O
ônibus seguia cortando pela estrada noite adentro. Cansados de mais
um dia de aula na faculdade, deixávamos á capital rumo à pequena
cidade de Lajeado. Onde mal víamos a hora de chegar em nossas casas
para descansarmos de mais um dia de batalha. Apesar da rotina não
deixo de me encantar diariamente com a paisagem que nos rodeia
especialmente a paisagem noturna.
Da
janela do ônibus observo o belíssimo luar refletindo seu brilho
intenso nas águas do lago. Um vento frio entra pela janela, sinto
algo diferente no ar. Um cheiro, um cheiro que não me é estranho –
vindo do rio. Aquela paisagem, aquele luar, aquele cheiro no ar me
tele transportou para o passado. Sim, eu podia jurar que estava
sentindo o cheiro de um mandi moela assado. Ah, quantos anos que não
sentia aquele cheiro.
Lembrei-me
de quando criança, de quando seguíamos rio acima de canoa para
acamparmos nos “mares”, acompanhando os cardumes de mandi moela.
Levávamos apenas a farinha de puba e o tempero caseiro de minha mãe.
Chegando lá corríamos atrás da lenha, acendíamos uma fogueira e
íamos pescar. Não demorava de pegar um mandi moela e mais do que
depressa limpávamos o peixe, temperávamos e colocávamos para
assar. E de repente aquele cheiro saboroso de mandi moela assando na
brasa tomava conta do ar.
Ah,
quanto tempo que não sentia aquele cheiro. Quanto tempo que eu não
vejo um mandi moela. Já se vão mais de dez anos desde que se
construiu a usina hidrelétrica na cachoeira do Lajeado e desde então
os cardumes de mandi moela desapareceram. Como também desapareceu a
cachoeira dos “marés”, submersa pelo lago da usina. Aquele lago
que observo agora da janela do ônibus enquanto voltou da faculdade
para casa.
Tento
em vão identificar pelo caminho onde era “os mares”. Mas é
impossível a água tomou conta de tudo. E aquele cheiro tão gostoso
de mandi moela de onde vinha? Vinha da minha memoria. E aquele luar
que eu observava da janela do ônibus e que era o mesmo luar que eu
contemplava quando criança deitado ao pé da fogueira enquanto
esperava o mandi moela assar, me fazia recordar desse tempo distante.
Pedro
Ferreira Nunes é poeta popular e escritor tocantinense.
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