Hilton
Japiassu
O
maranhense de Carolina Hilton Japiassu, professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), licenciado em filosofia pela PUC/RJ, com mestrado e
doutorado em Grenoble na França. E com estudos avançados na área de
epistemologia em Estrasburgo também na França. Dedica-se desde 1968 ao estudo
da epistemologia área na qual é uma autoridade reconhecida internacionalmente.
Influenciado por Jean Piaget e Barchelard. Já escreveu diversos livros, entre
eles: Nascimento e Morte das Ciências Humanas, Introdução ao Pensamento
Epistemológico, Introdução a Ciências Humanas, Um Desafio da Filosofia,
Interdisciplinaridade e patologia do saber entre outros.
Em
“Nem tudo é relativo – A questão da verdade”, Hilton Japiassu tece uma critica
veemente ao relativismo e os defensores de tal teoria que tem crescido
vertiginosamente no último período. Especialmente, após a década de 1970 com a
derrocada das ideias de esquerda e a consolidação da hegemonia neoliberal.
Com
uma linguagem objetiva e clara, uma defesa apaixonante das ciências, do
universalismo e da razão, claro, sem deixar de apontar alguns problemas que
deve ser superado pelo conhecimento científico, especialmente o ocidental.
Japiassu denuncia o risco do pensamento relativista e o dogmatismo a que isso
pode nos levar. Sem abrir mão da polêmica e de uma critica consciente e
consequente, aliás, o que segundo ele deve ser o papel de todo intelectual – não aceitar a naturalização das coisas,
pois se não acabamos nos tornando justificadores da ordem estabelecida e nos
somando aqueles que querem enterrar os conflitos sociais e politico – o que
caracteriza a conjuntura atual. Partindo dai Japiassu faz uma forte critica a
sociedade atual marcada por um conformismo generalizado e por sujeitos passivos
(teleconsumidores). Como também por uma arte modernista de museu, que cultua o vazio politico e onde “os
filósofos de televisão” buscam dá sentido ao insignificante.
Em
Nem tudo é relativo – A questão da Verdade. Japiassu também irá abordar a
disputa entre racionalistas e relativistas, apontando as contradições do
discurso de ambos. Pois mesmo sendo um defensor do racionalismo Japiassu não
deixa de reconhecer alguns problemas que devem ser superados por esse
pensamento. No entanto é no relativismo, como aponta o próprio nome do seu
livro, que ele descarrega sua metralhadora giratória de criticas.
No
primeiro capitulo do livro Hilton Japiassu mostra a onda relativista
identificada como o pensamento pós-moderno – que se caracteriza pela negação da
universalidade, da ciência com um conhecimento universalmente valido, e a
verdade sendo reduzida ao que se ajusta ao dado sistema de crenças. Segundo o pensamento
relativista nem a lógica nem a evidência desempenham um papel importante na
construção do conhecimento. Dai que para Japiassu o relativismo deve ser entendido como determinismo social. O autor
aponta que até 1970 a critica dos relativistas era em cima da ideologia
dominante, dai para frente voltou-se para ciências. E dai surge a posição
relativista de que a universalidade das ciências é uma ilusão – o que Japiassu
vai refutar com veemência – questionando a questão da neutralidade absoluta, da
negação da razão, e da ditadura da razão.
Japiassu alerta os riscos tanto do relativismo positivista baseado na
tradição de Augusto Comte como do relativismo perspectivista dos
Nietzchenianos, aliás, o relativismo perspectivista acaba desembocando no niilismo.
Dai que para Japiassu não dá para pegar o pensamento relativista totalmente
como verdadeiro, especialmente o que afirma que a ciências deve ser considerada
como um conto de fadas.
Hilton
Japiassu não faz uma defesa cega das ciências. Muito pelo contrario, ele aponta
com clareza os seus limites. No entanto para ele só pode haver ciência racional
e só pode haver razão universal – o que confronta com as afirmações
relativistas.
No
segundo capitulo do livro “Nem tudo é relativo – a questão da verdade”. Hilton
Japiassu vai abordar “o relativismo em questão”. Onde ele começa reconhecendo o
fato de que o pensamento relativista nos ajuda a romper com o velho
racionalismo. O qual ele ver como um problema para a busca da verdade. Japiassu
afirma que não há como relativizar a razão sem racionalizar a relatividade.
