É o que muitos jovens estão fazendo em Lajeado – abrindo mão dos estudos para poder trabalhar e ajudar no sustento da família. Não que isso não ocorresse antes da pandemia. Mas o ensino remoto e o momento político que estamos passando no Brasil acelerou esse processo. Nada de surpresa, não é verdade?! Vários especialistas indicavam essa tendência. Desse modo nos cabe um questionamento: Se sabíamos que isso aconteceria o que fizemos para evitar ou minimizar os seus impactos?
A desigualdade que já existia na esfera educacional alargou-se ainda mais. E nada fizemos para evitar que isso ocorresse. O triste é ver que são os filhos da classe trabalhadora (estudantes de escola pública) que estão pagando a conta.
É por esses que devemos voltar, até por que os filhos da elite já voltaram há muito tempo – além do fato de possuirem recursos suficiente para recuperar o “tempo perdido”. Para os filhos da classe trabalhadora a escola pública é a única esperança de um futuro diferente. E quanto mais se afastam da escola mais se tornam presa fácil para o crime, para prostituição entre outras expressões da questão social.
O ensino remoto como medida excepcional foi necessário. No entanto não podemos transformar o excepcional em permanente. Pois está mais do que comprovado as sua limitações não só na questão do aprendizado mas sobretudo no vínculo socioafetivo – importante na nossa formação humana. Por isso precisamos avançar para o ensino híbrido. E o que se espera é que nesse período tenhamos nos preparado minimamente (tanto no aspecto pedagógico como estrutural) para isso. Se não fizemos, devemos nos assumir como incompetentes e assinar nossa carta de demissão.
Falo isso de, e para, um contexto específico – o municipio de Lajeado. Analisando a situação epidemiológica da cidade, o indice de vacinação e as condições estruturais é inadmissível continuarmos com o ensino remoto. Já temos um acúmulo suficiente que nos permite avançar para o ensino híbrido. Inclusive uma experiência exitosa que nos serve de exemplo – o retorno das atividades educacionais presenciais no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência no mês de fevereiro de 2021 para conclusão do ano letivo de 2020 – das turmas do Ensino Fundamental.
A experiência mostrou que é um grande desafio desenvolver as atividades educacionais presenciais observando os cuidados necessários estabelecido pelo protocolo de Biossegurança em saúde e prevenção á COVID-19. Sobretudo por que no decorrer dos dias há uma tendência de relaxamento nos cuidados, não só por parte dos estudantes como também dos demais membros da Comunidade Escolar. É a partir daí que compreendemos uma certa resistência ao retorno das aulas presenciais. Esses se acomodam esperando que as coisas voltem ao “normal”. O que não acontecerá, pelo menos não ao que era antes da pandemia.
Recentemente participei de uma Roda de Conversa Virtual onde o tema era: “Biossegurança no ambiente Escolar”. No evento tivemos a oportunidade de ouvir a Enfermeira Mônica Bandeira que fez uma apresentação bastante esclarecedora sobre o vírus SARS-COVI-2 – causador da COVID-19. Um ponto importente ressaltado por ela é que a vacinação por si só não evita o contágio, de modo que é necessário outros cuidados como o uso correto da máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos com álcool em gel ou água e sabão. Pensando no ambiente escolar ela destacou que além dessas medidas, a necessidade de priorizar atividades ao ar livre. E na sala de aula manter janelas e portas abertas, mesmo com o ar condicionado ligado.
A sua fala foi importante pois mostrou que a comunidade escolar agindo dentro do protocolo de biossegurança tem toda condição de diminuir os riscos de contaminação no ambiente escolar. E a partir da realidade de cada unidade de ensino buscar melhorar as ações de cuidado e prevenção á COVID-19 e outras doenças.
Diante disso, do fato de que o ensino remoto chegou ao seu limite, e um número considerável de estudantes de famílias da classe trabalhadora estão abandonando a escola. Dizemos, sem medo de levar pedradas, é hora de voltar.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.