Foi
essa questão que me veio na cabeça quando vi a noticia. Logo pensei
comigo – não pode ser algo sério. Qual o político tocantinense
em sana consciência tem coragem de defender um absurdo desses? Tudo
bem que não dá para esperar coisa muito diferente de figuras como o
deputado federal Carlos Gaguim (Podemos) e companhia limitada. Mas um
projeto de transposição das águas do Rio Tocantins no atual
contexto histórico de escassez de água tanto do Rio Tocantins como
de seus afluentes é algo que chega a ser um ultraje à população
tocantinense.
Mas
o projeto existe e avança no congresso nacional. De acordo com o
site de noticias Conexão Tocantins “pronto para ser posto em pauta
na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara
dos Deputados”. O autor do projeto de lei é o deputado federal
Gonzaga Patriota (PSB) de Pernambuco. O relator do projeto também é
de Pernambuco – o deputado federal Tadeu Alencar (PSB). Que também
é favorável ao projeto. Ainda de acordo com o Conexão Tocantins “o
projeto de lei nº 6569/13 prevê a inclusão no Plano Nacional de
Viação, da Interligação entre o Rio Tocantins e o Rio Preto,
localizado no oeste da Bahia e que faz parte da bacia hidrográfica
do Rio São Francisco, com o proposito de assegurar a navegação
desde o Rio São Francisco até o Rio Amazonas”.
Além
do fato do projeto de transposição do Rio Tocantins ser proposto
por um deputado pernambucano outra questão que me chamou atenção
foi de que se trata de um projeto antigo apresentado pela primeira
vez ainda no ano de 1990 e reapresentado em 2013. Ora o contexto no
qual o projeto foi pensado é totalmente diferente do contexto atual
– a realidade do rio Tocantins hoje é totalmente diferente do que
há 27 anos. Há 27 anos não existiam as usinas hidrelétricas que
hoje existem no rio, e, diga-se de passagem, há projetos para
construção de mais hidrelétricas no rio Tocantins e nos seus
afluentes. Como por exemplo, a usina Monte Santo no rio do Sono. Além
dos projetos de irrigação e do avanço do agronegócio que consume
um grande volume de água.
A
seca no rio Tocantins e nos seus afluentes é cada ano mais severa.
Um exemplo claro foi à suspensão da travessia de balsa entre
Miracema e Tocantinia, pois com o rio muito seco, a balsa não
conseguia fazer a travessia sem encalhar. Outro exemplo foi à
suspensão pelo Naturatins de captação de água em rios com vazão
comprometida. Os exemplos não são poucos. De modo que fica o
convite para os defensores do projeto visitar o Rio Tocantins,
conversar com a população que vive nas margens do rio e ver a
realidade com seus próprios olhos. E não a partir da propaganda que
o agronegócio e o hidronegócio faz dos recursos naturais do Estado
em busca de financiamento para sua expansão.
Por
fim não tem como não ficar perplexo e ao mesmo tempo indignado com
o fato de que um projeto dessa magnitude esteja avançando á revelia
da população tocantinense. Como falamos anteriormente trata-se de
um ultraje. Ultraje que não devemos aceitar calados e pacificamente.
O Rio Tocantins é um patrimônio do povo tocantinense e não podemos
aceitar que aqueles que não conhecessem a realidade que enfrentamos
no dia a dia venham dizer o que se deve ou não fazer com esse
patrimônio.
Pedro
Ferreira Nunes – é Educador Popular e militante do Coletivo José
Porfírio.
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