Hoje mais um amigo
deixou a cidade rumo a capital, como tantos outros irá em busca de trabalho, em
busca de uma condição de vida melhor. Trabalho encontrará provavelmente na
construção civil, como tantos outros. Já uma condição de vida melhor não esta
garantido. Mas pelo menos não precisará ficar se humilhando no pé do gestor
público municipal por um cargo comissionado em algum canto da cidade ou
sobreviver fazendo bicos ou no rio pescando.
Eis a sina de quem mora
no interior do interior do Brasil, sair vagando pelo país em busca de trabalho
e uma condição de vida melhor. Já que isso lhes é negado em sua terra natal.
Todos os dias parte um, sobretudo os mais jovens, já que os mais velhos
cansados vão permanecendo por aqui. Alguns depois de um tempo retornam, outros
só vem à visita, mas há também os que nunca voltaram.
E assim a cidade vai
sendo mutilada, pois quando alguém parte é como se um pouco de nós também
partisse. As coisas vão se envelhecendo, o lugar vai se empobrecendo e o futuro
vai se perdendo. Sem o frescor e o entusiasmo da juventude perdemos a
capacidade de renovação, de transformação, de mudar essa triste sina que nos é
tão cara.
E o que mais nos deixa
triste é saber que tudo poderia ser diferente. Que se as riquezas da cidade,
que não são poucas, fossem utilizadas para o bem comum e não para privilegiar
uma pequena elite. Nosso povo não precisaria deixar o município em busca de
trabalho e uma vida melhor nos grandes centros urbanos do país.
No entanto enquanto as
riquezas que produzimos continuar sendo apropriada por uma pequena elite, e o
resto da população esperando pelas migalhas, esse suplício continuará. Como
também continuará a decadência da cidade. Decadência essa que interessa a essa
elite retrograda que há anos domina o local.
Nos entristece também o
fato de saber que enquanto continuarmos abandonando o município em vez de
permanecer aqui para lutar e mudar essa realidade, as coisas não mudaram. As
coisas continuaram sendo como sempre foram, pois a depender da elite que
controla o poder na cidade, as coisas permaneceram como sempre foram.
E assim as velhas e
futuras gerações de interioranos continuaram fadadas ao mesmo destino. Sair
vagando pelo país em busca de trabalho e uma condição de vida digna. Mas não demoraram
a perceber que a vida não é dura apenas no interior, ao contrario, na cidade
grande a exploração é ainda mais intensa. Ai alguns resolve
voltar, outros tantos já não tem mais animo.
Pedro
Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.
“Distante da terra
Tão seca mais boa
Exposto a garoa
A lama e o pau
Faz pena o
nortista
Tão forte, tão
bravo
Viver como
escravo
No norte e no
sul”
Patativa
do Assaré