terça-feira, 26 de maio de 2015

Crônica: A triste partida

Hoje mais um amigo deixou a cidade rumo a capital, como tantos outros irá em busca de trabalho, em busca de uma condição de vida melhor. Trabalho encontrará provavelmente na construção civil, como tantos outros. Já uma condição de vida melhor não esta garantido. Mas pelo menos não precisará ficar se humilhando no pé do gestor público municipal por um cargo comissionado em algum canto da cidade ou sobreviver fazendo bicos ou no rio pescando.

Eis a sina de quem mora no interior do interior do Brasil, sair vagando pelo país em busca de trabalho e uma condição de vida melhor. Já que isso lhes é negado em sua terra natal. Todos os dias parte um, sobretudo os mais jovens, já que os mais velhos cansados vão permanecendo por aqui. Alguns depois de um tempo retornam, outros só vem à visita, mas há também os que nunca voltaram.

E assim a cidade vai sendo mutilada, pois quando alguém parte é como se um pouco de nós também partisse. As coisas vão se envelhecendo, o lugar vai se empobrecendo e o futuro vai se perdendo. Sem o frescor e o entusiasmo da juventude perdemos a capacidade de renovação, de transformação, de mudar essa triste sina que nos é tão cara.

E o que mais nos deixa triste é saber que tudo poderia ser diferente. Que se as riquezas da cidade, que não são poucas, fossem utilizadas para o bem comum e não para privilegiar uma pequena elite. Nosso povo não precisaria deixar o município em busca de trabalho e uma vida melhor nos grandes centros urbanos do país.

No entanto enquanto as riquezas que produzimos continuar sendo apropriada por uma pequena elite, e o resto da população esperando pelas migalhas, esse suplício continuará. Como também continuará a decadência da cidade. Decadência essa que interessa a essa elite retrograda que há anos domina o local.

Nos entristece também o fato de saber que enquanto continuarmos abandonando o município em vez de permanecer aqui para lutar e mudar essa realidade, as coisas não mudaram. As coisas continuaram sendo como sempre foram, pois a depender da elite que controla o poder na cidade, as coisas permaneceram como sempre foram.

E assim as velhas e futuras gerações de interioranos continuaram fadadas ao mesmo destino. Sair vagando pelo país em busca de trabalho e uma condição de vida digna. Mas não demoraram a perceber que a vida não é dura apenas no interior, ao contrario, na cidade grande a exploração é ainda mais intensa. Ai alguns resolve voltar, outros tantos já não tem mais animo.

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.
“Distante da terra
Tão seca mais boa
Exposto a garoa
A lama e o pau
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul”

Patativa do Assaré

Administração Amastha é socialista?

Quem anda pelas ruas da capital tocantinense, não terá dificuldades em se deparar com grandes outdoors com os dizeres ‘’administrações socialistas pelo Brasil’’, entre estas a atual gestão frente à prefeitura de Palmas. Tal referencia se dá após a transferência de Carlos Amastha (prefeito de Palmas) do Partido Progressista (PP) para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). No entanto, quem tem o mínimo de inteligência e visão critica, sabe muito bem que a administração Carlos Amastha frente à prefeitura de Palmas esta muito longe de ser socialista, ao contrario, é uma administração que desde seu inicio se coloca em defesa de empresários e especuladores. Por tanto segui rigidamente a cartilha neoliberal e os interesses capitalistas.

Não precisamos ir muito longe, é só ver o ataque que Carlos Amastha (PSB) tem feito à educação em Palmas – ora negando, ora retirando direitos. Como também perseguindo os professores que se organizam e lutam contra a politica de sucateamento da educação. Também poderíamos citar a truculência e o descaso da atual gestão com as famílias sem teto que lutam por moradia digna na capital. Aliás, o prefeito não vacila um segundo em colocar a policia para reprimir com violência manifestações legitimas dos trabalhadores palmenses pelos seus direitos. Poderíamos citar, por exemplo, a repressão sofrida pelo MTST quando da ocupação da prefeitura de Palmas ou do movimento ocupa Palmas pela guarda metropolitana.

Se analisarmos bem, veremos que as politicas implementada pela atual gestão mais favorece os empresários do que os trabalhadores. E é nesse sentido que foi aprovado recentemente o aumento da tarifa do transporte coletivo na capital.