Logo para ele falta ao relativismo um pouco mais de ceticismo. Partindo desse
pressuposto Japiassu vai apontar oito pontos que deve ser pensados para
superarmos tanto o relativismo como o velho racionalismo;
1- O
risco do cientificismo que busca converter a ciência numa religião;
2- A
racionalidade cientifica precisa se tornar critica e autocritica;
3- A
necessidade de confrontar-se com outras culturas;
4- Superar
a ideia de que o racionalismo ocidental é o racionalismo universal;
5- A
necessidade de superar o relativismo cultural;
6- Afirmar
o relativismo como uma teoria intolerante;
7- Não
aceitar e fazer a critica ao etnocentrismo;
8- Ao
negar o eurocentrismo e o etnocentrismo tomar cuidado para não cair no
relativismo irracionalista.
Em
Nem tudo é relativo – A questão da verdade. Japiassu abordará a necessidade de
se fazer uma critica consciente e bem fundamentada. Não se pode rejeitar, mas
também não se pode aceitar tudo. É preciso ter autocritica. Nesse sentido
Japiassu vai concluir seu livro descarregando uma artilharia de critica ao relativismo quando este tem por
fim cair no ceticismo, que acaba por rotular erroneamente as diferenças entre
ocidente e oriente e acaba caminhando para o irracionalismo – um caminho
que pode levar a justificação de dogmatismos. Para Japiassu não dá para aceitar
a fabula de uma sociedade sem conflitos defendida pelos relativistas. O autor
de Nem tudo é relativo – a questão da verdade deixa claro que sem criticas a
sociedade não evolui. Para os relativistas, segundo Japiassu, numa sociedade não há espaço para
contestadores, logo pode se afirmar que os relativistas são conformistas, e os
indivíduos em tal sociedade são privatizados. O que é contestado com
veemência pelo autor. Por fim para
Japiassu não é aceitável a negação da universalidade pelos relativistas. Pois é
fato que algumas coisas nos transcendem independente de nossas crenças e
cultura. Logo para ele a aceitação do
universal esta na afirmação do que o outro não nos é estranho logo é possível à
comunicação.
Podemos
classificar o livro Nem tudo é relativo – a questão da verdade, de Hilton
Japiassu como um manifesto, uma apaixonante defesa da razão, da racionalidade,
da ciência e do conhecimento cientifico. É um livro corajoso, que não tem medo
de criticar, de polemizar, de buscar dialogo sem abrir mão de suas posições,
que, diga-se de passagem, estão bem fundamentadas. Tal obra precisa ser
reverenciada especialmente em um período onde aqueles que ousam levantar a voz
contra a ordem estabelecida, contra o status cos são simbolicamente
violentados. Diante da exposição empolgante de Hilton Japiassu em Nem tudo é
relativo – a questão da verdade. Devemos nos perguntar a que serve tal teoria?
Uma teoria que rejeita a critica, os conflitos sociais e prega a existência de
uma sociedade perfeita. Que privatiza o individuo e nega completamente o
conhecimento cientifico. Não neguemos algumas contribuições desse pensamento
pós-moderno, mas não nos deixemos enganar – nem tudo é relativo.
Esse
debate colocado por Hilton Japiassu neste livro deve ser travado, não só no
âmbito da academia, mas na sociedade como um todo. Aliás, é um erro que vem
sendo cometido no ultimo período pelos intelectuais, não transpor os debates
para além dos muros da universidade, a forma acessível da escrita de Japiassu
contribui para que mais pessoas tenham acesso a esta discussão. E no período de
crise que vivemos é fundamental travarmos tal debate.
“Uma
vida sem interrogação e sem paixão não merece ser vivida” – essa frase
emblemática escrita por Japiassu na introdução do seu livro fala por si mesma.
Mesmo em uma conjuntura difícil, onde a mediocridade permeia todos os campos da
sociedade – seja na politica, na economia, na cultura. Não podemos abrir mão de
exercer o nosso papel de questionar, de criticar, de subverter a ordem
estabelecida. Pois como escreveu o grande poeta alemão Bertold Brecht – não
aceiteis o que é de habito como natural, pois nada é impossível de mudar.
Pedro
Ferreira Nunes – Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins
Referência
Bibliográfica
JAPIASSU,
HILTON. Nem Tudo é Relativo – A Questão da Verdade – São Paulo:
Editora Letras & Letras, 2000.
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