segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Algumas palavras sobre a aliança entre PT e PSOL para disputa municipal em Palmas.

Há alguns dias atrás havíamos escrito sobre “o triste retrato de um partido de esquerda no Tocantins”, onde relatávamos a situação do PSOL-Tocantins, sobretudo a cerca de que o partido das ruas e das lutas a nível nacional, no cenário regional havia se transformado num partido das urnas. Para nós tal fato se dava pelo caráter oportunista da direção regional do partido. Naquele período a legenda havia lançado a pré-candidatura de Cassius Assunção – presidente regional do partido – para disputar á prefeitura de Palmas. O que não víamos com muito entusiasmo pelo fato de não ter há visto uma discussão a partir da base para discutir um nome adequado da legenda para essa tarefa.

No entanto em vez de corrigir os erros e tentar direcionar o partido a nível regional para linha politica que o partido tem tido a nível nacional. A decisão tomada de aliar-se ao PT só afirmou mais ainda o caráter oportunista da atual direção do partido a nível regional. Tal posição vai na contramão da linha politica acertada que o PSOL tem tomado a nível nacional – linha de se colocar como alternativa de esquerda ao projeto falido do PT. Fato que, aliás, tem colocado o partido numa situação privilegiada nas disputas eleitorais em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Natal, Fortaleza entre outros. Um fato a se destacar nestas localidades é a busca pela construção de uma frente de esquerda, claro sem o PT e o PC do B, já que estes partidos já não representam mais os anseios daqueles que acreditam que a saída é pela esquerda.

No Tocantins o partido ignora tudo isso, ignora, aliás, que por aqui o PT nunca fora de fato de esquerda. Que até pouco tempo atrás compunha a base de apoio do prefeito Carlos Amastha, ocupando inclusive secretarias, que também faz parte do governo Marcelo Miranda, sendo que o líder deste governo é deputado do PT e também ocupa cargos na gestão estadual. Que José Roberto, deputado estadual e candidato do PT a disputa pela prefeitura de Palmas fez parte da base de apoio de Siqueira Campos, mesmo sendo do PT.

Em vez de construir com o PCB, PSTU e movimentos sociais uma candidatura alternativa, o PSOL-TO preferiu aliar-se ao PT, inclusive abrindo mão da cabeça de chapa para indicar o vice. Se tal fato ocorresse para apoiar a candidatura do PCB ou PSTU, tudo bem. Mas ignorar completamente a perspectiva de construção de uma frente de esquerda para apoiar o PT é inaceitável. Sobretudo por que do ponto de vista da tática eleitoral não haverá nenhum ganho para o partido, e do ponto de vista estratégico para construção do partido a nível municipal e estadual também não há nenhum ganho, pelo contrario só ônus em aliar-se a um partido tão desgastado como o Partido dos Trabalhadores. Mas que, sobretudo há muito tempo não representa mais um instrumento de defesa das bandeiras históricas da classe trabalhadora tocantinense e brasileira.

Diante disso esperamos que a direção nacional do PSOL barre essa politica de aliança equivocada da direção regional da legenda. Politica que alias como ressaltamos anteriormente vai na contramão da linha politica acertada do partido a nível nacional. E que não tem nenhuma razão por que ser diferente, pois a única justificativa para se defender tal aliança é de caráter oportunista e não para o fortalecimento da esquerda como declarou o presidente da legenda no município de Palmas.


Pedro Ferreira Nunes – é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Poema: Conversa no terreiro ou cantiga da saudade

Onde estão meus velhos amigos?
Companheiros do estradar.
Onde estão meus camaradas
Que não vejo mais por cá?

No pé de pequi ou na ilha verde
Onde é que eles estão?
Onde estão meus companheiros?
Se perderão no mundão.

Lembro-me do querido Bida
Gostava tanto de pescar
De tomar sua cachaça
E no córrego banhar.

Ninguém poderia imaginar
Que naquele dia chapado
Ao ir banhar na ilha verde
Ele morreria afogado.

E o grande Manoel mentira
Dançarino de primeira
Sempre com um carote no bolso
Rodava a cidade inteira.

Um dia trabalhando na roça
Uma sicura lhe invadiu
Antes de chegar no córrego
Já sem vida ele caiu.

