Confesso que quando
recebi um exemplar de “O capital no século XXI” de presente, não me animei
muito a lê-lo. Sobretudo após ver alguns comentários na sua contra capa
recomendando-o como se fosse um clássico. Se figuras como Bill Gates, Paul
Krugman, ElioGaspari e órgãos de imprensa burguesa como o The Gardian e o The
Economist estavam elogiando essa obra, muito provavelmente não sairia boa coisa
dali para os trabalhadores.
No entanto sabia que
não era correto ignorar aquele livro só pelo fato de discordar de alguns
comentários. Mesmo que por aqueles comentários já dava para prever qual a tese
o autor defendia. Porém para fazer uma critica consciente de qualquer coisa é
necessário conhecer. E a partir dai refutar e combater se necessário for.Diante
dessas reflexões iniciei a leitura de “O Capital no Século XXI” do Piketty. E
não me arrependi, pelo contrario, recomendo-o. Porém o que me leva a recomendar
a sua leitura não são os mesmos motivos do The Economist. E são estes motivos
que destaco nestas dez questões.
1- Os
dados levantados por Piketty e seus colaboradores são extremamente importantes
para mostrar o aumento da concentração de renda e da desigualdade na sociedade
capitalista. Tal fato mostra ao contrario do que tenta fazer o autor, a
genialidade de Karl Marx. Que mesmo sem todos os instrumentos tecnológicos dos
quais possuímos hoje, conseguiu mostrar que isso ocorreria;
2- O
autor afirma que o cenário catastrófico previsto por Marx não se realizou, mas
ao mesmo tempo quando propõem que aja um maior controle do capital reconhece
que essa questão não está superada;
3- Os
dados mostram claramente que o período onde houve uma diminuição da
concentração de renda e da desigualdade coincide com a Revolução Russa e o
crescimento da URSS. No entanto isso é completamente ignorado pelo autor que
foca nas guerras mundiais;
4- Aliás,
o autor parece defender uma terceira guerra mundial para que aja uma maior
diminuição da concentração de renda e da desigualdade. O que não deixa de ser
bastante catastrófico;
5- Nesse
sentido, ao analisar a obra de Piketty percebemos que ele não apresenta nada de
novo. Pelo contrário, o que vemos é uma proposta de retomada de politicas
econômicas do tipo kenesyanas;
6- Sua
conclusão é um alerta para a classe dominante – ou superamos as politicas
neoliberais que propiciam o maior aumento da concentração de renda e
desigualdade. Substituindo-a por uma espécie de novo Estado de bem estar
social. Ou o poder da burguesia está em cheque;
7- Piketty
clama por uma espécie de humanização do capitalismo para se evitar a previsão
catastrófica de Marx. Experiências recentes, como por exemplo, os governos de
Lula e Dilma do PT mostram que isso é impossível;
8- O
autor também defende que não existe mais luta de classes. Mas sim a luta dos
99% contra os 1% mais ricos. O que não se sustenta, pois tal divisão não dá
conta de toda a complexidade e subdivisões que temos na sociedade;
9- Apesar
dos limites é preciso reconhecer a importância dessa obra, sobretudo no sentido
de pautar na ordem do dia a questão do aumento da concentração da riqueza e,
por conseguinte das desigualdades sociais;
10- Por fim, que os trabalhadores não se iludam
com as propostas reformistas de Piketty. Pois dai não sairá nada de diferente
do que os trabalhadores já experimentaram. De reformas capitalistas só sairá
mais capitalismo.
A leitura do “O Capital
no Século XXI” do jovem economista Frances Thomas Piketty. Me deu mais convicção
de é em Marx que temos os apontamentos teóricos para superação das
desigualdades e do capitalismo. Pois as respostas de Piketty são completamente
insuficientes para que os trabalhadores consigam superar a exploração e as
desigualdades econômicas e sociais. Pelo contrario, Piketty reafirma a
necessidade desse sistema nefasto que é o capitalismo. É uma velha receita
embrulhada num pacote novo.
Pedro
Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.
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