Por Pedro Ferreira Nunes
Fazia
quase três anos que não ia à chácara dos meus avós. Não por morar distante ou
falta de oportunidade, ao contrario, hoje moro a meia hora de carro, quase no
terreiro da casa deles. Há dois anos tinha até a justificativa de que morava em
outro estado, mas agora não.
O
fato é que pra mim tem sido sempre muito emocionante reencontrar lembranças da
minha infância. Lembro-me da ultima vez que estive com meus avós, na hora de me
despedir chorei, chorei tão caudalosamente, tal como uma criança que foi
preciso que meu avô viesse me consolar. Mesmo assim segui chorando por boa
parte do caminho.
Carrego
comigo o desejo que as coisas da minha infância se conservem tal como eram. No
entanto para minha tristeza, a vida não é como á musica do Roberto Carlos ‘o
portão’ que sai pelo mundo e quando volta encontra tudo como deixou. Para minha
tristeza vejo que muita coisa se perdeu, outras como é natural envelheceu.
Mas
enfim após três anos sem pisar o pé na chácara dos meus avós decidi ir lá, é
claro, não sem muita insistência de minha mãe. Como passo muito tempo sem ir
aos lugares qualquer mudança já mexe comigo, assim quando desci do ônibus já
fui me incomodando pelo fato de terem construído outra estrada.
Quando
cheguei à chácara fui recebido com muita alegria pelos meus avós. Mas não podia
deixar de ficar incomodado com tantas mudanças que ocorreram por ali. As
mudanças me teletransportavam para minha infância, ai eu reconstituía na
memoria a velha chácara. Mas de repente eu voltava para realidade e via o
quanto eu havia envelhecido, como as coisas haviam mudado tanto por ali. Menos
o carinho dos meus avós.
O
que também não havia mudado era o tempero da comida de vovó. Quando fui almoçar
fiquei surpreso. Minha avó havia feito uma curimatá cozida. Quando
experimentei, lembrei-me da minha infância. Dai imaginei comigo – o tempero da
minha avó tem gosto de infância.
Comi
como há muito não comia peixe cozido, quem me conhece sabe que sou amante de
frituras. Mas o tempero de minha vó é tão gostoso e me faz lembrar momentos tão
especiais de minha infância – das férias escolares, das brincadeiras e
aventuras que vivíamos ali quando se reunia toda a primaiada, que é impossível
resistir.
Muita
coisa mudou, eu mesmo tornei-me bem diferente da criança tímida que era (a
timidez continua). E a criança que fui ainda mora dentro de mim. Talvez por
isso que a camarada Maria Clara diz que tenho um olhar de menino.
As
mudanças geralmente me incomodam, sobretudo por que nem sempre as coisas mudam
para melhor. Ao contrario, o que é ruim geralmente se conserva e o que é bom
vai se perdendo. No entanto o tempero de minha avó me fez recordar do meu tempo
de criança. E que tempos foram aqueles. Tempos de muitas felicidades, onde não
tínhamos preocupações, tempos que nos deixaram muitas saudades. Mas que lamentavelmente
não voltaram, não voltaram.
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