segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Fazenda liberdade II

- O que Miro? Não quero saber. Você já pensou a repercussão que terá este caso se estes trabalhadores conseguirem chegar à cidade e denunciar que estavam trabalhando em regime de escravidão na minha fazenda? Você sabe que pode ser cassado o meu mandato de senadora? Você não imagina o estrago que isso fará na minha imagem como palatina da ética, como defensora do homem do campo? E o meu projeto de ser governadora desse estado Miro? Você sabe muito bem que irá por água abaixo se essas denúncias vierem à tona. Mais não pense que eu me ferro sozinha, eu levo todos vocês comigo. Por tanto não quero saber como, mas resolva este problema, faça como você fez nos outros casos se preciso for. Ai na fazenda ainda há muita terra para se abrir covas para enterrar estes fujões.

- Pode deixar patroa, pode deixar que nós vamos resolver por aqui.

- Se precisar de reforço contrate mais jagunços. Mas resolva.

- Não precisa patroa, nós nos viramos com o que temos aqui. Quanto menos gente envolvida, melhor.

- Ok. Aguardo notícias e me mantenha informada.

Após tantos dias planejando como fugir daquela fazenda João, Raimundinho, Lazão, Neguim e Zezim haviam conseguido render e tomar as armas dos dois jagunços que ficavam os vigiando.

- O que a gente faz agora? A gente tenta chegar até a sede para pegar um carro para sair daqui? Pois para chegar até Miranorte caminhando demorara muito.

- Além do que devem de estão procurando pela gente.

- Vivo ou morto.

- É arriscado a gente tentar ir até a sede. Vamos caminhando até Miranorte se preciso for.

- Vocês viram aquelas covas. Deve ser de outros trabalhadores que morreram aqui. Se nos pegarem teremos o mesmo fim.

Enquanto isso a ordem de Miro para os jagunços da fazenda era uma só.

- Eles não podem sair vivos daqui. Tem muita coisa em jogo. Vocês sabem muito bem o que fazer, pois já fizeram isso muitas vezes. Por tanto vamos à caçada e divirtam-se.

Estava anoitecendo os amigos haviam caminhado o dia todo e nada de se depararem com uma viva alma. Não seria fácil sair daquela fazenda de repente um tiro seguido de um grito.

- Achamos eles, achamos eles.

Em seguida mais tiros. Agora dos dois lados.

- Vamos escondam-se. Gritou João para seus companheiros.

- O Zezim e o Neguim tão baleado. Vamos fugir, vamos fugir. Gritou Raimundinho desesperado.

Sem muita munição João e Lazão não conseguiram revidar por muito tempo os ataques dos jagunços. Se por um lado Zezim e Neguim estavam mortalmente feridos, do outro lado três jagunços também haviam tombado e foram obrigados a se retirarem deixando algumas armas para trás.

- E agora o que faremos? O Zezim e o Neguim estão mortos.

- Vamos ter que enterra-los aqui, não temos condições de leva-los. Mais eu prometo que nós vamos voltar para dar um enterro digno para eles e punir os responsáveis por isso.

- Eles deixaram algumas armas, vamos pega-las que nossas munições acabaram, pois com certeza eles viram atrás de nós agora com mais ódio ainda, pois matamos três deles.

- Você ouviu o que eles disseram. Que a senadora nos quer mortos. Essa fazenda é dela então.

- É verdade. Mas vamos resistir. Se a gente vai morrer que seja lutando. Gritou Lazão.

Durante a noite eles quase não conseguiram dormir, pois qualquer barulho que eles ouviam imaginava que poderia ser os jagunços sob o comando de Miro que estava chegando para mata-los.

- Precisamos continuar andando.

- Estão ouvindo este barulho. Deve ser os jagunços chegando vamos preparar uma emboscada?

- É preciso saber quanto eles são, pois dependendo do numero é suicídio só nós três encara-los.

- É melhor continuarmos a nossa marcha. Não temos condições de enfrenta-los, a não ser que tiverem divididos.

Já no final de mais um dia o combate era inevitável, pois os jagunços que há muito estavam no encalço de João, Raimundinho e Lazão havia os alcançados.
- Agora vocês não nos escapam.

E novamente começou o tiroteio.

- Não vamos desperdiçar balas, atira só se tiver certeza que vão acertar. Orientava João.

A peleja continuava e os amigos resistiam bravamente aos ataques dos jagunços. De repente Lazão é ferido, mas mesmo assim continua atirando.

- Aguenta Lazão, aguenta.

Do outro lado, dois jagunços já haviam sido tombados. Cada vez que um jagunço tentava avançar levava um tiro mortal. No local onde os amigos haviam se entrincheirados era muito difícil de conseguirem atingi-los, assim os jagunços ficaram incapazes de avançar sem si tornarem alvos fáceis.

- Cassete, esses caras tem o corpo fechado. Dizia Chicão para seus comparsas.

- Mais um. Vêm seus porcos, que vamos matar todos vocês. Gritava João eufórico.

Após perderem mais dois jagunços, a jagunçada teve que se retirar mais uma vez, pois a munição estava no fim. Enquanto haviam perdido quatro jagunços, todos os amigos escaparam com vida, apenas Lazão estava ferido de raspão no ombro.

O sol estava nascendo e ao longe Raimundinho conseguiu avistar uma torre telefônica. Todos se encheram de alegria, enfim sinal de civilização.

- Olha lá camaradas. É Miranorte. Conseguimos, conseguimos. Gritava Raimundinho.

- Calma, calma, vamos continuar marchando de forma cautelosa, pois eles devem está vindo com mais reforço.

- Estão ouvindo. É um carro. Será se são eles?

João foi olhar e percebeu que o carro vinha apenas com três pessoas, uma mulher e dois homens.

- Vamos tomar o carro, assim nós chegaremos a Miranorte mais depressa. Você dirige não é Raimundinho?

- Sim.

- Prepare as armas.

- Ei para se não a gente atira.

Para surpresa de João, Lazão e Raimundinho quem estava no carro era o Miro, o Chicão e a tal senadora.

- Calma, calma. Não atira, quanto vocês querem. Eu tenho muito dinheiro.

- O que a gente faz João? Levamos eles pra policia para que eles sejam presos?

- Vocês acham que eles serão presos? Que a justiça os jugará e os condenaram?

 Como ela disse, além de senadora tem muito dinheiro. É bem capaz de fazer todo mundo acreditar que nós é que somos os criminosos.

- Calma. Nós deixaremos vocês irem embora e não faremos nada com vocês. Falou Miro.

- Nós não acreditamos mais em sua palavra. Vamos fazer com esses vermes o mesmo que eles queriam fazer conosco.

- É isso ai, vamos fuzilar todos eles. Gritou Lazão.

E assim João, Lazão e Raimundinho descarregaram suas armas em Miro, Chicão e na Senadora. Por fim jogaram gasolina no carro e tocaram fogo com os corpos dentro.


- Vamos para casa camaradas, nossas famílias nos esperam. Estes vermes nunca mais escravizaram ninguém nesta terra.

Por Pedro Ferreira Nunes, do livro A morte do socialismo.

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