Quem não se lembra do raposão
Famoso ladrão de galinhas
Não havia cerca que o segurava
Quando ele queria pegar as bichinhas.

Tomava cachaça de mais
Começou a delirar
Logo perdeu o juízo
Não demorou em se matar.

E o meleta então
Jovem sonhador
Queria aprender a tocar
Queria ser um cantor.

Se apaixonou por uma morena
E por ela se perdeu
Por ela, ele matou
Por ela, ele morreu.

E o boca de matraca
Marido da Madalena
Depois que ela o abandonou
Sua vida não valia a pena.

Invernou na cachaça
Dia e noite sem parar
Seu coração não suportou
Na boca da noite caiu sem respirar.

Nas madrugadas lajeadenses
Quando os galos descambam a cantar
A cachorrada latindo
É difícil não lembrar.

Dos meus velhos amigos
Companheiros do estradar
Que sumiram no oco do mundo
Para nunca mais voltar.

Pedro Ferreira Nunes

Casa da Maria Lucia. Lajeado-TO.
Lua minguante, Verão de 2016.
*Poema inspirado pela canção “Chula no terreiro” do Elomar Figueira Melo. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

A mediocridade como marca da disputa política em Palmas


Amastha e Claudia Lelis
O recente conflito em decorrência da passagem da tocha olímpica pela capital que gerou mais um bate-boca público e ameaças de ambos os lados através das redes sociais entre o prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) e a vice-governadora Claudia Lelís (PV) não foi um fato isolado. Não é de hoje que Carlos Amastha utiliza as redes sociais para agredir o governo Estadual e outros adversários políticos. Mostrando a sua total falta de condição de ser o gestor de uma capital e mais ainda o quanto é um politico medíocre. Por outro lado, os seus adversários não ficam atrás. E mostram que estão no mesmo nível do Amastha. E tal fato mostra que a mediocridade é a marca da politica feita na capital nestes últimos anos.
Em vez de se travar um debate de alto nível sobre os diversos problemas que assolam a capital tocantinense – por exemplo, o aumento da criminalidade, a péssima qualidade do transporte coletivo, o descumprimento dos acordos com os servidores públicos, especialmente da educação. Briga-se por quem terá mais publicidades e holofotes nos eventos nacionais como foi no evento de recepção da tocha olímpica e no lançamento do “zica zero” com a presença do ministro da saúde. Se o evento esta sendo organizado pela prefeitura de Palmas, o governo se quer é mencionado. Se for o contrário, o mesmo acontece. Diante disso não há outra palavra para classificar estes senhores se não de medíocres.
Ai depois é acusação de todos os lados – o prefeito acusa o governo estadual e o governo estadual acusa o prefeito. Enquanto isso lamentavelmente é a população palmense que paga a conta por essa “guerra fria”. Uma briga que não é por mais recursos para o município – que não é pela melhoria de vida da população. Mas única e exclusivamente pela disputa eleitoral – pela dominação da maquina pública.
Amastha (PSB) buscará a reeleição em outubro, e a vice-governadora Claudia Lelís (PV) ao lado do ex-prefeito Raul Filho (PR) tem se configurado em um dos seus principais adversários. Aliás, Claudia Lelís não tem feito outra coisa se não usar seu cargo para fazer campanha antecipada. Amastha por sua vez não fica atrás. Que a população palmense não se iluda, a marca desses senhores é a mediocridade, e sendo políticos tão medíocres, não é surpresa que suas administrações sejam medíocres. Dessa forma que o povo possa se conscientizar e desfazer desses “políticos” e a oportunidade para tanto é agora.
Pedro Ferreira Nunes – Educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

Algumas palavras sobre o Movimento de União dos Servidores Públicos Civis e Militares do Estado do Tocantins – MUSME e a luta por melhores condições de trabalho e valorização salarial.


