Por Pedro Ferreira Nunes
Em
resposta a crise mundial que estourou nos EUA em 2008 a burguesia volta a
pautar a necessidade de aprofundamento de politicas neoliberais através de
reformas que buscam simplesmente a retirada de direitos trabalhistas e sociais.
Como sempre a classe dominante quer jogar nas costas dos trabalhadores os ônus
por uma crise que não foi criada por eles. Diante disso acompanhamos novamente
a palavra de ordem da burguesa neoliberal pelo Estado mínimo. No entanto nos
cabe questionar, Estado mínimo para quem? Para burguesia não é, pois essa mesma
burguesia que reivindica a necessidade do Estado mínimo utiliza-se deste para
explorar o trabalhador e oprimi-lo quando se mobilizam pelos seus direitos.
A
palavra de ordem pelo Estado mínimo mostra bem a hipocrisia e cinismo de uma
burguesia que omite o fato de que o Estado mínimo é apenas para os
trabalhadores e para as politicas sociais, já para as classes dominantes o
Estado tem que ser máximo para preservar a espoliação da mais valia. Tal fato
nos leva a questionar sobre a ética do discurso. De acordo Habermas a ética do
discurso deve ser fundamentada tal como uma norma jurídica e a sua validade
deve ser para todos para que então seja justa. Não é o que percebemos na
discussão a cerca do estado mínimo. Pelo contrario, percebe-se nitidamente uma
grande contradição neste discurso – que busca favorecer a classe dominante e
manter as classes subalternas sob o seu controle.
Nesse sentido não dá para
falar em justiça onde uma pequena elite é favorecida e a grande maioria
continua sendo explorada. Diante desse fato é importante salientar o papel da
ética tal como defendida por Reese-Schäfer que é o de impulsionar reflexões
racionais sobre quais regras morais predominantes são validas. Esse papel da
ética torna-se ainda mais fundamental no momento histórico em que vivemos. Onde
a mediocridade tomou conta do debate politico e uma onda conservadora avança na
sociedade revivendo velhas certezas e tradições. Como por exemplo, o forte
crescimento da influencia de igrejas neo pentecostais no Estado.
Ainda segundo
Reese-Schäfer uma discussão racional é necessária, sobretudo pelo fato de que
os indivíduos veem a moral como coercitiva. O que não deixa de ser verdade. No
entanto aqueles que atualmente acusam o Estado de moralista e que, portanto
deve ser enfraquecido ao máximo, são os verdadeiros moralistas – pretendem
substituir a ética normativa pela moral religiosa. Tal discurso não nos espanta
já que segundo Habermas quem “age estrategicamente, quem quer enganar, precisa
agir na situação de discurso como se reconhecesse o parceiro de discussão”.
Isto é, precisa saber para quem está falando e o que deve dizer para convencer
tal individuo.
Tal estratégia pode ser percebida claramente no discurso
neoliberal, na retirada dos direitos dos trabalhadores, na privatização do
patrimônio público, redução de politicas sociais, em suma no Estado mínimo. O
discurso é que tais politicas devem ser implementadas para o desenvolvimento da
economia e a melhoria de vida da população. Mas na prática o que se vê é o
favorecimento de uma minoria em detrimento da grande maioria. Já que no final
das contas é sempre o trabalhador que paga a conta.
*Artigo para a disciplina de ética e cidadania do Curso de Filosofia da Universidade Federal do
Tocantins.
Referencia bibliográfica: Reese-Schäfer,
Walter. Compreender Habermas. 4- A ética do discurso. 2008. Págs.; 68. 75 e 76.