Ora, dizer que tal administração é socialista é duvidar da nossa inteligência. Governar para elite não é socialismo, governar para as elites é fazer mais do mesmo, é manter a ordem vigente, é conservar o capitalismo. E é isso que Carlos Amastha (PSB) fez e continuará fazendo.  Já que o mesmo é um grande empresário, um grande capitalista que continuará implementando politicas que lhe favoreça como também a classe a qual ele pertence.

Não é pelo fato de está em um partido que se diz socialista, aliás, socialista só no nome, já que na prática há muito tempo o PSB deixou de ser socialista, isto é, se algum dia já foi, não faz da administração Amastha uma administração socialista. Ao contrario, a atual administração a frente da prefeitura de Palmas não pode ser classificada nem de uma administração progressista, quanto mais socialista.

Tal propaganda só traz mais confusão para a cabeça das pessoas. Enquanto alguns ingênuos propagam essa falsa ideia outros mal caráter aproveitam para jogar nas costas do movimento socialista uma gestão caótica que não tem nada a ver com o socialismo.

Nesse sentido uma das tarefas fundamentais dos socialistas revolucionários é se desfazer desses falsos socialistas. Desses lobos vestidos em pele de cordeiro. Precisamos deixar claro que organizações partidárias como PT, PC do B e PSB mais mancham a historia e tradição socialista do que contribuem para o fortalecimento dessa causa.

Essa questão não é novidade ao longo da historia, se formos pesquisarmos, veremos que sempre houve organizações que pregavam uma coisa e faziam outra. Que dizia esta ao lado do trabalhador, mas quando chegava ao poder acabava se aliando a burguesia. Podemos citar, por exemplo, o papel contra revolucionário de Kerensky e os mencheviques na Rússia. Ou então o caso recente do governo petista nos últimos 12 anos no Brasil.

Por tanto é tarefa nossa, socialistas revolucionários, combatermos com veemência esses falsos defensores da causa proletária e camponesa. Denunciando e explicitando os interesses escusos por trás desses falsos socialistas. Como também defendendo e lutando pelas bandeiras verdadeiras da esquerda. Assim, dizer que a administração Carlos Amastha frente à prefeitura de Palmas é socialista deve ser encarado por nós, como uma piada, uma piada de muito mau gosto.


Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Crônica

O triste fim do famigerado raposão – O maior ladrão de galinhas de Lajeado.

Ontem foi encontrado no chapadão, na região da fazenda tamanca o corpo do famigerado raposão, o maior ladrão de galinhas de Lajeado. Seu corpo estava crivado de balas.

Quem havia cometido tal crime? Quem havia dado cabo da vida de tão terrível delinquente? Já mais saberemos, muitos devem está dando graças a deus, um ser sem eira e nem beira não fará falta, ninguém virá reclamar por justiça, a policia fará muito pouco para descobrir quem cometera tal crime.

Raposão não tinha pai, não tinha mãe, irmãos, mulher e filhos muito menos. Raposão se quer tinha nome. Era conhecido por todos pelo seu famoso apelido. Apareceu do dia para noite no Lajeado, vindo não se sabe da onde, e indo para lugar algum. Gostava de tomar uma cachacinha e para tirar gosto uma galinha frita, já para tirar a ressaca gostava de caldo de galinha ou gemada. Como não criava galinhas, por que não pegar as dos vizinhos?

Ele não era muito dado ao trabalho, gostava de pescar de vez enquanto, apenas o suficiente para fazer algum trocado para poder comprar a cachaça. Já o que comer ele arranjava em qualquer lugar, não tinha casa, morava onde desse.

Reza a lenda que certa vez raposão estava pescando na beira do rio, em uma área que era proibida. Quem se arriscava a pescar por aqueles lados devia ter o maior cuidado, pois poderia ser pego pela policia ambiental. Como na boca da noite não estava bom para pegar peixe, raposão decidiu dormir, é quando de repente alguém o acorda.

- Deixa eu dormir rapaz, pois a hora boa de pegar peixes é mais de madrugada.
- Levanta seu vagabundo!!!!!

Raposão pensava que era seus companheiros de pescada que estavam lhe acordando, mas na verdade era a policia ambiental. Pobre raposão, nesse dia sofreu nas mãos dos policiais, que por aqui não tem boa fama junto ao povo por ser extremamente arrogante e violenta, sobretudo se você é alguém sem eira e nem beira tal como era o raposão.

