segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Por uma jornada de lutas de norte a sul do país para derrotar a PEC 215

“Doravante o Brasil já poderá, legalmente antropófago, comer terra de Índio emancipada.”: Já dizia Dom Pedro Casaldáliga no seu hai-kai da minuta da emancipação. E é nesse sentido que estamos caminhando com o processo ultraconservador no campo brasileiro. Refletido na recente aprovação em uma comissão especial da câmara dos deputados da famigerada PEC 215.

A aprovação da PEC 215 que passa para a câmara dos deputados a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas, em comissão especial, segue agora para o plenário, onde os ruralistas, com uma frente composta por mais de 200 parlamentares, não terá grandes dificuldades de aprova-la.

Essa é apenas mais uma medida, das varias aprovadas pelos ruralistas nos últimos anos com o apoio do governo federal, que faz parte do projeto de antirreforma agrária em curso no país. Após a estagnação na criação de novos assentamentos de famílias sem terra, o foco dos ruralistas agora, com a omissão do governo federal, são os territórios indígenas.

O deputado federal Nilson Leitão (PSDB) presidente da comissão especial que aprovou a PEC 215 tem razão quando afirma que nos últimos anos o governo federal, comandado por Dilma Rousseff (PT), não demarcou nenhum território indígena. E que, portanto, não é o fato de passar para as mãos do congresso nacional que o processo de demarcação será parado, pois já esta. No entanto o deputado tucano omite que a intenção dos ruralistas não é dá celeridade a demarcação dos territórios indígenas, mas enterrar o processo de vez. Pois será isso que acontecerá se a PEC 215 for aprovada pelo plenário da câmara dos deputados.

Fazendeiros terão que ser indenizados caso tenham que deixar terras indígenas onde ocupam ilegalmente

Esse absurdo é uma das varias emendas aprovadas na comissão especial da câmara dos deputados que aprovou a PEC 215. Ora, com isso, os deputados não estão apenas anistiando os crimes cometidos por ruralistas contra os povos indígenas, como também, estão premiando com dinheiro público a aqueles que ilegalmente usurpam terras que não lhes pertencem.

Tal proposta é também um incentivo para que a invasão de terras indígenas por fazendeiros continue, pois se algum dia, algum dia! Vierem a ser retirados dessas áreas terão que ser indenizados. É inacreditável que tal proposta seja apresentada e aprovada – indenizar pessoas que cometem crime e penalizar as verdadeiras vítimas que passam anos sem ter o direito sagrado aos seus territórios? Não dá para acreditar.

A justificativa para tal absurdo, segundo o senhor Nilson Leitão (PSDB), um dos representantes da corja latifundiária do Mato Grosso que diariamente agride os povos indígenas, é dá segurança jurídica aos fazendeiros. Mas na verdade o que se está querendo fazer é dar garantia total de anistia para que os ruralistas continuem fazendo valer a lei da bala no campo brasileiro, especialmente no Mato Grosso.

Por uma jornada de lutas contra a aprovação da PEC 215

Os povos indígenas estão mobilizados e entrincheirados na defesa dos seus territórios – em marchas, ocupações e bloqueio de rodovias. E por sua ousadia vem sofrendo forte violência – muitos dos seus lideres foram assassinados e outros tantos estão marcados para morrer. Até quando as organizações da classe trabalhadora se silenciaram diante de tal absurdo?

A defesa dos territórios indígenas tem que ser incorporada urgentemente na ordem do dia das manifestações das organizações populares da cidade e do campo. E, por conseguinte, a luta contra a PEC 215. A tarefa de barrar o avanço do processo de antirreforma agrária e do projeto ultraconservador que avança a passos largos no campo brasileiro é do movimento operário, camponês e estudantil desse país. Precisamos avançar para construção de uma greve geral no Brasil, incluindo a pauta dos povos do campo, das águas e da floresta já.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

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