Desde o inicio do mandato do governo Marcelo Miranda (PMDB) os servidores públicos estaduais vem se mobilizando por melhores condições de trabalho e valorização salarial bem como contra os ataques do atual governo aos direitos conquistados pela categoria. Diante disso vimos varias greves pipocarem no serviço público estadual a exemplo, dos policiais civis, dos professores, do quadro geral e da saúde. No entanto, todas acabaram fracassando, sobretudo pela falta de unidade de toda a categoria como também pela falta de competência e o caráter oportunista dos dirigentes das organizações dos trabalhadores do serviço público.
Para nós sempre esteve claro que a luta dos servidores públicos estaduais só alcançaria algum êxito se houvesse uma unidade entre as diversas categorias para rechaçar os ataques do governo Marcelo Miranda. O que defendíamos desde o inicio do ano passado em balanços que fizemos dos movimentos grevistas;
A luta contra os ataques e retiradas de direitos de servidores públicos das diversas categorias pelo governador Marcelo Miranda (PMDB) tem que ser construída unitariamente. Os servidores públicos do Paraná nos deu uma importante lição a cerca da importância da luta unitária para rechaçar os ataques de governos e patrões aos direitos dos trabalhadores”. (Nunes, 2015)
Mesmo diante do nosso alerta os movimentos grevistas continuaram sendo tocado por suas direções de forma especifica meramente, o que levou ao seu isolamento e fracasso. Tanto que nenhuma categoria conseguiu reverter os ataques do governo Marcelo Miranda. E as poucas migalhas conquistadas não saíram do papel. Tal fato se deu, sobretudo pelo caráter pelego e oportunistas das direções sindicais, por tanto para que houvesse uma mudança de perspectiva era necessário um movimento a partir da base.
Enfim, encerramos chamando a base das categorias de servidores públicos estaduais a passar por cima das atuais direções sindicais que estão burocratizadas e estagnadas. Esta é uma tarefa imediata, desfazer-se dessas velhas direções e construir novas ferramentas no estado que de fato defendam os interesses e anseios do povo trabalhador tocantinense. Construam a unidade na luta, lutem pelos seus direitos. A categoria não precisa de direções vendidas e corrompidas para tal tarefa, forjemos novos lideres. E a palavra de ordem deve ser – o trabalhador não pode pagar pela crise! Nenhuma redução de direitos!”. (Nunes, 2015)
Agora os servidores públicos estaduais do Tocantins parecem ter despertado para o que já vínhamos alertando há algum tempo. E criaram um movimento unitário das diversas categorias dos trabalhadores do funcionalismo público estadual – o MUSME (Movimento de União dos Servidores Públicos Civis e Militares do Estado do Tocantins). Com isso as perspectiva para reverter os ataques do governo Marcelo Miranda aos direitos dos trabalhadores bem como ampliar para conquistas de mais direitos encontra-se num novo patamar. Tal movimento tem condições concretas de barrar os ataques do atual governo. Mas para tanto é preciso que não se esfarele a partir de disputas internas e ações oportunistas de seus lideres.
Greve geral no serviço público estadual
Nas ultimas semanas o MUSME tem repercutido a possibilidade de uma greve geral no serviço público estadual. Si de fato sair do papel será a primeira greve geral da história do Tocantins. No entanto alertamos para que tal ameaça não fique apenas nos discursos dos seus lideres, pois se não o movimento pode cair no descredito como tantos outros movimentos grevistas que surgiram no Tocantins que muito falam e pouco fazem. Desde já o que se faz necessário é a organização de um dia estadual de paralização dos servidores públicos para que então amadureça a greve geral. E mais uma vez ressaltamos o papel importante da base dessas categorias em não deixar apenas nas mãos das direções o rumo do movimento.
Devemos, portanto reconhecer a importância da criação do MUSME como um importante instrumento de articulação e unidade dos servidores públicos estaduais. Como também a disposição para construção de uma greve geral no Tocantins. Tal fato abre uma nova perspectiva para o conjunto da classe trabalhadora tocantinense na luta pelos seus direitos. Por fim, que tal iniciativa não seja apenas uma ação pontual, mas que possa se consolidar através de ações concretas.
Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Conto: Um certo barbudo

Era quase noite, a criançada tomava as ruas para brincar despreocupadamente, os vizinhos sentados em suas cadeiras jogavam conversa fora, outros desciam rumo ao colégio. O vento frio do mês de junho descia das serras e deixava aquela pequena cidade com um clima agradável, totalmente ao contrario do calor infernal que fizera durante o dia.

