As exposições
agropecuárias são um dos eventos culturais mais tradicionais do Tocantins. Em
um estado com uma cultura campesina forte e um agronegócio poderoso não poderia
ser diferente. As festas acontecem de norte a sul do estado especialmente no
período do verão tocantinense que vai de maio a agosto. Entre as principais
podemos destacar a de Araguaína, Gurupi, Palmas e Paraíso. Em Lajeado essa
tradição vem sendo estabelecida nos últimos anos com a realização da festa do Cowboy que em 2015 teve a sua segunda edição, como também nas pedreiras (zona
rural do município) que já está indo para sua quinta edição.
No entanto um espaço
que poderia servir para valorização da cultura camponesa, para o resgate de
nossas raízes culturais tornou-se um festival de machismo, homofobia e
distorção de nossa cultura – a começar pelo nome da festa, que está mais ligada
à cultura norte americana do que nossa. Assim em vez de festa do Cowboy é preferível que se chamasse festa do peão como antigamente. Se não bastasse tudo
isso virou também palanque para políticos fazerem campanha antecipada. Pelo
menos é isso que acontece na festa do Cowboy de Lajeado.
Sem muitas alternativas
culturais na cidade, sobretudo voltado para toda a família, a festa acaba sendo
um atrativo para a população que já esta cansada de mais das mesmas coisas que
são realizadas no município. No entanto muitos acabam se decepcionando com a
total falta de sensibilidade dos organizadores que estão mais preocupados com
os louros políticos que poderão ganhar na realização da festa do que em
propiciar para população uma alternativa cultural com o mínimo de qualidade e
que respeite a diversidade.
E ai os cidadãos que se
propõem a deixar suas casas para relaxar e se divertir da dura vida no interior
do interior do país, tem que aguentar um narrador com suas rimas machistas e homofóbicas além do papel execrável de puxa saco das autoridades de plantão.
Autoridades essas que do alto dos seus camarotes olha o povo com um ar de
superioridade e desprezo. Olha o povo apenas como coisas que podem ser
manipuladas ao seu bel prazer.
Uma das cenas que me
causaram náuseas foi o momento em que o narrador levou duas adolescentes para o
meio da arena para que dançassem sensualmente ao som de um funk em troca de uma
caixa de cerveja. Enquanto as garotas exibem seus corpos adolescentes para uma
plateia de machistas em troca de uma caixa de cerveja a plateia vai ao delírio.
E estes mesmos senhores que aparecem muitas vezes condenando a exploração
sexual de crianças e adolescentes indiretamente acaba promovendo-a.
As vaias – De quem é a
culpa? De quem vaia ou de quem é vaiado? Falta de educação ou protesto
legitimo?
Na primeira edição da festa
do Cowboy do Lajeado a prefeita Márcia Reis acabou levando uma vaia acachapante de toda a arena, uma cena de fato inesquecível, tão inesquecível que a prefeita
não quis por os pés na arena de rodeio este ano. Já nessa segunda edição foi à
vez do deputado estadual Valdemar Junior (PSD) que teve que abreviar seu
discurso com medo do burburinho que começava a se formar na arena.
Tanto no caso da
prefeita como no caso do deputado alguns falaram ser perseguição politica ou
pelo fato de que o povo é mal educado. Mas será mesmo? A culpa é quem vaia ou
de quem foi vaiado? É obvio que ninguém vaia simplesmente por que acha
divertido. Por que tem o prazer em constranger alguém. A vaia é uma forma de
alguém mostrar que esta descontente com outra. Que não esta gostando do rumo
que as coisas estão tomando. Que tal discurso não os agrada. E por tanto
ninguém é obrigado a aplaudir aquilo que não concorda. Por tanto a vaia e
outras manifestações de protesto são legítimos.
A população que ali foi
não fora convidada para participar de um comício politico, uma campanha
politica antecipada. Para o lançamento de uma chapa que concorrerá o pleito
eleitoral de 2016 em Lajeado. A população não foi para ver o narrador do rodeio
passar 30 minutos puxando o saco do pré-candidato a prefeitura de Lajeado Jaime
(PMDB) e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos. A população também não
foi para ver o narrador puxar o saco do secretario estadual da agricultura por
20 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 20 minutos. Como também a
população não foi para ouvir o narrador puxar o saco do deputado Valdemar
Junior por 30 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos.
Lembrando que havia ali
muitas crianças e idosos em um espaço desconfortável tendo que aturar toda essa
maçada. Ai alguns ainda tem coragem de dizer que o povo é sem educação? Ora o
povo teve paciência por demais. Esperamos que nas próximas edições (sem vierem
acontecer) os organizadores tenham o mínimo de sensibilidade e organizem uma
festa que de fato resgate as nossas raízes campesinas, respeite a diversidade e
as pessoas que ali vão em busca de um direito básico que é o acesso a cultura
de qualidade.
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