Mas raposão era conhecido mesmo pelo seu delito predileto, roubar galinhas, não era para vender, era apenas para comer, raposão adorava comer galinha e tomar uma cachacinha, o problema é que raposão não criava galinhas, roubava-as, era odiado por isso. Já havia sido preso, apanhado bastante da policia, já havia inclusive sido obrigado a pagar pelas penosas que roubava, mesmo assim ele não abandonava esse oficio.

No entanto agora o raposão estava morto, alguém havia matado o terrível delinquente, provavelmente alguém que havia sido vitima dos seus crimes. Mas será que era para tanto? Merecia o raposão pagar com sua vida o terrível crime que cometia?

Ah quem se importa com isso, uma criatura sem eira e nem beira. Agora as galinhas de Lajeado viveram em paz, pois o famigerado raposão – O maior ladrão de galinhas da cidade encontrou seu fim, seu triste fim.


Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Novo livro: A morte do socialismo e outras cronicas e artigos políticos e luta de classes

Apresentação

Há duas coisas que me levam escrever um artigo sobre as questões politicas e sociais – A primeira é falar de questões que são renegadas pelos grandes meios de comunicação e a segunda é falar de questões abordadas pela grande mídia, mas trazendo outra visão.

Escrevo geralmente, mas não exclusivamente, sobre as mobilizações e luta do movimento popular, em especial das lutas as quais estou envolvido diretamente na sua organização. Procuro, portanto trazer uma visão do ponto de vista interno e não exterior como se dá na maioria dos casos, apresentando muitas vezes intencionalmente visões distorcidas.

Meus artigos não são de um ponto de vista neutro, ao contrario, eles tem um lado – o lado da classe trabalhadora, do povo pobre e oprimido. O que pode ser visto de forma bem nítida nos artigos que apresento neste livro.

Apesar da minha formação acadêmica (bacharel em Serviço Social) escrevo como um militante. Meus artigos muitas vezes são confundidos com um panfleto politico, e de fato é. O meu estilo de escrever poderia ser definido como panfletário.

Outra característica é o fato dos meus artigos sempre apontarem para necessidade de uma ação. Pois como um marxista não poderia ser diferente. Não queremos interpretar as coisas simplesmente, queremos transformar essa realidade cruel em que sobrevive a classe trabalhadora.

Neste livro apresento uma coletânea de artigos escritos de 2010 até 2014. A maioria desses artigos já foram publicados em sites e blogs de partidos de esquerda, centrais sindicais, sindicatos e movimentos populares. Alguns foram reescritos outros são inéditos. Tal como a crônica que dá titulo a este livro – a morte do socialismo.

Alguns deles tratam de temas superados, lutas que já se findaram. Sobretudo por que escrevo sobre o que esta acontecendo, no calor do momento. No entanto vejo como importante resgatarmos essas experiências para que sirvam de exemplo (tanto positivo como negativo) para as lutas que estamos travando hoje.

Está aberto para fazer uma avaliação permanente das nossas lutas é importante para que consigamos avançar. Pois só conhecendo os nossos limites e procurando supera-los poderemos fazê-lo. Espero que este livro possa contribuir nessa tarefa.

Como também no intuito de disponibilizar mais um instrumento para formação e organização da classe trabalhadora do campo e da cidade para que fortaleçam suas lutas contra hegemônicas em especial em Goiás e no Tocantins.

Como bônus, fechamos o livro com o conto- Fazenda Liberdade em duas partes. Apesar de ser uma historia fictícia, o mesmo trata de uma questão infelizmente ainda muito presente no dia a dia do trabalhador rural brasileiro, em especial no norte. Que é o trabalho escravo.

Abraços com todo fervor revolucionário,

Pedro Ferreira Nunes

Lajeado – TO, 20 de abril de 2015.


Pauta conservadora na ALETO

O Conservadorismo parece ser a palavra da moda na conjuntura atual. Para nós tocantinenses não apenas pelas ações do presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha (PMDB), mas também pelas questões debatidas na assembleia legislativa do estado. Por tanto podemos afirmar que saímos do ultimo processo eleitoral não apenas com um congresso nacional mais conservador, como também com uma assembleia legislativa mais conservadora.

