujeito político.”
Nesse contexto, o papel do sindicato é contribuir para que esse modelo em construção possa se efetivar. Tendo numa determinada figura a representação e vocalização deste projeto. O problema, de acordo com Safatle, é que essa perspectiva política mostrou sua ineficácia, sobretudo durante o governo Bolsonaro. No entanto, os defensores dessa perspectiva continuam sem querer ver o óbvio.
Trazendo para o nosso contexto a discussão recente em torno do PCCR da educação mostrou de forma inconteste o quanto a direção estadual, liderada pelo José Roque é no mínimo, medíocre. Numa reunião pública transmitida pelo youtube ficou evidente a capitulação da direção estadual a proposta do governo.
Por outro lado, é evidente que a oposição que existe no interior da categoria, não tem força suficiente para construir uma chapa que faça frente ao grupo hegemônico. Pelo contrário, há uma espécie de acordão que reflete nas eleições das regionais, a maioria com chapa única, assim como a estadual. Acredito que esse fenômeno é mais reflexo da falta de interesse da categoria com sua entidade representativa do que pelo trabalho realizado pelas diretorias sindicais.
Se, se realizasse uma pesquisa junto a categoria sobre a percepção acerca do sindicato, o resultado negativo não nos surpreenderia. Ainda mais porque o José Roque conseguiu personalizar a entidade. E muitos colegas não conseguem separar as duas coisas. Com isso, não percebem que a indiferença é o que contribui para que as coisas permaneçam tal como estão.
A minha atitude assim que me efetivei como professor da rede estadual de ensino do Tocantins foi me filiar ao SINTET. E continuarei por compreender a importância do movimento sindical não só na melhoria das condições de trabalho e salarial. Mas da sociedade como um todo. Acredito que é a partir desse movimento que poderemos vislumbrar uma mudança futura. O José Roque não é eterno. O sindicato sim. Pelo menos enquanto vivermos numa sociedade que tem o trabalho como o seu eixo central.
Por Pedro Ferreira Nunes - Professor de Filosofia na Rede Estadual de Ensino do Tocantins.
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