Quando aquela figura passou por ali, chamou a atenção de todos. Em uma cidade onde todo mundo conhece todo mundo, não seria difícil perceber que aquela figura não era dali. Ainda mais um sujeito tão diferente – era de altura mediana, tinha a pele morena, um olhar triste, seguia com a cabeça baixa, usava uma calça jeans azul desbotada, e uma camiseta verde, tinha um chapéu preto na cabeça e uma grande mochila nas costas, a tira colo trazia um embornal de crochê e um violão na mão, era possível ver varias tatuagens em seu braço - em destaque uns lagartos e um nome de uma mulher, além das tattos chamava muito atenção a sua longa barba.

Sem falar ou cumprimentar ninguém ele seguiu o seu caminho. Deixando todos ali intrigados – quem seria tal figura? De onde vinha? O que queria ali aquele barbudo?

O tal barbudo instalou-se em uma casa a muito abandonada, mas que ainda se encontrava bem conservada. Ficava próximo a uma praça, um pouco afastada do centro da cidade, mas com uma vista maravilhosa para a cordilheira de serras que cercavam o local.

Como a cidade não era grande bem como o numero de habitantes logo a novidade da chegada de figura tão diferente naquele local tornou-se de conhecimento de todos. As crianças encantaram-se por aquele barbudo, os jovens o admiravam, algumas mocinhas até suspiravam ao vê-lo, mesmo ele não sendo bonito. Os adultos achavam que ele seria um vagabundo, outros, em especial os mais idosos tinham medo dele.

Ele seguia a sua vida por ali, não tinha contato e nem amizade com ninguém dali. Passava grande parte do seu tempo em casa fazendo seu artesanato – sim ele era um artesão. Quando terminava de fazer seu trabalho jogava tudo na mochila seguia até a beira da rodovia para pegar um carro até a capital ou mesmo outras grandes cidades do interior do estado onde vendia seus trampos. As vezes passava até uma semana ou mais sem voltar para casa. Todos na pequena cidade já começavam a imaginar que fim teria tido o barbudo – era assim que ele era conhecido por ali, já que ninguém sabia o seu nome. Mas de repente ele aparecia de novo por ali, passava mais algum tempo fazendo mais artesanato com material que ele recolhia nas serras do local e depois desaparecia novamente.

Ele chegava em sua casa sempre na boca da noite. Ligava o som, gostava de ouvir uma musica diferente da que o pessoal dali ouvia. Diziam que era rock clássico – Janis Joplin, Bob Dilan, The Doors. Um que todos conheciam era Raul Seixas. Da janela podia vê-lo preparando um mate quente para tomar. Mas as vezes ele acendia um cachimbo e sentava em uma cadeira de balanço olhando para o céu, ou então tomava um conhaque e tocava seu violão cantarolando aquela musica diferente que ele tanto gostava.

Dificilmente o viam sorrindo, conversando com alguém – era um solitário. Tinha um olhar triste, o que teria acontecido para que ele vivesse daquela forma tão melancólica? Muitos tinham vontade de aproximar-se dele, de conversar, de fazer amizade, no entanto tinham receio de serem repelidos já que ele aparentava ser tão fechado.

Quem seria responsável por tamanha tristeza. Ele tinha o nome de uma mulher tatuado no braço – Maria Lucia seria ela a responsável por tamanha tristeza? Quem sabe.

Era manhã cedo, no horizonte surgiam os primeiros raios de sol. Eu seguia para o colégio e como sempre passei em frente à casa do barbudo para quem sabe vê-lo por ali, mesmo de longe. Mas eu bem sabia que ele não era de levantar muito cedo.

 Eu era muito jovem, uma criança ainda, mas era apaixonado por aquela figura incrível, eu o admirava muito, ele fora com certeza a minha primeira paixão. Mesmo que ele não falasse comigo, que se quer me desse um sorriso, mas eu estava lá todos os dias a tarde brincando na rua em frente a sua casa para vê-lo com sua guapa de tereré.

Eu era uma criança ainda, mas era apaixonada por ele, como queria ser eu a mulher que tinha o nome tatuado no braço dele. Mas ele se quer notava que eu existia, também eu era apenas uma criança. Porém eu tinha a esperança de me tornar um dia a sua companheira e juntos, andaríamos por esse mundo afora embelezando as pessoas com nosso artesanato.

