segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Crônica: E os muros invadem o interior.

Quem anda pelas ruas de alguma cidade do interior tocantinense dificilmente encontrará aquela famosa cena de pessoas sentadas na porta de suas casas conversando animadamente com os seus vizinhos a cerca de questões cotidianas. Infelizmente essa cena tornou-se algo raro de si ver pelo interior. As ruas da cidade estão vazias, enquanto as pessoas estão escondidas atrás de muros.

Isso mesmo –muros. Os muros tornou-se uma presença cada vez mais constante nas residências de cidades interioranas. O que era raríssimo há doze anos tornou-se comum. Os muros se propagam isolando as pessoas em suas residências privando-as do que o interior tem de melhor que é a convivência harmoniosa entre as pessoas e a paisagem exuberante.

Os muros são comuns em grandes cidades, especialmente nas capitais. Aonde as relações sociais são mínimas. Muitas vezes você passa um mês ou mais sem ver o seu vizinho do lado, sem trocar uma palavra com ele. Pois cada um esta preso em suas casas, em suas vidas – esquecessem-se de si relacionar com quem esta do seu lado. E agora tal realidade também esta chegando no interior.

Antigamente eram até comum as cercas de pau ou de arame farpado no interior. Esta, no entanto não isolava as pessoas. Era mais uma proteção para que animais não invadissem os quintais para comer a plantação. Aliás, as plantações de legumes, verduras e frutas são cada vez mais raras nos quintais, agora é o cimento que reina ou então o uso de veneno para matar os matos e que acaba matando também o solo.

Hoje em dia o muro tornou-se um objeto de desejo de todos aqueles que têm ou conseguem adquirir uma casa. O que mais ouvimos daqueles que ainda não construíram o seu muro é que não veem a hora de conseguir. Tal obsessão si dá pela busca de privacidade e segurança. Pelo menos é isso que dizem.

O fato é que não é se escondendo atrás de muros que estaremos mais protegidos. Si assim fosse os índices de criminalidade nas grandes cidades seriam mínimas. Outro fato é a questão da privacidade – ora, que privacidade quando nós mesmos publicizamos toda a nossa vida através das redes sociais?!

Aliás, as redes sociais é um muro bem mais perigoso do que o muro de concreto e de tijolos. As redes sociais cria um muro virtual dentro de nossas próprias casas, entre as pessoas que vivem sobre o mesmo teto. E assim, cada dia que se passa vamos ficando mais isolados e sozinhos. Pois nossas relações virtuais são apenas relações virtuais. No entanto as pessoas estão tão fechadas dentro de si que são incapazes de perceber que si tornaram escravas de um mundo de ilusões. Que estão presas em celas criadas por elas mesmas.

Mais ainda há tempo. Que os muros virtuais e reais possam cair. Que ao menos uma vez por semana possamos ocupar as calçadas em frente nossas casas – ascender uma fogueira, preparar um mate ou um cafezinho, picar aquele fumo de corda e conversar sobre as questões cotidianas da nossa cidade.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, Escritor e Educador Popular.

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