segunda-feira, 30 de agosto de 2021

É hora de voltar

Com todos os cuidados de biossegurança pois a pandemia ainda não acabou. Óbvio, que estamos falando de um retorno gradual – com toda a prudência que o momento exige. No entanto, é preciso compreender que quanto mais se retardar esse retorno mais estaremos contribuindo para que ocorra danos irreversíveis na formação dos estudantes. Chegando ao ponto de decidirem abrir mão dos estudos para buscar a sobrevivência num trabalho precarizado. 

É o que muitos jovens estão fazendo em Lajeado – abrindo mão dos estudos para poder trabalhar e ajudar no sustento da família. Não que isso não ocorresse antes da pandemia. Mas o ensino remoto e o momento político que estamos passando no Brasil acelerou esse processo. Nada de surpresa, não é verdade?! Vários especialistas indicavam essa tendência. Desse modo nos cabe um questionamento: Se sabíamos que isso aconteceria o que fizemos para evitar ou minimizar os seus impactos? 

A desigualdade que já existia na esfera educacional alargou-se ainda mais. E nada fizemos para evitar que isso ocorresse. O triste é ver que são os filhos da classe trabalhadora  (estudantes de escola pública) que estão pagando a conta.

É por esses que devemos voltar, até por que os filhos da elite já voltaram há muito tempo – além do fato de possuirem recursos suficiente para recuperar o “tempo perdido”. Para os filhos da classe trabalhadora a escola pública é a única esperança de um futuro diferente. E quanto mais se afastam da escola mais se tornam presa fácil para o crime, para prostituição entre outras expressões da questão social. 

O ensino remoto como medida excepcional foi necessário. No entanto não podemos transformar o excepcional em permanente. Pois está mais do que comprovado as sua limitações não só na questão do aprendizado mas sobretudo no vínculo socioafetivo – importante na nossa formação humana.  Por isso precisamos avançar para o ensino híbrido. E o que se espera é que nesse período tenhamos nos preparado minimamente (tanto no aspecto pedagógico como estrutural) para isso. Se não fizemos, devemos nos assumir como incompetentes e assinar nossa carta de demissão. 

Falo isso de, e para, um contexto específico  – o municipio de Lajeado. Analisando a situação epidemiológica da cidade, o indice de vacinação e as condições estruturais é inadmissível continuarmos com o ensino remoto. Já temos um acúmulo suficiente que nos permite avançar para o ensino híbrido. Inclusive uma experiência exitosa que nos serve de exemplo – o retorno das atividades educacionais presenciais no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência no mês de fevereiro de 2021 para conclusão do ano letivo de 2020 – das turmas do Ensino Fundamental. 

A experiência mostrou que é um grande desafio desenvolver as atividades educacionais presenciais observando os cuidados necessários estabelecido pelo protocolo de Biossegurança em saúde e prevenção á COVID-19. Sobretudo por que no decorrer dos dias há uma tendência de relaxamento nos cuidados, não só por parte dos estudantes como também dos demais membros da Comunidade Escolar.  É a partir daí que compreendemos uma certa resistência ao retorno das aulas presenciais. Esses se acomodam esperando que as coisas voltem ao “normal”. O que não acontecerá, pelo menos não ao que era antes da pandemia. 

Recentemente participei de uma Roda de Conversa Virtual onde o tema era: “Biossegurança no ambiente Escolar”. No evento tivemos a oportunidade de ouvir a Enfermeira Mônica Bandeira que fez uma apresentação bastante esclarecedora sobre o vírus SARS-COVI-2 – causador da COVID-19. Um ponto importente ressaltado por ela é que a vacinação por si só não evita o contágio, de modo que é necessário outros cuidados como o uso correto da máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos com álcool em gel ou água e sabão. Pensando no ambiente escolar ela destacou que além dessas medidas, a necessidade de priorizar atividades ao ar livre. E na sala de aula manter janelas e portas abertas, mesmo com o ar condicionado ligado.

A sua fala foi importante pois mostrou que a comunidade escolar agindo dentro do protocolo de biossegurança tem toda condição de diminuir os riscos de contaminação no ambiente escolar. E a partir da realidade de cada unidade de ensino buscar melhorar as ações de cuidado e prevenção á COVID-19 e outras doenças.

Diante disso, do fato de que o ensino remoto chegou ao seu limite, e um número considerável de estudantes de famílias da classe trabalhadora estão abandonando a escola. Dizemos, sem medo de levar pedradas, é hora de voltar. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 


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