"Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha."
(Patativa do Assaré)
Terminaremos 2012 novamente como um dos
piores anos das ultimas décadas no processo da política de assentamento de
novas famílias por parte do governo federal. Por outro lado vemos um
crescimento do agronegócio não apenas através do apoio econômico do governo
federal como também através de leis que flexibilizam as leis trabalhista no
campo, que afrouxou na punição de crimes ambientais, que possibilita a
usurpação dos territórios indígenas entre outros. Pois foi nesse sentido que
foi aprovado o novo código florestal e a portaria 303 que permite a remarcação
das terras indígenas e outras tantas derrotas que sofremos no congresso
nacional por parte da bancada ruralista e do governo Dilma. Militantes dos
movimentos de luta pela terra afirmam que vivemos em um período de reformas de
base em favorecimento ao agronegócio.
Nos últimos anos tenho participado ativamente
de ocupações, marchas entre outras mobilizações dos movimentos campesinos de
luta pela terra em Goiás e no Brasil, bem como participando dos espaços de
articulação política. Há alguns anos temos feito a analise do abandono por
parte do PT e dos governos liderado por esse partido, do abandono da reforma
agrária. Nesse sentido construímos varias ações conjuntas no sentido de
fortalecer a luta pela terra, ou no mínimo manter a chama acesa.
O fato da maioria dos movimentos camponeses
terem uma relação histórica com o PT fez com que nos últimos anos suas direções
(cooptadas) recuassem nas ocupações e pressões mais aguda ao governo federal. Por
outro lado sem vitórias concretas, formação e trabalho de base os movimentos
perderam boa parte de suas bases que preferiram irem para as cidades atraídas pelo
crescimento da oferta de trabalho (precarizado), políticas compensatórias e o
mercado de consumo (endividamento).
O encontro unitário dos povos do campo
realizado no mês de agosto em Brasília foi um avanço no processo de construção
de unidade das organizações que atuam no campo, não só camponesa, como também
os indígenas, quilombolas e ribeirinhos. E um exemplo do potencial revolucionário
que a questão agrária tem no país. No entanto também mostrou as vacilações por
parte das direções dos movimentos em relação a ações mais radicais de ruptura
com o governo (o discurso do mal menor acaba definindo nossas ações).
Já o governo federal profundamente aliado com
a burguesia agrária não vacila um instante em coordenar um processo de
anti-reforma agrária profundo, de ataques ao que a luta camponesa conquistou
sob o sangue de muitos camaradas que tombaram ao longo do caminho.
Os movimentos de luta pela terra encontram se
numa encruzilhada - radicalizar ou não a luta por reforma agrária no Brasil. Romper
ou não com o governo petista (o mal menor para muitos). Um dilema que pode ser
facilmente resolvido, precisamos apenas resgatar o papel do movimento popular
combativo. Ora não devemos nos aliar com nenhum governo que não defende e nem
representa os nossos interesses. O papel do movimento popular é pressionar através
da luta os nossos direitos negados e usurpados.
É inegável a necessidade de uma reforma agrária
de fato no Brasil, bem como das organizações de luta da classe trabalhadora
assumir e tocar essa luta nunca de forma isolada, mas conjunta com as lutas por
uma transformação econômica e social no país.
Se as ações de articulação e mobilização
desencadeadas, sobretudo depois do encontro unitário dos povos do campo não se
tornarem em ações concretas como ocupações conjuntas de latifúndios e órgãos públicos,
paralisação de rodovias, marchas e o acampamento permanente em Brasília. Devemos
decretar o fim da luta pela reforma agrária no Brasil, sobretudo para ás
milhares de famílias que ainda resistem nas margens das rodovias em baixo de
barracas de lona em situação degradante na esperança de um dia ter um pedacinho
de terra para produzir e sobreviver.
Mas se a opção é continuar levando adiante
essa bandeira devemos parar de fazer discursos e lamentos sobre a traição do
governo do PT. Façamos de fato de 2013 um ano de luta camponesa incessante no
campo e na cidade, juntamente com o conjunto das organizações de luta da classe
trabalhadora. Pois afinal de conta a nossa luta não é apenas por reforma agrária
e sim pela superação do sistema capitalista e construção do socialismo.
*Pedro
Ferreira é educador e militante dos movimentos populares de Goiás e do Bloco de
Resistência Socialista.