Naquela manhã que eu passava em frente a sua casa indo para o colégio aconteceu algo incrível. Para minha surpresa quando eu me aproximo da casa dele me deparo com ele. Estava trajado tal como no dia que chegara ali. A minha surpresa maior ainda foi quando pela primeira vez desde que ali chegara ele me cumprimentou, olhou para mim e sorriu. Eu retribuí o gesto radiante de felicidade.

- Bom dia.

- Bom dia. Tudo bom contigo meu!?

- Sim. E com o senhor?

- Eu estou bem. Você esta indo para a escola?

- Sim.

- Posso ti dar um presente?


Eu era ainda muito jovem, ainda uma criança, mas aquele seria o dia mais feliz da minha vida e também o mais triste. Feliz por que ele falou comigo e me deu um presente que ainda guardo até hoje – um símbolo da paz. Mas triste por que aquela foi a ultima vez que o vi, pois ele nunca mais voltou ali. Ninguém dali soube que fim ele levou, mas eu espero que ele tenha reencontrado a sua Maria Lucia.

Pedro Ferreira Nunes - Poeta e escritor popular tocantinense.

Estado mínimo para quem?

Por Pedro Ferreira Nunes

Em resposta a crise mundial que estourou nos EUA em 2008 a burguesia volta a pautar a necessidade de aprofundamento de politicas neoliberais através de reformas que buscam simplesmente a retirada de direitos trabalhistas e sociais. Como sempre a classe dominante quer jogar nas costas dos trabalhadores os ônus por uma crise que não foi criada por eles. Diante disso acompanhamos novamente a palavra de ordem da burguesa neoliberal pelo Estado mínimo. No entanto nos cabe questionar, Estado mínimo para quem? Para burguesia não é, pois essa mesma burguesia que reivindica a necessidade do Estado mínimo utiliza-se deste para explorar o trabalhador e oprimi-lo quando se mobilizam pelos seus direitos. 

A palavra de ordem pelo Estado mínimo mostra bem a hipocrisia e cinismo de uma burguesia que omite o fato de que o Estado mínimo é apenas para os trabalhadores e para as politicas sociais, já para as classes dominantes o Estado tem que ser máximo para preservar a espoliação da mais valia. Tal fato nos leva a questionar sobre a ética do discurso. De acordo Habermas a ética do discurso deve ser fundamentada tal como uma norma jurídica e a sua validade deve ser para todos para que então seja justa. Não é o que percebemos na discussão a cerca do estado mínimo. Pelo contrario, percebe-se nitidamente uma grande contradição neste discurso – que busca favorecer a classe dominante e manter as classes subalternas sob o seu controle. 

Nesse sentido não dá para falar em justiça onde uma pequena elite é favorecida e a grande maioria continua sendo explorada. Diante desse fato é importante salientar o papel da ética tal como defendida por Reese-Schäfer que é o de impulsionar reflexões racionais sobre quais regras morais predominantes são validas. Esse papel da ética torna-se ainda mais fundamental no momento histórico em que vivemos. Onde a mediocridade tomou conta do debate politico e uma onda conservadora avança na sociedade revivendo velhas certezas e tradições. Como por exemplo, o forte crescimento da influencia de igrejas neo pentecostais no Estado. 

Ainda segundo Reese-Schäfer uma discussão racional é necessária, sobretudo pelo fato de que os indivíduos veem a moral como coercitiva. O que não deixa de ser verdade. No entanto aqueles que atualmente acusam o Estado de moralista e que, portanto deve ser enfraquecido ao máximo, são os verdadeiros moralistas – pretendem substituir a ética normativa pela moral religiosa. Tal discurso não nos espanta já que segundo Habermas quem “age estrategicamente, quem quer enganar, precisa agir na situação de discurso como se reconhecesse o parceiro de discussão”. Isto é, precisa saber para quem está falando e o que deve dizer para convencer tal individuo. 

Tal estratégia pode ser percebida claramente no discurso neoliberal, na retirada dos direitos dos trabalhadores, na privatização do patrimônio público, redução de politicas sociais, em suma no Estado mínimo. O discurso é que tais politicas devem ser implementadas para o desenvolvimento da economia e a melhoria de vida da população. Mas na prática o que se vê é o favorecimento de uma minoria em detrimento da grande maioria. Já que no final das contas é sempre o trabalhador que paga a conta.