Nesse sentido não é de se admirar que a ALETO tenha rejeitado o requerimento do deputado Ricardo Aires (PSB) para que os deputados votassem uma moção solicitando que os parlamentares tocantinenses na esfera federal se posicionassem contrario a redução da maioridade penal no congresso nacional.

Por outro lado, dias antes os deputados estaduais haviam aprovado requerimento apresentado pelo deputado Eli Borges (PROS) para que a assembleia legislativa do Tocantins apresentasse uma moção de repudio ao beijo gay na novela das nove da rede globo.

Como se vê, quando a questão discutida é uma pauta conservadora não se tem nenhuma demora na sua tramitação e aprovação, já quando a pauta interessa aos movimentos sociais, rejeita-se categoricamente.

Infelizmente não si viu nenhum parlamentar propor uma moção de repudio a ação de despejo de centenas de famílias sem teto que dignamente lutam por moradia em Palmas. Também nenhum parlamentar seja da situação ou oposição (se é que existe) manifestou-se firmemente contra as ações do governo Marcelo Miranda que tem se negado a cumprir os acordos feitos com os sindicatos dos servidores no governo anterior, como por exemplo, os professores que fizeram greve heroica em 2014, mas que até o momento o que foi prometido não tem sido garantido, ao contrario, tem priorizado o aumento salarial de contratados e desprezado os servidores efetivos.

Os deputados estaduais também não apresentaram nenhuma moção de repudio contra o total abandono da saúde pública no Tocantins que esta em situação de calamidade. Marcelo Miranda que foi eleito tendo como uma, das principais bandeiras uma politica decente de saúde para o povo tocantinense, tem virado as costas para esta.

Já no caso do auxilio moradia para os deputados estaduais, aprovado por eles mesmos.  Nenhum deputado recusou-se a receber. Ao contrario, ignorou-se totalmente a manifestação da população que se colocou totalmente contra tal regalia. Em vez disso, criam-se mais regalias com a autorização para que os deputados possam contratar até 65 assessores.

O que tem feito os deputados estaduais tocantinenses?

Quais as questões pertinentes ao conjunto da sociedade tocantinense o parlamento estadual tem discutido ultimamente? Ora a principal pauta em discussão entre os deputados estaduais tem sido sobre as ações do governo anterior (Siqueira Campos/Sandoval Cardoso). Em especial a polemica sobre as progressões de policiais militares que agora estão sendo desfeitas pelo governo Marcelo Miranda (PMDB). Si foram validas ou não. Si foram legais ou não.

Ora, si os parlamentares estão de fato preocupado com as ações feitas no governo anterior por que não criam uma CPI para investigar os desvios da ultima gestão? O fato é que estes senhores não querem investigar nada, apenas fazer discursos, jogo de empurra, empurra. Precisam de um bode expiatório para que o governo atual possa justificar sua incompetência, sua inoperância. Dai diz que o estado passa por uma crise financeira, que o governo anterior fez o que não poderia ter feito e que por isso o atual governo não pode fazer nada. Nada não, o governo faz muita coisa, menos o que é realmente necessário. Si de fato o governo anterior fez o que não poderia ter feito, então cometeu crime, e se cometeu crime deve ser jugado e punido por isso. Mas pergunte o que os deputados estão fazendo para que isso aconteça. Nada, não estão fazendo nada.

Aliás, os deputados já estão com a cabeça em 2016, nas eleições municipais. E é exatamente por isso o principal motivo da troca de farpas entre deputados estaduais e os vereadores de Palmas. O debate, tanto do lado dos deputados que tem sua base na capital como dos vereadores não é pela melhoria de vida da população palmense, pois si fosse, em vez de estarem trocando farpas eles estariam trabalhando. Não, o objetivo é um só – fazer articulação politica para construção de candidaturas para as eleições de 2016.

Tanto é verdade que o debate não reflete uma preocupação com a população palmense, não é um debate de projetos diferentes para capital. É um debate que muitas vezes descamba para baixaria, inclusive com ameaças de agressões físicas como no caso da troca de farpas entre o vereador Major Negreiros (PP) com o deputado Wanderley Cardoso (SD).
 “Se o presente é de luta, o futuro nos pertence.”
Ernesto Che Guevara


Pedro Ferreira Nunes – educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.