terça-feira, 29 de abril de 2014

Contos: Últimos suspiros

Por Pedro Ferreira Nunes

Seu corpo estava estendido no chão do quarto, ainda tinha vida e dava os últimos suspiros. Sentia uma dor imensa no peito e estava banhado de sangue do tiro que acabara de receber.

O gosto do whisky que tomava a poucos minutos, já tinha sido substituído pelo gosto do sangue. Estava só, não conseguia gritar e mesmo se conseguisse ninguém o escutaria. Estava morrendo e era irreversível. A dor maior não era do tiro em si, mas de quem o dera.

Saiu do trabalho as 18h e foi direto para casa, no caminho parou apenas para comprar um whisky. Os telefonemas insistentes continuavam, mas ele mantinha a sua posição de não atende - lo. Era preciso por um fim naquela historia, já estava cansado, não via futuro naquilo que se tornara uma questão demasiadamente desgastante.

Ligou a TV, mas não achou nada de interessante para assistir, desligou e em seguida ligou o som e preparou uma dose de whisky. Queria esquecer-se de tudo aquilo, mas não conseguia parar de pensar, sabia que por algum tempo sofreria e que até nunca estaria curado totalmente, sempre haveria uma cicatriz. Mas com certeza não doeria tanto.

Desde o primeiro momento ele sentiu que era algo arriscado, mas o desejo falou mais alto e ele não teve como resistir, jogou-se totalmente, entregou-se de corpo e alma aquela historia. Pobre diabo, como ele previa aquilo se tornava cada vez mais perigoso. Não tinha mais jeito tinha que por um ponto final aquilo.

Sentiu que por mais que quisesse se continuasse ali naquela cidade aquele problema sempre viria bater na sua porta, era preciso sair dali, ir para outra cidade, quem sabe outro estado, começar uma nova vida, sim era preciso fazer isso, era preciso fugir dali. E foi isso que fez com que ele jogasse uma mochila nas costas e partisse daquela cidade.

Passara-se dois meses, tudo ia caminhando de forma tranquila, já estava em outra cidade, trabalhando e estudando. Ainda não conseguira sair e não tinha amigos, gostava de fica só ouvindo musica, trancado na quitinete que morava com uma garrafa de whisky na mão.

Não sabia como cargas d’águas conseguiram o telefone dele, mas nas ultimas duas semanas as ligações eram frequentes, imaginava consigo - Será que descobriram onde estou morando?

Decidira não atender, não queria ouvir a voz de ninguém, estava sofrendo por dentro, mas permaneceria firme sem recuar no seu proposito de concretizar por ali uma nova vida.

Quando preparava mais uma dose de whisky ouviu de repente as batidas de alguém o chamando na porta. Assustou – se, imaginou quem seria, pois ninguém além de sua família sabia onde estava morando. Nem mesmo os colegas do trabalho e do cursinho sabiam onde ele morava.

Hesitou em abrir, mas as batidas continuaram, perguntou quem era, mas ninguém o respondeu. Decidiu não abrir, mas as batidas continuavam, tentou ver quem estava lá fora, mas não tinha como. De repente tudo se fez em silencio, decidiu então abrir a porta para ver se via rastro de quem estivera por ali. Não havia ninguém.

Retornou então para dentro, trancou a porta e foi preparar mais uma dose de whisky , era o ultimo da noite, em seguida iria dormi, tinha que acordar cedo para ir até o cursinho e depois seguiria para o trabalho. Com o copo de whisky na mão decidi abrir a janela para observar o movimento na rua, era algo que não fazia com frequência.

Quando abriu a janela viu alguém conhecido na rua, mas foi rápido, de repente um tiro acerta seu peito e ele cai para trás, o copo de whisky voa longe, ele esta mortalmente ferido. Sim, não tinha enganado, vira muito bem quem fizera aquilo com ele, como podia ter sido tão cruel assim. Estava morrendo, já sentia o frio da morte percorrendo todo o seu corpo.

Tudo se fez em silencio, no seu quarto apenas a voz roca de Janis Joplin ecoava vindo do seu aparelho de som, um vento frio entrava pela janela, lá fora também tudo era silencio. No chão ao lado do copo de whisky que quebrara com o impacto da queda, ele acabava de dar seus últimos suspiros.


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