*Artigo para a disciplina de ética e cidadania do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

Referencia bibliográficaReese-Schäfer, Walter. Compreender Habermas. 4- A ética do discurso. 2008. Págs.; 68. 75 e 76.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

10 questões sobre “O capital no século XXI” de ThomasPiketty

Confesso que quando recebi um exemplar de “O capital no século XXI” de presente, não me animei muito a lê-lo. Sobretudo após ver alguns comentários na sua contra capa recomendando-o como se fosse um clássico. Se figuras como Bill Gates, Paul Krugman, ElioGaspari e órgãos de imprensa burguesa como o The Gardian e o The Economist estavam elogiando essa obra, muito provavelmente não sairia boa coisa dali para os trabalhadores.

No entanto sabia que não era correto ignorar aquele livro só pelo fato de discordar de alguns comentários. Mesmo que por aqueles comentários já dava para prever qual a tese o autor defendia. Porém para fazer uma critica consciente de qualquer coisa é necessário conhecer. E a partir dai refutar e combater se necessário for.Diante dessas reflexões iniciei a leitura de “O Capital no Século XXI” do Piketty. E não me arrependi, pelo contrario, recomendo-o. Porém o que me leva a recomendar a sua leitura não são os mesmos motivos do The Economist. E são estes motivos que destaco nestas dez questões.

1-      Os dados levantados por Piketty e seus colaboradores são extremamente importantes para mostrar o aumento da concentração de renda e da desigualdade na sociedade capitalista. Tal fato mostra ao contrario do que tenta fazer o autor, a genialidade de Karl Marx. Que mesmo sem todos os instrumentos tecnológicos dos quais possuímos hoje, conseguiu mostrar que isso ocorreria;

2-      O autor afirma que o cenário catastrófico previsto por Marx não se realizou, mas ao mesmo tempo quando propõem que aja um maior controle do capital reconhece que essa questão não está superada;

3-      Os dados mostram claramente que o período onde houve uma diminuição da concentração de renda e da desigualdade coincide com a Revolução Russa e o crescimento da URSS. No entanto isso é completamente ignorado pelo autor que foca nas guerras mundiais;

4-      Aliás, o autor parece defender uma terceira guerra mundial para que aja uma maior diminuição da concentração de renda e da desigualdade. O que não deixa de ser bastante catastrófico;

5-      Nesse sentido, ao analisar a obra de Piketty percebemos que ele não apresenta nada de novo. Pelo contrário, o que vemos é uma proposta de retomada de politicas econômicas do tipo kenesyanas;

6-      Sua conclusão é um alerta para a classe dominante – ou superamos as politicas neoliberais que propiciam o maior aumento da concentração de renda e desigualdade. Substituindo-a por uma espécie de novo Estado de bem estar social. Ou o poder da burguesia está em cheque;

7-      Piketty clama por uma espécie de humanização do capitalismo para se evitar a previsão catastrófica de Marx. Experiências recentes, como por exemplo, os governos de Lula e Dilma do PT mostram que isso é impossível;

8-      O autor também defende que não existe mais luta de classes. Mas sim a luta dos 99% contra os 1% mais ricos. O que não se sustenta, pois tal divisão não dá conta de toda a complexidade e subdivisões que temos na sociedade;

9-      Apesar dos limites é preciso reconhecer a importância dessa obra, sobretudo no sentido de pautar na ordem do dia a questão do aumento da concentração da riqueza e, por conseguinte das desigualdades sociais;

10-   Por fim, que os trabalhadores não se iludam com as propostas reformistas de Piketty. Pois dai não sairá nada de diferente do que os trabalhadores já experimentaram. De reformas capitalistas só sairá mais capitalismo.

A leitura do “O Capital no Século XXI” do jovem economista Frances Thomas Piketty. Me deu mais convicção de é em Marx que temos os apontamentos teóricos para superação das desigualdades e do capitalismo. Pois as respostas de Piketty são completamente insuficientes para que os trabalhadores consigam superar a exploração e as desigualdades econômicas e sociais. Pelo contrario, Piketty reafirma a necessidade desse sistema nefasto que é o capitalismo. É uma velha receita embrulhada num pacote novo.


Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.